Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Noticiário mal dosado

VISÃO CAOLHA

Chico Bruno (*)

A grande imprensa nacional não está conseguindo dar ao noticiário uma dosagem correta da importância dos acontecimentos do dia-a-dia nas cidades, no país e no mundo. Existe um certo açodamento em privilegiar a guerra dos Estados Unidos contra o Afeganistão e o bioterrorismo, em detrimento de outros acontecimentos. Desde o fatídico ataque ao World Trade Center e ao Pentágono, a imprensa brasileira não dosa o noticiário.

O ombudsman Bernardo Ajzenberg, da Folha de S.Paulo, enumerou fatos importantes que foram desprezados pelo jornal e também pelo restante da imprensa nacional: a invasão do Parlamento num cantão suíço, que vitimou 14 pessoas, a queda do C-130 Hércules com a perda de nove vidas, a explosão de um avião russo com 77 pessoas e as 118 vitimas fatais do choque de um jato comercial e uma pequena aeronave no aeroporto de Milão.

Além desses trágicos acontecimentos, a imprensa relegou a segundo plano o cotidiano da corrupção brasileira. Assunto que até o dia 11 de setembro pautava a quase totalidade das manchetes, isso sem falar nas intermináveis greves do serviço público brasileiro que mereceram cobertura pífia, principalmente pelos transtornos que causam à população. A greve dos funcionários do INSS paralisou todos os processos de concessão de aposentadoria e outros serviços.

Já o irrelevante ? neste momento ? quadro sucessório conseguiu um pouco mais de espaço. O que demonstra que a informação está sendo tratada de maneira caolha pelas redações brasileiras, pois a sucessão presidencial hoje é mais fofoca do que realidade.

Em sete dias a Folha, por exemplo, trouxe sete manchetes sobre o conflito entre os EUA e o Afeganistão, quatro sobre os perigos do antraz. Os outros jornais e as revistas semanais não ficaram atrás. A IstoÉ que está nas bancas traz matéria de capa sobre as conexões brasileiras do terrorismo, confundindo terrorismo com atos criminosos comuns, como o estouro das centrais telefônicas clandestinas na Bahia ? já foram duas, uma anterior ao dia 11 de setembro e outra posterior.

A imprensa brasileira corre o sério risco de apostar errado, ao insistir em continuar cobrindo em primeiro plano o confronto entre EUA e Afeganistão em detrimento de outros importantes assuntos. Dosar corretamente o noticiário é o que deve ser feito para o bem dos leitores e para que a credibilidade da imprensa não seja arranhada por essa visão caolha.

(*) Jornalista

    
    
               

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