ASSASSINATO DO FOTÓGRAFO
“Nota oficial”, copyright Época Online, 24/7/03
“No berço do novo sindicalismo brasileiro, o ABC paulista, a imprensa sempre esteve a postos para cobrir todo o tipo de manifestação social ? de greves a paralisações, de passeatas a invasões de terrenos. Ao cobrir estas manifestações, os jornalistas enfrentaram todo o tipo de adversidade, incluindo a violência física.
Nesta quarta-feira, infelizmente, um jornalista foi vítima de uma truculência sem precedentes.
O repórter fotográfico Luiz Antônio da Costa, a serviço de Época, foi morto a tiros, em frente a um terreno invadido em São Bernardo do Campo. La Costa, como era conhecido pelos amigos, 36 anos, foi fotógrafo de Época durante 5 anos. Recentemente, colaborava esporadicamente com a revista, pois desejava seguir a carreira de free-lancer. Deixa esposa, Luciana, e dois filhos.
Por obra do destino, foi escalado para fazer essa reportagem fotográfica e acabou assassinado. Ainda não sabemos se o tiro partiu de um assaltante ou de um segurança do movimento ? versões que estão sendo investigadas pela Polícia. Época irá às últimas conseqüências para apurar o que aconteceu e repudia veementemente esta violência gratuita.”
“A Federação Nacional dos Jornalistas lamenta profundamente a morte do jornalista Luis Antônio da Costa, conhecido como La Costa, repórter-fotográfico free-lance da revista Época, ocorrido nesta quarta-feira, 23 de julho, durante a cobertura jornalística da invasão de um terreno por trabalhadores sem-teto na cidade de São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo.
A Fenaj se soma ao apelo do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, no sentido de que as autoridades policiais prontamente identifiquem e prendam o responsável pelo bárbaro crime, que, ao que tudo indica e acreditamos, não tem nenhuma relação com o movimento social dos sem-teto. A identificação e prisão do responsável sem dúvida alguma será facilitada graças às imagens feitas no local por um outro repórter-fotográfico, colega de La Costa, que conseguiu registrar uma pessoa empunhando um revólver e fugindo logo após o disparo.
É totalmente inaceitável que o assassinato de Luis Antônio da Costa não seja esclarecido e que o autor fique impune.
À família de Luis Antônio da Costa, a Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas expressa toda a sua solidariedade. Brasília, 24 de julho de 2003.”
“A Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamenta com profundo pesar o assassinato do repórter-fotográfico Luiz Antônio da Costa, morto a tiros ontem, em São Bernardo do Campo, estado de São Paulo, quando, a serviço da revista Época, estava no exercício da profissão fazendo a cobertura de invasão de um terreno particular.
Repudiamos com veemência esse crime não só porque fez mais uma vítima no meio jornalístico, mas também porque a brutalidade atingiu a sociedade brasileira ao ferir de morte um profissional que cumpria a sua missão de informar.
Apelamos aos Poderes Públicos que restabeleçam, com a urgência que a gravidade dos fatos exige, o Estado democrático de direito regulado por uma Constituição Federal que garante aos indivíduos e à coletividade que a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade são invioláveis, assim como estabelece como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Brasília, 24 de julho de 2003. Francisco Mesquita Neto, Presidente da ANJ.”
“Em carta enviada a Luiz Inácio Lula da Silva, Robert Ménard, secretário-geral de Repórteres sem Fronteiras (RFS), ressalta que Luiz Antonio Costa é o quarto jornalista assassinado em menos de dois meses no Brasil, depois de Nicanor Linhares Batista, Edgar Ribeiro Pereira de Oliveira e Melyssa Martins Correia. Ménard pede que o presidente brasileiro ?redobre os esforços para que sejam efetuadas investigações exaustivas sobre os assassinatos, a fim de elucidar esses crimes e punir os responsáveis?. A organização pediu igualmente para ser informada sobre os resultados dos inquéritos. Nos quatro casos, subsiste a hipótese de que esses profissionais teriam sido assassinados em razão de suas atividades jornalísticas.
Repórteres sem Fronteiras lança apelo ao presidente Lula para implementar uma reforma do Poder Judiciário, a fim de que as investigações sobre os assassinatos de jornalistas sejam doravante confiadas à Polícia Federal, e não à Polícia Civil, que trabalha em plano local. ?O objetivo é fazer com que os inquéritos não fiquem sujeitos a pressões locais, pois a Polícia Civil depende de políticos que, por vezes, podem estar envolvidos nos assassinatos?, explica a organização.
No dia 23 de julho de 2003, Luiz Antônio Costa, fotógrafo freelancer, foi baleado quando realizava uma reportagem para a revista Época sobre a ocupação de um terreno pertencente à Volkswagen pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, em São Bernardo do Campo (estado de São Paulo). O jornalista não resistiu aos ferimentos e morreu durante o trajeto para o hospital. O autor do tiro fugiu em direção às instalações dos sem-teto.
O jornal Folha de S. Paulo noticiou as declarações de André Porto, fotógrafo do jornal Agora São Paulo, presente no local. Segundo ele, o assassino teria tentado roubar o equipamento de Luiz Antônio Costa e teria disparado quando o jornalista tentava se defender. A testemunha conseguiu fotografar a cena. Segundo a revista Época, a polícia ainda não definiu se o assassino era da segurança dos sem-teto ou um assaltante. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto divulgou comunicado lamentando a morte do jornalista e ressaltando ser ?um grupo pacífico que repudia a violência?.
Dois suspeitos detidos pela polícia foram liberados por não terem sido reconhecidos pelas testemunhas.
Três outros jornalistas foram assassinados desde 1? de janeiro de 2003.
** No dia 30 de junho de 2003, Nicanor Linhares Batista, proprietário da Rádio Vale do Jaguaribe, de Limoeiro do Norte (Ceará), foi assassinado por dois desconhecidos durante a gravação de seu programa Encontro político. Os assassinos fugiram imediatamente. O jornalista era conhecido pelo tom polêmico de seu famoso programa, durante o qual denunciava regularmente autoridades políticas e a administração pública local. Segundo parentes e amigos, Nicanor Linhares Batista havia recebido numerosas ameaças de morte.
Interrogado por Repórteres sem Fronteiras, um representante da polícia declarou que se tratava muito provavelmente de um crime ?encomendado?, de natureza política. Jornalistas da região suspeitam, no entanto, que Nicanor Linhares Batista tenha recebido dinheiro de políticos para divulgar ou calar informações.
** Três semanas antes, no dia 9 de junho, Edgar Ribeiro Pereira de Oliveira, proprietário do jornal semanário Boca do Povo, foi assassinado em Campo Grande (Mato Grosso do Sul). Desconhecidos atiraram no jornalista no momento em que acompanhava a sua casa uma funcionária do jornal.
O semanário publicava regularmente reportagens polêmicas sobre tráfico de drogas, corrupção e crimes cometidos por assassinos profissionais, denunciando, com freqüência, práticas fraudulentas por parte de políticos e empresários. Também neste caso, colegas do jornalista denunciam suas práticas jornalísticas, acusando-o de chantagem.
** Por fim, no dia 3 de junho, Melyssa Martins Correia, diretora do suplemento cultural do jornal Oeste Notícias, de Presidente Prudente (estado de São Paulo), foi executada com um tiro à queima-roupa. Não se sabe se foi um ato de delinqüência ou um assassinato relacionado a seu trabalho no jornal, que várias vezes denunciou atos de extorsão cometidos pela organização criminal paulista PCC (Primeiro Comando da Capital).”
“O quarto poder; ou tanto faz”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 24/7/03
“O assassinato do repórter fotográfico Luiz Antônio da Costa é um símbolo da indiferença aos mecanismos de defesa da sociedade. Não importa aqui saber se o autor do disparo é um assaltante de posto de gasolina, se é um ativista alucinado, se é um pau-mandado a serviço de interesses que gravitam à margem do império das demandas da população.
Tampouco nos cumpre lamentar o menoscabo de uma profissão que um dia se jactou de seu pretenso ?poder paralelo?: impusemos, ego nas rédeas, a nossa ?contribuição?, um suplemento compulsório ao legado de Montesquieu- três poderes, para nós, era pouco.
Assistimos, pois, como testemunhas perplexas, ao agravamento de uma percepção de que todos os poderes- na impossibilidade de uma independência coordenada em prol da realização dos anseios coletivos- amalgamaram-se, apequenados pela insuficiência. O ?poder paralelo? do crime assomou no vácuo do cinismo que açoita o Estado, à beira de seu abismo moral.
A impunidade dança com o mau exemplo a valsa da despedida do respeito à autoridade legal e àqueles que, historicamente, entregam-se à sua missão fiscalizadora: os jornalistas.
Os poderes constituídos perecem à ferrugem dos interesses políticos e corporativos, à omissão ante a desordem, ao contraste entre o discurso e a prática, ao escárnio desafiador dos bandoleiros, esses que não se deixam intimidar pela expectativa do uso do aparato de defesa do Estado, seja pela repressão, seja pela correção enérgica da Justiça.
Nada poderá detê-los em um Estado que não se faz respeitar. Há, isso sim, os que só divisam uma silhueta: a do obstáculo que se deve suprimir. Tanto faz que se delineie um deputado, um padeiro, um policial, um cabeleireiro, um ascensorista. Que seja um repórter dos confins ou de Brasília. Que seja um Zé Ninguém, ou um Tim Lopes, ou a vítima mais recente. Tanto faz.”
“Bem além de São Bernardo”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 28/7/03
“Enquanto a mídia – em especial jornais e revistas – procura criar um clima de descontrole social no país a fim de acuar o governo Lula, usando até a morte do nosso colega Luiz Antônio Costa como arma, jornalistas do Rio estão sendo submetidos, nas últimas semanas, a intimidações vindas de diferentes origens.
Às histórias:
1. Jornal recebeu denúncia de que os empresários de Ronaldinho, Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, estavam oferecendo um animado churrasco no presídio de Água Santa, onde estão detidos por serem acusados no escândalo do propinoduto. A repórter e o fotógrafo que foram averiguar acabaram capturados por policiais que participavam do convescote. O rapaz foi levado para dentro do presídio, teve o filme arrancado da máquina e foi ameaçado de morte se contasse alguma coisa. Os jornalistas, com compreensível medo, não quiseram dar queixa e ficou tudo por isso mesmo;
2. Durante a cobertura de uma guerra de traficantes em Vigário Geral, bandidos ameaçaram os repórteres. Quando estes foram avisar aos policiais, estes disseram que era melhor eles se mandarem, pois não iam garantir proteção coisa nenhuma.
3. Voltando ao propinoduto. O governo do estado comprou uma central telefônica capaz de rastrear 800 telefones, inclusive celulares, ao mesmo tempo. Dias após o anúncio da compra, coleguinhas que cobrem o caso foram avisados que a tal central seria usada também para vigiar empresários e jornalistas. Semanas depois do alerta, coleguinha que está na cobertura do escândalo apurava matéria sobre o assunto com alguém do alto escalão do governo estadual e este, sem mais aquela, disse: ?Você é um bom repórter, não é bobo nem nada, e sabe que certamente nossa conversa está sendo gravada?. Mais claro que isso só se a declaração fosse escrita, assinada e registrada em cartório.
Mas tudo bem. O perigo são os sem-teto…
Lógica – Do editorial da revista para a qual LACosta trabalhava quando foi assassinado:
?Não importa se foi um manifestante dos sem-teto ou um bandido comum. O tiro que matou o repórter-fotográfico Luís Antônio da Costa expôs a falta de controle que o governo tem sobre os movimentos sociais.?
Podemos tirar, então, três conclusões:
1. Sem-teto são bandidos. Afinal, se não importa quem matou o nosso colega, se foi um desabrigado ou um assaltante, esta irrelevância ocorre por ambos são iguais entre si;
2. Se um taxista – ou um médico, uma advogada ou um gari – for morto por um assaltante em fuga, este fato também provará que o governo perdeu o controle sobre os movimentos sociais, pois foi o que ocorreu com LACosta, segundo testemunhas e o que apurou a polícia até agora;
3. A revista apóia as ditaduras, pois só nelas governos detêm controle sobre movimentos sociais.
Recordar é viver – Para os mais novos e que não leram nada a respeito na escola: ?Chega!? foi o título de um dos dois editoriais do Correio da Manhã que ficaram na história como senha para o Golpe de 64. Foi publicado no dia 31 de março. O outro – ?Basta!? – saiu em 1? de abril.
Clipping prévio – Diante do quadro que se desenha na mídia brasileira, seria de bom alvitre a Secom pedir a sua congênere venezuelana um clipping do que saiu e foi ao ar antes (um ano deve estar bom), durante e depois (até agora) da tentativa de golpe de abril do ano passado. Também seria bom pedir ao governo argentino o clipping do que está saindo em certas publicações platinas a respeito do governo Kirschner.
Tudo bem. Sei que ?a história só se repete como farsa ou tragédia?, que os americanos não estão muito a fim de patrocinar golpes depois do mico na Venezuela e coisa e tal, mas não custa se precaver, não é mesmo?
Mais do mesmo – Mais doses de veneno paranóico, turbinadas com outras análises tresloucadas e, até, informações relevantes? Então assine o devezemquandário Coleguinhas Por Mail, mandando emeio para cpm@coleguinhas.jor.br. Não tem mais burocracia que isso (bem, tem umazinha do yahoo, mas é indolor…) e, melhor de tudo, é ?de grátis?!”