SPAM
Samir Thomaz (*)
A mensagem apareceu na minha caixa postal e era curta e grossa: "Faça de seu pênis um PÊNIS!". Assim mesmo, abusando dos recursos gráficos e metafóricos. Meu primeiro impulso, compreendidos a invasão e o desrespeito de que eu acabara de ser vítima, foi o de deletar a mensagem antes mesmo de abri-la. Deve ser brincadeira de algum amigo internauta, pensei. Ou mesmo alguém se aproveitando do anonimato da internet para tentar atingir minha auto-estima.
Não era. Foi o que verifiquei segundos depois, ao abri-la, movido pela curiosidade de saber até que ponto estamos vulneráveis na rede. Tratava-se de mais uma dessas mensagens que recebemos diariamente por e-mail, vindas sabe Deus de onde e atingindo às cegas o receptor sem levar em conta suas idiossincrasias.
Uma vez aberta, fui lendo a comunicação. Nela me era informado sobre a possibilidade de aumentar o tamanho do meu pênis de 2 a 5 centímetros em dois meses (!!!), por meio de exercícios naturais. Além disso, eu poderia me beneficiar também do aumento da potência, do controle e do volume da ejaculação. Para isso eu deveria entrar no sítio da empresa que me mandava o e-mail, cujo nome achei bastante sugestivo: <www.alavanca2003.impg.br>. Ainda segundo a informação, na tal página eu encontraria fotos comparativas de pessoas que teriam experimentado a técnica com excelentes resultados.
Pura farsa
Não me atrevi a acessar o sítio. Não cheguei a tanto. Não por qualquer receio do que pudessem pensar de mim, caso viesse a fazê-lo. Ocorre que em geral uso a internet no ambiente de trabalho e não pegaria bem meu chefe vir me perguntar sobre o prazo de algum livro (trabalho em editora) e me flagrar na análise minuciosa de homens expondo seus falos, este maior, aquele mais fino, esse mais potente, aquele outro acrescido de tantos centímetros.
No pé da mensagem, não deixei de notar uma observação quase do tamanho da própria mensagem, e tão interessante quanto. Ali pude ler a advertência de que aquilo que eu acabara de ler não era um spam, visto que o comunicado seria enviado uma única vez. Que se tratava de um e-mail normal, como tantos que recebo. Que não estavam invadindo minha privacidade. Que enviar um e-mail não é crime, desde que não contenha mensagens que possam causar danos ao usuário. Por fim, pedem desculpas caso tenham me importunado com seu e-mail de divulgação. E, na linha de baixo, fornecem-me instruções sobre como não receber mais aquela mensagem. Bastava clicar em Responder e digitar "Remover" no assunto.
Cliquei em Responder. Segui as instruções que me passaram.
O e-mail voltou.
(*) Editor e escritor, 39 anos