PRECONCEITO?
Manchete do jornal O Globo de 17/01: "Espanhol responsável por fogos será indiciado". A notícia é sobre o técnico José Moyano Alvarez, da Pirotecnia Igual, que estaria envolvido no episódio da desastrada queima de fogos de artifício em Copacabana. O acidente no Réveillon do Rio é assunto delicado: uma pessoa morreu, outras tantas ficaram feridas.
Delicado certamente não é o tratamento que O Globo dá a estrangeiros ou imigrantes. Não é a primeira vez que o diário carioca usa o gentílico para qualificar pessoas. No caso do técnico envolvido no episódio dos fogos de Copacabana, a informação da nacionalidade é relevante, mas não crucial. As questões relativas ao julgamento e à eventual extradição de Alvarez são realmente importantes e foram tratadas em box na página dupla em que O Globo noticiou o andamento da apuração.
O uso do gentílico na primeira página, porém, é exagerado. O que o leitor perderia se a manchete fosse "Técnico responsável por fogos será indiciado"? Afinal, a notícia não é o indiciamento? Etnia e religião são temas que merecem ser tratados com seriedade. Deslizes do tipo que O Globo cometeu não colaboram para o aperfeiçoamento das instituições democráticas. Pelo contrário. (LAM)
COINCIDÊNCIAS
Manchete da página B5 da edição de 17/1 da Folha de S. Paulo: "Preço da Gol não resiste, diz concorrência". Na mesma Folha, edição de domingo (14/1), o colunista Gilberto Dimenstein escreve artigo alertando para os "perigos no ar": um balde de água fria para os leitores que imaginavam dias melhores com a entrada de uma nova companhia de aviação no mercado.
De acordo com o texto do jornalista – que integra o Conselho Editorial da Folha –, o aumento da concorrência desta vez pode não ser benéfico para o consumidor, pois o aeroporto de Congonhas está operando quase "no limite". Diz mais: "Anunciaram-se reduções de até 60% no preço das passagens, prometendo desencadear promoções em cadeia, graças ao chamado ‘aeropovo’ – uma boa notícia para começar o ano. Nem tudo, porém, é céu de brigadeiro. O Sindicato dos Trabalhadores de Proteção do Vôo começou a preparar uma campanha alertando a população sobre o risco de acidentes que podem ser causados pelo estresse dos responsáveis pelo controle das aeronaves."
Dois detalhes chamam a atenção no trecho de Dimenstein: a redução nos preços da Gol é maior do que escreve o colunista (chega a 65%); a nova companhia não havia ainda começado a operar na data em que o artigo saiu – a estréia da Gol foi no dia seguinte à publicação do texto.
No aeroporto de Congonhas, a Folha de S. Paulo é distribuída de graça aos clientes da Varig. Uma das medidas anunciadas pela Gol para conseguir reduzir custos e proporcionar preços baixos foi cortar o supérfluo: bebidas alcóolicas e refeições a bordo, jornais e revistas nas salas de embarque, por exemplo. Coincidências, apenas coincidências. (LAM)
BAIXARIA
Marinilda Carvalho
A revista IstoÉ faz uma ótima propaganda nas rádios de São Paulo. A peça publicitária diz que o semanário é o único "independente" – de FMI, FHC, ACM, PT, EUA etc. etc. A acreditar no que se ouve no rádio, a revista é uma grata exceção no cenário brasileiro.
Pena que estão vendendo gato por lebre. A última edição de IstoÉ tem duas capas – a contracapa foi tornada capa, trazendo também o logotipo da revista. A capa "oficial", reproduzida ao lado, chama para uma matéria (?) sobre o tamanho do pênis e seus efeitos nas relações. Na segunda capa, uma mulher com seios fartos e a chamada: "É verão, abre que tem". Abrindo, o leitor se depara com um anúncio em página dupla de uma das marcas de cerveja nacional.
Capa mais capa, a IstoÉ mostra que está cada vez mais dependente, sim. Do baixo nível.
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