SOB FOGO CERRADO
Luiz Antonio Magalhães
Primeiro foi a revista Época (edição 146, 5/3/01). Uma página inteira sobre uma suposta "angústia" do senador petista e marido da prefeita de São Paulo, Eduardo Suplicy, por causa da falta de apoio de seus correligionários à candidatura presidencial, de um lado, e de desavenças conjugais, de outro. Jornalismo da pior qualidade, marrom disfarçado, como bem anotou Alberto Dines [veja remissão abaixo].
Na semana passada, foi a vez da revista Veja (edição 1.692, 21/3/01), ou melhor, da popular Vejinha SP atacar o senador-candidato. O suplemento do semanário da Editora Abril publicou uma reportagem sobre as sessões de psicodrama que a prefeitura de São Paulo está começando a promover com o tema "Ética e Cidadania".
A iniciativa de Marta Suplicy é ironizada de maneira sutil, mas firme, na reportagem da Vejinha. Sobre a utilidade do projeto, por exemplo, a revista publicou o seguinte: "Na pior das hipóteses, pode-se sair aliviado, depois de encher de murros a almofada: ?Esta é pelo trânsito! Esta é pelo trombadinha que me assaltou anteontem. E esta aqui é pelo meu pneu que furou no buraco!?"
Evidentemente, a Abril tem todo o direito de achar que o psicodrama coletivo de Marta é um projeto inócuo ou um factóide. Seria melhor, porém, discutir a questão de forma séria: provavelmente há psicólogos que discordam da iniciativa e que poderiam ser ouvidos.
De toda maneira, o ataque enviesado aos psicodramas não é o problema mais grave. De lascar, mesmo, é o ataque ao senador, que no fundo nada tem a ver com a questão. O título da reportagem é "Em busca do eixo", em uma óbvia referência a um episódio ocorrido durante a campanha de Eduardo Suplicy à prefeitura São Paulo, em 1985. A alusão do título fica explícita no texto: "Por alguns meses, há uns vinte anos, seu marido, o senador Eduardo Suplicy, fez parte de um grupo. ?É uma maneira formidável de compreender melhor o próximo?, diz ele, que em 1985 afirmou que estava à procura de seu eixo quando abandonou por uns dias a campanha para a prefeitura. ?Gostaria muito de participar desse evento, mas estarei em Brasília no dia.?"
Desde que anunciou a sua disposição em ser o candidato do PT à presidência da República em 2002, o senador vem recebendo da imprensa um tratamento francamente hostil. Se isto estivesse acontecendo no plano político ? críticas às práticas e teses defendidas por Suplicy ?, seria apenas um sinal de que a mídia brasileira continua onde sempre esteve: do lado do governo, do status quo.
A campanha contra o senador petista, no entanto, vem ocorrendo por meio de estocadas pessoais de baixíssimo nível. De duas uma: ou a imprensa não está conseguindo achar argumentos no plano político para atacá-lo ? o que é pouco provável ?, ou temos uma sinalização clara de que o jogo em 2002 vai ser muito mais pesado do que se imagina. Que o PT ? com Suplicy, Lula ou qualquer outro como candidato ? se prepare. Parece que vem pedrada pela frente.
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