Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nora Boustany

COBERTURA DE GUERRA

"Imprensa árabe volta-se contra Bin Laden", copyright O Globo / Washington Post, 25/11/01

"Uma charge esta semana mostrou o terrorista fugitivo saudita Osama bin Laden dentro de uma caverna, ?em algum lugar do Afeganistão?, usando uma flauta para encantar uma nuvem em forma de cogumelo saindo de um cesto, enquanto a serpente se encolhia apavorada. A charge representou um dos primeiros alarmes na mídia oficial do Egito e da Arábia Saudita sobre o apoio fervoroso que Bin Laden atrai.

A charge do libanês Mahmoud Kahil, publicada no diário saudita ?Arab News?, e um artigo de opinião do jornal semi-oficial ?Al-Ahram? marcam uma atrasada reação à ameaça apresentada pelos extremistas islâmicos e um esforço de acadêmicos muçulmanos de estabelecer a distância correta entre sua religião e o terrorismo.

O artigo do ?Al-Ahram?, escrito pelo professor de direito penal Luka Bibawi, citava passagens extensas do Alcorão pregando tolerância religiosa e proibindo ataques contra não-muçulmanos inocentes, classificando-os de ataques contra o profeta Maomé e contra Deus.

Numa série de editoriais na imprensa árabe tem havido um esforço claro para desacreditar Bin Laden em termos religiosos e jogar luz em suas atividades criminosas, suas aspirações políticas e pretensões de piedade. As delicadas regras islâmicas sobre quem tem direito de estabelecer decretos religiosos foram explicitadas para os leitores, indicando que Bin Laden e seus associados não têm a autoridade teológica que reivindicam."

 

"A Pollyanna da mídia", copyright Jornal do Brasil, 24/11/01

"Não há calamidade ou guerra que destrua o jeito Pollyanna de ser da jornalista americana Judy Rodgers, veterana da rede americana CBS/Fox. Para quem não leu o livro infantil, Pollyanna conta a vida dura de uma menina pobre que insiste em ver um lado bom nas agruras por que passa. Como a personagem, Judy – profissional com mais de 20 anos de estrada – acredita no potencial da imprensa de dar boas notícias mesmo em tempos de guerra como a do Afeganistão. De que maneira? Mostrando os atos de bravura e de coragem que acontecem no campo de batalha. ?Se não contarmos o lado bom, não estamos reportando toda a verdade?, acredita.

Fundadora da ONG Imagens e Vozes de Esperança, Judy se dedica há dois anos a divulgar suas idéias pelo mundo. Hoje, no Hotel Carlton Rio Atlântica, em Copacabana, onde dará uma palestra, é a vez de os brasileiros descobrirem por que ela é tão crédula. Mas que ninguém a chame de ingênua. ?Não quero dizer que a mídia não tenha que noticiar calamidades. Convivemos com elas. Mas existe um impulso humano para fazer o bem?, afirma. Um exemplo, diz, foi a cobertura do 11 de setembro nos Estados Unidos. ?Havia milhares de pessoas fazendo fila para doar sangue. Eles foram mandados para casa, mas queriam ajudar?, conta.

Solidariedade – Eis o potencial positivo do atentado contra as Torres Gêmeas, que, segundo ela, foi bem abordado pela mídia americana, decidida a não mostrar corpos de pessoas caindo dos prédios em chamas no dia da tragédia. Em vez disso, o noticiário se centrou nos bombeiros-heróis e na solidariedade dos nova-iorquinos.

No caso da operação Liberdade Duradoura, Judy crê que se pode encontrar uma maneira positiva de explorar o assunto. A chave é balancear o noticiário. ?Há outras coisas acontecendo no mundo além da guerra. Fora isso, o que estamos fazendo para mostrar os atos de humanidade que acontecem no meio do conflito?? Um exemplo do equilíbrio na cobertura seria publicar, ao lado das notícias sobre mortes e bombardeios, reportagens que carreguem sementes de esperança: um cinema que reabre, mulheres sem burca, gente comemorando a liberdade.

Notícias boas podem atrair tanta atenção e ser tão vendáveis quanto as ruins, afirma Judy. O mundo não seria o mesmo sem Pollyannas como ela."

 

"TV muda grade no mês sagrado", copyright Folha de S. Paulo, 25/11/01

"O Ramadã mudou a grade de programação da Foz TV, emissora de TV a cabo com 10 mil assinantes em Foz do Iguaçu, na região da tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai). A emissora se adaptou ao horário do término diário do jejum para exibir as orações do xeque Taleb Jomaa.

Diariamente, desde o início do Ramadã, a Foz TV transmite 15 minutos de orações. A oração final, que precede o fim do jejum diário, tem de coincidir com o pôr-do-sol. Na região, a oração final, lida pelo xeque Jomaa, foi ao ar no primeiro dia do Ramadã com final às 20h11. ?Precisamos ir mudando gradativamente a grade de programação para o horário coincidir?, afirmou Edson Stumpf, diretor-geral da Foz TV.

Os 15 minutos diários servem como parâmetro para que os fiéis se alimentem após o pôr-do-sol. As orações são feitas em árabe com legendas em português. O programa funciona como chamamento para que, após as refeições, os muçulmanos se dirijam às mesquitas da região para orar."