RÚSSIA
O Kremlin implementou uma nova lei draconiana para as eleições na Rússia que ameaça fechar veículos de mídia caso dêem detalhes sobre as vidas pessoais ou análises da política dos candidatos.
A nova lei objetiva impedir o trabalho de relações públicas mal-intencionados e difamadores que atrapalharam a última eleição. A medida, no entanto, enfureceu parlamentares da oposição e jornalistas. Alguns disseram que a lei representa o retorno da era de controle soviético sobre o debate político.
O decreto, assinado pelo presidente Vladimir Putin, vai impedir a transmissão de resultados de campanha política e exigirá que os candidatos recebam coberturas equivalentes ? o que é praticamente impossível, já que há 44 partidos. De acordo com Nick Paton Walsh [The Guardian, 9/9/03], um meio de comunicação pode ser fechado durante a campanha eleitoral após duas advertências.
A existência do decreto veio à tona após Putin iniciar a campanha eleitoral na semana retrasada, anunciando eleições parlamentares em 7/12. A eleição presidencial, cuja vitória analistas já consideram de Putin de antemão, ocorre em março.
Os jornalistas de São Petersburgo foram os primeiros a encarar as novas restrições. Um jornal, em protesto, saiu com a primeira página em branco, preenchendo as páginas internas com artigos sobre uma eleição fictícia em uma terra distante ? na verdade, tratava-se de São Petersburgo, mas os nomes dos candidatos foram trocados.
Casa de ferreiro, espeto de pau
Putin, entretanto, parece ter se complicado em sua própria lei. Apareceu em rede nacional na semana retrasada apoiando a candidatura de Valentina Matvienko para o governo de São Petersburgo, apesar de a lei proibir oficiais de usar seus postos para promover seus partidos ou reeleger-se.
Um tribunal russo deu início a uma audiência contra a aparição do presidente, mas alguns oficiais do alto escalão do governo, segundo a Constituição, são imunes a processos na justiça.