A COISA
A Folha de S.Paulo está completando 80 primaveras. Parabéns pra você etc.etc. Mas o Folhão insiste em parecer que tem apenas 18 aninhos. Este é o seu problema, o seu eterno problema. O jornal não precisa fingir-se de teen para conquistar leitores com menos de 40 anos. Ao contrário, os jovens esperam dos mais velhos um mínimo de compostura. Esta é a sua vantagem competitiva.
A campanha dos 80 anos que começou a ser veiculada na edição do domingo (4/1/01), com fartura de papel e que certamente ganhará inúmeras páginas duplas nas revistas e inserções na TV, está centrada na Coisa. Assim mesmo em maiúsculas. Esta COISA é o mundo e para que você fique por dentro da COISA, você precisa ler a provecta Folha.
A culpa desta COISA não é dos publicitários que assinam a campanha. São pagos e bem pagos para serem criativos. O cliente é que dá o briefing e aprova a campanha. Se um jornal da importância da Folha resolve coisificar-se num dos seus momentos de glória, o problema é desta COISA chamada vulgaridade e da sua alma-gêmea, a COISA genericamente designada como mídia.
Bons tempos em que a COISA era o rabo preso com o leitor. Agora, a COISA é mais em baixo. Uma pena.
BARRIGA
Deu na coluna "No Ponto" (JB, 3/2/01, pág. 4): a Gazeta Mercantil foi obrigada a pedir desculpas públicas, no dia 2/2, aos seus leitores e clientes por ter divulgado a falsa notícia de um recall da montadora Mazda. Segundo Ancelmo Góis, o responsável pela coluna de informações, tudo não passou de uma brincadeira de mau gosto com um repórter do jornal que acabara de comprar um carro daquela marca. Um amigo-da-onça, também jornalista, falsificou um comunicado da montadora onde esta admitia um recall. E a vítima, afinal, fez uma boa compra mas deve ter perdido o emprego. Não se publica uma notícia desta importância sem a devida verificação.
Por coincidência, a coluna do "Defensor del Lector" do El País de 21/01/01 trata justamente destas brincadeiras jornalísticas, tipo "primeiro de abril", que no jargão espanhol chamam-se inocentadas. Brincar com a profissão – qualquer profissão – é uma maneira de mostrar desprezo pela profissão.
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