JORNALISMO EM CURITIBA
Alexandre Teixeira (*)
O problema do ensino superior de Jornalismo talvez tenha no estado do Paraná a mais grave e perigosa situação do país. Apenas na capital, Curitiba, há nove escolas de comunicação: Universidade Federal do Paraná, PUC, Unicenp (Grupo Positivo), Universidade Tuiuti, Uniandrade, Unibrasil, Esic, Dom Bosco e Universidade Curitiba. Pelos cálculos do Sindicato dos Jornalistas, estas instituições colocam no mercado quase 1.500 profissionais por ano, que correm atrás de um mercado de trabalho reduzido e de um piso salarial de pouco mais de mil reais.
O mercado de trabalho na capital passa por situação crítica. Apenas três jornais diários estão sobrevivendo à fase atual do setor: Gazeta do Povo, Estado do Paraná e Jornal do Estado. A Tribuna do Paraná, do mesmo grupo do Estado do Paraná, apenas reutiliza as matérias feitas pela equipe principal, e o Diário Popular publica releases governamentais e tem uma equipe de cinco jornalistas, todos na casa há mais de 20 anos.
As rádios estão começando a investir no jornalismo, mas o mercado não tem mais do que 50 vagas disponíveis. São sete emissoras de TV, com espaço para 250 jornalistas, mas a crise tem obrigado o setor, principalmente as pequenas emissoras, a terceirizar sua grande de programação, transformando os jornalistas em pequenas empresas. O pior deste sistema é que os programas estão sendo ocupados por não-profissionais, na maioria das vezes radialistas que se transformam em entrevistadores e apresentadores, e que usam os programas para os tradicionais achaques.
Sindicato dividido
O problema da proliferação das escolas de Comunicação começou 10 anos atrás, quando houve um verdadeiro "descobrimento" da profissão de jornalista. Os cursos existentes atraíam de 50 a 60 candidatos por vaga, havia carência de universidades e um grande número de jovens sonhando com o lugar de Willian Bonner e Fátima Bernardes, ou o de Pedro Bial, então correspondente em Londres.
Com a chegada de Fernando Henrique, o Ministério da Educação passou à política de liberar o maior número possível de cursos superiores. A idéia do então presidente e do seu ministro era o de aumentar o IDH brasileiro no quesito terceiro grau. Nestes oito anos de FHC, o número de brasileiros que conseguiram diploma universitário foi muito grande, melhorando, na opinião deles, a imagem do Brasil no exterior.
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas na época estava dividida. Um grupo queria a regulamentação do estágio e a proibição de novas universidades, já que não havia professores de qualidade disponíveis na praça, e a idéia de que o mercado de trabalho teria problemas futuros já existia. O outro grupo tinha por objetivo liberar completamente o estágio, e via com bons olhos o crescimento do número de faculdades de Comunicação ? "quanto mais jornalista melhor", diziam na época. Este grupo hoje está dando aulas em duas ou três instituições de ensino, conseguiram um novo mercado de trabalho para eles à custa da queda na qualidade da formação profissional e a diminuição dos salários pagos pelos veículos. Pelo salário de um profissional com 10 anos de experiência se contratam hoje três "focas" recém-saídos das faculdades; já a qualidade da informação que estes três passarão aos leitores… isso é outra questão.
Quem perde
O grupo que queria restringir o número de escolas de Comunicação trabalhava também para que as que estavam abrindo fossem avaliadas e, no caso de não terem condições, que fossem fechadas. Estúdio de TV e rádio, jornal-laboratório, equipamento fotográfico continuam recursos que poucas têm. Além disso, professores com mestrado e doutorado até que estas faculdades conseguem, o problema é a qualidade do mestrado e do doutorado realizado.
Tudo ficou comercial. A iniciativa privada criou mais cursos para atender a demanda dos estudantes, mas visando exclusivamente o lucro. Para cumprir as exigências do MEC, estes mesmos empresários do setor de educação abriram cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, mais dinheiro entrando. Só que na rabeira disso está o mercado de comunicação, que, em vez de crescer na mesma proporção dos cursos, encolheu.
Quem perde com tudo isso é o usuário de comunicação ? o leitor, o ouvinte e o telespectador ?, obrigado a conviver com profissionais de pouca qualificação. Talvez isso se reflita na queda do número de leitores de jornais: para que ler se você não confia naquilo que está escrito, que você não confia no profissional que escreveu o texto? Se continuarmos assim, qual será o futuro da comunicação?
(*) Jornalista profissional diplomado pela Universidade Federal do Paraná em 1987