BUSH E A MÍDIA
A divulgação das fitas de Osama bin Laden e de Sleiman Abou-Gheith, porta-voz da al-Qaeda, ameaçando os EUA de mais ataques terroristas, levou os executivos de mídia a discutir se transmitir tais comunicados serve aos telespectadores ou aos objetivos de propaganda do grupo terrorista. Para Bill Carter e Alessandra Stanley [The New York Times, 10/10/01], a gravação de Abou-Gheith foi valiosa por revelar, no mínimo, como o al-Qaeda explora a mídia. A fita foi considerada menos interessante que a pré-gravada por bin Laden, levada ao ar assim que os ataques americanos ao Afeganistão começaram. Mas muitos executivos expressaram reserva sobre a possibilidade de tornar-se um canal de divulgação para propaganda dos terroristas ou mesmo promover uma estratégia concebida para difundir medo.
"Na melhor das hipóteses, a mensagem de Laden é propaganda, convocando as pessoas a matar americanos. Na pior, ele poderia enviar ordens aos seus seguidores para iniciar ataques", disse Ari Flescher, porta-voz da Casa Branca.
(Auto)censura?
No dia 10/10, Condoleezza Rice, conselheira de segurança nacional do governo, pediu às maiores redes de TV americanas que não transmitam tais mensagens ao vivo. Segundo Adam Entous [Reuters, 10/10/01], Fleischer negou que a solicitação fosse uma tentativa de censura: "Isto é um pedido à mídia, e a mídia toma suas próprias decisões", defendeu, acrescentando que os jornais também poderão ser encorajados a mostrar a mesma moderação.
O pedido foi aceito. Contam Bill Carter e Felicity Barringer [The New York Times, 11/10/01] que ABC, CBS, CNN, Fox e NBC, as cinco maiores organizações de mídia televisiva, decidiram obedecer à sugestão da Casa Branca. As redes se comprometeram a mostrar apenas partes das fitas enviadas pela al-Qaeda e eliminar passagens contendo discursos que poderiam incitar a violência contra americanos; concordaram também em evitar a exibição repetida de imagens dos terroristas. O acordo conjunto de limitar a cobertura jornalística, sem precedentes, foi descrito como "patriótico" por um dos executivos que participaram da reunião com Condoleezza.
Os executivos afirmam que a conselheira não tentou coagi-los. "Esta é uma situação nova, uma nova guerra e um novo tipo de inimigo", disse Andrew Heyward, presidente da CBS News. "Dado os eventos históricos em que nos encontramos, é apropriado explorar novos meios de cumprir nossas responsabilidades perante o público."
A "retaliação"
Osama bin Laden soube usar habilmente os telejornais para dar sua mensagem. O governo pediu a Fox que transmitisse um especial do America?s Most Wanted (Os mais procurados da América) para que seus telespectadores tenham a chance de ajudar a caçar suspeitos de terrorismo. Bush levou a batalha contra Laden para uma nova arena: o show business, analisa Alessandra Stanley [The New York Times, 11/10/01]. John Walsh, apresentador do programa, diz que Most Wanted usa informação de agências como o FBI para traçar o perfil de suspeitos e encorajar testemunhas a ligar, o que já ajudou na captura de centenas de suspeitos em 15 anos de vida.
Walsh disse que o governo pediu sua colaboração tanto para ajudar na investigação quanto para acalmar o desejo de vingança dos americanos. O apresentador estava certo de que Bush já assistiu ao show, do qual seus pais são fãs. Funcionários da Casa Branca concordaram que Bush estava ansioso por ter o apoio do programa na caçada.
O uso da televisão, em particular shows de entretenimento, pelo presidente é um novo passo. Ronald Reagan foi um mestre em usar a imagem televisiva e Bill Clinton tinha boas relações com estrelas de cinema, mas nenhum dos dois controlou um programa para atingir um objetivo de segurança nacional.