Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

No rumo do Oriente

ARMAZÉM LITERÁRIO

Autores, idéias e tudo o que cabe num livro

VIAGEM

Marcelo Abreu

De Londres a Kathmandu – aventuras na estrada do Oriente, de Marcelo Abreu, Editora Record, 179 pp. (encarte de fotos em 16 pp. ) Preço: R$ 25,00. <www.editorarecord.com.br>

Conta-se no Rio de Janeiro a história de uma editora de telejornal que há poucos anos repetia para sua equipe:

– Não me falem de Timor Leste. O brasileiro não sabe onde fica isso e eu não quero nem ouvir sugestões sobre matérias do Timor.

Eu estaria em maus lençóis se trabalhasse com ela, já que decidi dedicar um livro inteiro a histórias de um mundo muito pouco conhecido dos brasileiros. De Londres a Kathmandu é propositalmente feito para fugir do circuito Elisabeth Arden, da obsessão brasileira com o que ocorre apenas e tão-somente nos Estados Unidos e na Europa.

Na companhia de um motorista neozelandês e de sua assistente sueca, percorri num caminhão, durante três meses, as estradas que ligam a Europa a Kathmandu, capital do reino do Nepal. Passamos por 12 países e fomos a lugares tradicionalmente fechados a jornalistas, como a Síria e o Irã. O objetivo era recorrer a antiga trilha hippie dos anos 60 e 70, cujo fluxo de andarilhos e viajantes interrompeu-se devido a guerras e crises políticas nos países que ficam no meio do caminho.

Fiz a viagem com o objetivo de não tirar os pés do chão. Nos quase 20 mil quilômetros de estradas procurei conhecer e desvendar para o leitor uma série de informações importantes sobre os lugares, além de desmistificar clichês a respeito da região.

Encarei o livro como uma libertação das pautas preconceituosas e da visão egocêntrica que permeiam a cobertura da imprensa brasileira. Como "vender" a um editor uma história sobre uma cidade de barro no Irã, que sobrevive intacta há séculos? Ou despertar o interesse dele para os conflitos tribais no Paquistão? Interessaria a alguma publicação uma matéria sobre as tensões entre castas na Índia? São assuntos que raramente aparecem na imprensa brasileira ou mesmo na grande imprensa internacional. Os pequenos dramas do cotidiano de países periféricos fogem dos interesses estratégicos dos participantes do grande jogo político internacional e, portanto, ficam distante das coberturas.

Escrever o livro foi uma forma de me libertar da tirania do espaço limitado. Detive-me nos assuntos que julguei adequados a leitores dispostos a alargar horizontes. O livro pode ser lido como uma extensa reportagem, escrita na primeira pessoa, sobre povos, costumes, estradas e viajantes. E sobre a diversidade cultural do Oriente.

(*) Jornalista, pós-graduado pela Universidade de Maryland (EUA) com passagens pela BBC, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo". E-mail: mabreu@hotlink.com.br

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