EXCESSOS E OMISSÕES
Paulo Roberto de Figueiredo (*)
Algumas noticias e fatos nas últimas semanas chamaram a atenção não pelo enfoque, mas pelo conceito. Por exemplo, a passeata contra o desarmamento promovida pela ONG Viva Rio: sem dúvida, de grande interesse cívico, se não tivesse o estímulo da novela global e a presença de seus artistas não teria adesão popular tão intensa. E tudo estaria dentro do interesse, unicamente, do bem-estar social se o jornal O Estado de S. Paulo (e outros) não tivesse dado destaque exagerado às vaias sofridas pelo secretário de Segurança Pública e ex-governador Anthony Garotinho, que comparecera ao ato. Indago o seguinte: nenhum político tem unanimidade pró ou contra seus atos, aliás ninguém a tem, independentemente da atividade que exerça, mas será que o Estadão daria a notícia se o ex-governador tivesse sido aplaudido? Depois, como pode a mídia criticar quando pessoas ou autoridades tentam tirar proveito político dos fatos, quando ela mesma procede assim?
Começaram sucintamente, como se sondando o terreno, as notícias dos gastos públicos com parlamentares. Pode-se com isso estar abrindo uma discussão mais ampla sobre o assunto, na tentativa de diminuir o número de parlamentares. A discussão sobre o tema é salutar, vez que a quantidade poderia muito bem ser substituída pela qualidade. Mas devemos acautelar-nos, pois esta receita está contida em alguns planos de dominação externa, coisa nunca divulgada claramente pela grande mídia.
Houve uma calorosa discussão na Câmara dos Deputados, na madrugada do dia 16 de setembro, sobre a apresentação de um projeto de lei que regula o comércio de diamantes. Tudo muito bem, conforme dito por alguns parlamentares, se o texto original do projeto não tivesse sido apresentado em inglês; e apenas a alguns poucos deputados. O assunto estava sendo conduzido sorrateiramente para que sua aprovação ocorresse sem alarde, pois os assuntos mais importantes do dia seriam outros da reforma tributária, e a estes estavam dirigidas todas as atenções. Mas o tal texto em inglês, sobre comercio de diamantes, chamou a atenção e irritou alguns parlamentares, a ponto de um deles dizer que na bancada do governo ninguém raciocina, só obedece.
O chinês e as CC-5
No governo passado, também se aprovaram leis danosas a nossa nação, deste mesmo modo sorrateiro e a partir de interesses internacionais, só que tiveram, ao menos, o escrúpulo de traduzir os conteúdos motivadores dos projetos para a nossa língua pátria; foi o caso da lei de patentes e propriedades industriais, encomendadas pelo FMI e a OMC, segundo informações de obliterados brasileiros nacionalistas. Naquela época a mídia também não se manifestou clara e honrosamente sobre a matéria.
E uma notícia que ganhou ampla notoriedade foi a do presidente Lula alardeando que a reforma tributária proposta tirará dinheiro de quem tem para dar a quem não tem. Duvide-o-dó! Não existe na história da humanidade quem tenha conseguido tal façanha. E quem tentou acabou enforcado, decapitado, crucificado, encarcerado, desprezado, ridicularizado. Todos sabemos que riqueza tem "mão única", exclusiva e misteriosa; embora pareça paradoxal, ela só flui do pobre para o rico.
Enquanto isso, só Boris Casoy, no Jornal da Record, e a revista IstoÉ dão destaque às investigações acerca das contas CC-5 do Banestado. Por que os demais meios de comunicação, inclusive os mais explosivos quando os assuntos lhes interessam, calam descaradamente? Se o chinês Chan Kim Chang, preso quando tentava sair do Brasil levando 30 mil dólares, morto carceragem, conhecesse os mecanismos das contas CC-5 e tivesse deles se utilizado, ninguém o teria prendido, incomodado, agredido e tampouco teria seu nome revelado exaustivamente pela mídia. Morreu de modo sórdido porque não conhecia a nossa hipocrisia nacional. Para se ter uma idéia da grandiosidade desta hipocrisia, para se retirar do Brasil a mesma quantia esvaída via contas CC-5 (estimada em 30 bilhões de dólares), pelo processo escolhido por Chang, seria necessária a participação de pelo menos um milhão de chineses, cada um levando 30 mil dólares.
Haja prendedores, espancadores e noticiadores.
(*) Dirigente sindical