Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Novo visual do WSJ mais importante do que o Pulitzer

AÇÃO ENTRE AMIGOS

Foi absolutamente convencional a repercussão na mídia brasileira da escolha dos prêmios Pulitzer deste ano. As notícias foram publicadas ? ou sepultadas ? nas edições de terça-feira (9/4) de forma rigorosamente burocrática.

E, no entanto, a premiação do Pulitzer merecia destaque. Pelas seguintes razões:

** É o prêmio jornalístico mais importante e mais sério do mundo.

** Ao valorizar a reportagem e o seu conteúdo, o Pulitzer costuma oferecer uma tendência para o exercício do jornalismo. Uma avaliação da premiação do ano evidentemente ofereceria os padrões e estímulos para uma discussão sobre a imprensa nos próximos meses ou anos.

** O New York Times abiscoitou um número recorde de prêmios (sete). O mais lucrativo jornal americano é também o mais qualificado.

** Seis das matérias premiadas versavam sobre os ataques terroristas de 11 de setembro. Até mesmo o galardão concedido ao Wal Street Journal relacionava-se com o esforço de rodar o jornal no dia seguinte aos atentados.

Se os jornalões brasileiros mostraram-se despreocupados com a questão da qualidade envolvida nos Pulitzer, o mesmo não aconteceu com a mudança na cara do Wall Street Journal. Um verdadeiro carnaval para comemorar uma pífia repaginação e, naturalmente, promover o escritório que emplacou a reforma gráfica.

O caso do Globo é exemplar: na mesma terça (9/4), fez uma materinha insignificante sobre o Pulitzer (duas colunas no pé da página 30, imediatamente antes das páginas de esporte). Dia seguinte (10/4), dedicou quase uma página ? a 23, ímpar ? com elaborada ilustração em cores para saudar o sensacional feito de mudar a cara de um jornal feio, chato e desinteressante como o Wall Street Journal.

O que está em questão não é apenas divinização do visual em detrimento da qualidade jornalística. É mais grave: é jogada comercial pura e simples, escancarada. E endossada por um jornal que se apresenta como responsável, acima de qualquer suspeita.

O escritório que fez o redesenho do WSJ é associado ao Poynter Institute e ao Inovación Periodística, ambos da Flórida e, por sua vez, irmanados à Universidade de Navarra cujo representante no Brasil é uma espécie de ombudsman do Globo, Estado de S.Paulo, Rádio Eldorado etc. Todos com intensa atuação no Brasil desde os anos 90 sob o alto patrocínio da Associação Nacional de Jornais (ANJ). E, pelo visto, querem continuar faturando em cima da penúria de nossos jornalões. Por isso apostaram na badalação em torno do grande feito.

O autor do redesenho do WSJ é o cubano-americano Mário Garcia que já desenhou os principais jornais brasileiros e portugueses e o fez com tanto sucesso que, em seguida, todos voltaram atrás e redesenharam o redesenho. Isto evidentemente não foi mencionado na matéria.

Pelo empenho em promover-se no Brasil fica evidente que a turma de consultores da Flórida breve voltará a atacar nestas bandas.