Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O buraco do Leblon

RJ-TV

Eduardo Miranda Silva (*)

Entendo quando jornalistas da antiga e críticos atacam a pretensão convicta da mídia em achar que pode e que consegue abarcar todos os acontecimentos do mundo em meia hora de notícias televisivas ou numa edição de 40 páginas diárias de um jornal. No entanto, alguns meios de comunicação percebem essa impossibilidade e se convencem de que bastam poucos fatos.

Falo do buraco do Leblon.

O buraco do Leblon já teve ataque de Chico Buarque, o buraco do Leblon já teve quem por ele se apaixonasse, precipitando-se em seu fundo, o buraco do Leblon já teve minutos de cobertura quase hollywoodiana e flashes ao vivo de repórteres e, por fim, já congestionou bastante o Leblon.

Mais embaixo

Mas, afinal, o que o buraco do Leblon tem a dizer sobre isso? Ora, o buraco do Leblon não fala, porque se falasse já nos teria mandado procurá-lo em outra esquina que não Praia do Leblon com Bartolomeu Mitre. Já vi buracos mais temíveis na Zona Oeste da cidade e que, portanto, deveriam ter a fama do buraco do Leblon. Mas ainda não cheguei a esse ponto, não são 15 minutos de fama que reivindico para os enciumados buracos da Zona Oeste. Será que toda a cobertura do pobre coitado do buraco é falta de pauta, de assunto, de fato?

Creio que não, só penso que a cobertura jornalística não está se dando conta dos limites da cidade. Se, notavelmente, não há a menor possibilidade de noticiar tudo o que acontece há que, pelo menos, distribuir repórteres para acompanhar a política e a economia, a vida das pessoas, a cultura, a pobreza e a riqueza, o atraso e o progresso da cidade e tudo mais que não se esgota nestas poucas linhas nem num texto de jornal.

Afinal, como cidadão carioca, a minha realidade e a de muitos outros não é o buraco do Leblon, o nosso buraco pode ser mais embaixo.

(*) Estudante de jornalismo da PUC-Rio