Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novos caminhos nas experiências online

TELEJORNALISMO

Antonio Brasil (*)

A guerrilha tecnológica do telejornalismo online conquistou mais um espaço e um maior reconhecimento da sua luta na terça-feira, 3 de julho, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Uerj. Apesar de todas as dificuldades logísticas e estratégicas que significaram negociar com as trincheiras de uma greve geral, além de uma total falta de munição ou recursos, pouquíssimo tempo para elaborar grandes planos e uma total inexperiência no campos de batalha da realização de um evento como este. No entanto, conquistou-se uma grande vitória da causa alternativa no telejornalismo.

Superando todas as expectativas, a opinião geral dos organizadores e participantes é que o Primeiro Debate sobre WebTelejornalismo, na Uerj, foi um sucesso! A tática de combate consistia na presença de jornalistas importantes com relação muito próxima com as novas tecnologias. Para surpresa dos próprios organizadores e estrategistas, contamos também com o comparecimento de muitos alunos, professores e profissionais do ramo, além da presença virtual de outros tantos internautas que assistiram ao evento ao vivo via internet. Mais uma importante conquista tecnológica para a causa do livre pensar na universidade pública, apesar de todas as limitações técnicas e financeiras. Uma resposta contundente e estratégica a todos aqueles que ainda têm dúvidas a respeito do potencial da convergência midiática, entre o poder informacional do telejornalismo e a capacidade de mobilização da internet.

A verdadeira mudança de paradigma nessa convergência está na possibilidade de uma verdadeira massificação das fontes informativas audiovisuais em nosso país. Num cenário de blocos hegemônicos poderosos e políticas monopolistas, discutiu-se uma pequena e verdadeira janela para o mundo. Do videojornalismo de Luís Nachbin, percorrendo nos passos do grande cineasta russo Dziga Vertov, "O homem com uma câmera" em seu exercício videográfico igualmente solitário, invade o Globo Repórter da todo-poderosa Rede Globo com uma verdadeira "viagem televisual". Atravessou a Transiberiana de trem e conquistou uma nova linguagem para os documentários brasileiros de televisão. Inaugurou uma narrativa revolucionária na primeira pessoa em resposta aos críticos das limitações técnicas da operação de uma equipe de uma pessoa só. A qualidade do texto e da imagem do jovem professor da PUC-Rio Luís Nachbin refletem a maturidade das técnicas alternativas de se produzir telejornalismo, como o videojornalismo.

Da dotcom à dotgone

Aqui no Brasil, apesar de já ser uma linguagem mais do que estabelecida em diversas partes do mundo há anos, ainda discutimos questões corporativas e legais sobre uma nova forma de se produzir um telejornalismo mais independente e criativo. O videorepórter ou, como preferem os paulistas, os abelhas também descobrem as novas tecnologias como a internet para a produção de novas pautas e divulgação de seus trabalhos. Videojornalismo nasceu na televisão, cresceu na TV a cabo e explode agora na internet.

Mas o debate também discutiu os novos meios como a televisão totalmente via internet e sua nova programação. Paulo Carneiro, lendário criador do Bad TV e do Caderno Teen da TVE, trouxe, em primeira mão, o resultado de 5 anos de pesquisa sobre a nova linguagem de TV na internet na forma de um vídeo muito polêmico sobre a "geração digital". A temperatura aumentou com as críticas contundentes de alguns participantes sobre essa visão da juventude que associa consumo à internet e muita, muita música e diversão. Por outro lado, se tudo vai ser tão diferente, e já que esse novo meio não é rádio na rede, também não é televisão na internet, mas um meio e uma linguagem totalmente novos, como vamos chamá-lo? Seria talvez o início de uma Telecom, Telenet ou uma Web TV?

Das preocupações semânticas seguimos com Pedro Dória, jornalista especializado em internet do Notícias Online, e Córa Ronai, editora do caderno de informática de O Globo, que falaram sobre as suas expectativas e ansiedades em relação à internet. Entre uma maior criatividade para a sobrevivência dos novos sites e uma verdadeira liberdade para a experimentação, discutiu-se um futuro impossível de ser previsto. Lembrar que há cinco anos mal sabíamos da existência da rede, prognosticar o futuro é hoje, antes de tudo, muito arriscado. Lembrar que em poucos meses navegávamos entre milhares de novíssimas empresas "dotcoms" que agora se tornaram empresas "dotgones", que sumiram tão rápido quanto surgiram. Nem o paraíso nem o apocalipse mas discutiu-se um cenário de muitas possibilidades para projetos com a identificação realista do meio, seu potencial, suas limitações e seu público.

Instrumento poderoso

Projetos como o site Telejornalismo.com, do professor Luís Carlos Bittencourt, da UFRJ, que assinalou a importância e a necessidade de uma ruptura na produção e divulgação de telejornais universitários.

Ao sair dos corredores estreitos das instituições de ensino ou dos limites autoritários das TVs universitárias, as produções audiovisuais dos estudantes de Jornalismo ganham uma verdadeira perspectiva global, no bom sentido. Perdão pelo trocadilho não intencional!

Entre tantas idéias inovadoras e importantes discutidas por um público interessado e participante durante tão pouco tempo, estabeleceu-se, contudo, mais uma avanço da guerrilha tecnológica no jornalismo. O telejornalismo online passa a ser reconhecido como tema a ser discutido no âmbito acadêmico. Estamos diante de instrumento poderoso para o ensino de Jornalismo e para a democratização dos meio de comunicação no Brasil, principalmente em relação ao seu segmento mais monopolizado, o telejornalismo.

(*) Jornalista, coordenador do Curso de Comunicação Social da Unicarioca e do Laboratório de Vídeo da Uerj

    
    
                     

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