Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O choro agora é da imprensa

DEMISSÕES NAS REDAÇÕES

Jaime Höfliger (*)

Ora vejam! Quer dizer que o processo de downsizing, qual água de enxurrada, atingiu as canelas dos jornalistas? Francamente, pensei que essa moda já estivesse ultrapassada. Já pelos idos de 1980-1990, quando o Banco do Brasil foi convertido no grande laboratório dessas técnicas “administrativas”, preparando-se sua privatização (que perdeu o bonde, o timing), e as demais que se planejava (e que aconteceram), pensava com meus botões que não poderia durar muito. Vejo que foi um engano, mas esse foi o menor deles. O maior foi crer, mesmo em face de tamanha estupidez, imbecilidade e brutalidade, que talvez eu é que estivesse sendo ingênuo, mal-informado, já que, se a imprensa toda era unânime em incentivar esse processo, certamente alguma razão teria que não fosse do meu conhecimento. Pensei que falassem com conhecimento de causa, ancorados em experiência comprobatória.

Vejo que não tinham razão. Vejo que era verdadeira a impressão sentida toda vez que ligava a TV e assistia à Lilian Wite Fibe açoitar os “marajás” que atrasavam o progresso econômico do país, aquela impressão de perseguição injusta, covarde, por dispor de meios de ataque (todo o espaço da mídia) muito superiores a qualquer espaço de defesa que se pudesse imaginar. Na verdade, era a correta a impressão muitas vezes mal percebida de que nesses processos de reestruturação as empresas estivessem serrando o próprio galho onde estavam penduradas.

Não posso desvincular o que me informam sobre o que está acontecendo com os jornalistas da minha experiência pessoal. Por isso, sinto-me dividido e muito suspeito em opinar. Pessoas morreram naquele processo. Entre 1995 e 1996, 12 suicídios ocorreram motivados por desestabilização emocional diante de um insuportável e inimaginável Plano de Demissões “Voluntárias”. Não houve 12 linhas em jornal algum sobre isso. Que eu saiba, não houve nem uma sequer. É uma experiência terrível, que não desejo nem mesmo aos jornalistas, mas não posso esquecer que o jornalismo desse país é responsável por uma ajuda fundamental na miséria para a qual vimos sendo levados nesses últimos anos.

A defesa na mídia

Por outro lado, a mídia é também responsável pela divulgação das melhores idéias (embora quase sempre minoritárias), das melhores esperanças, de dentro e de fora do próprio jornalismo. Se a reestruturação que o jornalismo sofre fosse o expurgo, simplesmente, das idéias (interesses) pernósticas que lubrificam essa descida em direção ao caos, seria fácil opinar; era só dizer um grande “bem-feito!”, que está atravessado em minha garganta há muito tempo.

Mas não é. Conhecendo as coisas dessa latitude, sabe-se que, muito provavelmente, aos melhores serão criadas as maiores dificuldades, em troca dos mais “baratos”. Trata-se de empresas e de custos, não é? Pois a lição que ainda não foi aprendida, que não quer ser aprendida, é a de que o valor de certos jornais, de certas colunas e opiniões, assim como programas de televisão, será sempre alto, não importa por quantos reais sejam oferecidos, nem mesmo quantos reais sejam oferecidos para que se as leiam.

As árvores se conhecem pelos frutos; então, pergunto que frutos os economistas e administradores têm conseguido produzir operando um sistema que é o maior produtor de riquezas? Eu mesmo respondo: eles vêm produzindo a maior distribuição de miséria que se conhece. A esses estão entregues as empresas jornalísticas?

A política econômica não seria política se as decisões em seu âmbito fossem sempre estritamente técnicas. E a economia (com as exceções que confirmam a regra), convenhamos, por tudo e tanto que se tem visto, é o reino dos que abdicaram de pensar. Cabe à política conduzir a economia e não o inverso; a economia e a administração, assim como a Gramática do Verissimo, “têm que apanhar todos os dias, para saber quem é que manda”. Em uníssono com o que diz Alberto Dines, cabe aos jornalistas a maior parcela na condução das empresas jornalísticas. Naturalmente, há que haver maioria de políticos e jornalistas, que sejam capazes de “bater” na economia e na administração.

Quanto ao espaço necessário para a defesa dos jornalistas agora atingidos, diferentemente de outras categorias, é o próprio espaço da mídia. Pelo menos desta vez, façam bom uso.

(*) Funcionário público federal, servidor do Judiciário, ex-bancário do Banco do Brasil

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