Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

COLÔMBIA

"Outro jornalista é assassinado no interior do país", copyright O Estado de S. Paulo, 19/7/01

"Colômbia é o local mais perigoso do mundo para profissionais de imprensa, segundo relatório

BOGOTÁ – Dois pistoleiros assassinaram o jornalista e líder comunitário Eduardo Estrada Gutiérrez na cidade colombiana de San Pablo, um dos municípios que podem ser desmilitarizados para servir de sede aos diálogos de paz com a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN). Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque.

Entre os 33 jornalistas assassinados em todo o mundo neste ano, 8 foram mortos na Colômbia, o que transformou o país no mais perigoso do mundo para profissionais de imprensa, segundo relatório divulgado ontem pela Associação Mundial de Jornais, com sede em Paris.

De acordo com a entidade, houve uma ?epidemia de assassinatos? de jornalistas na América Latina e na Ásia – onde, só nas Filipinas, cinco repórteres foram mortos."

 

ECONOMIST vs. CHIRAC

"Revista ?The Economist? ataca Chirac", copyright Folha de S. Paulo, 21/7/01

"O último número da revista conservadora inglesa ?The Economist? chegou como uma bomba às bancas de Paris. A edição francesa da revista traz um violento editorial contra o presidente francês, Jacques Chirac, e a foto dele na capa, em pose arrogante, ao lado da chamada: ?Liberdade, igualdade, impunidade??.

?O sr. Chirac está na política há quase 40 anos, servindo aos contribuintes, mas também, às expensas deles, alimentando-se, bebendo vinho e morando com um esplendor que a maioria nem sequer pode imaginar?, escreve a ?The Economist? no editorial, que interpela o presidente a respeito de sua recusa em comparecer à Justiça para ser ouvido sobre suspeitas de corrupção. Para a revista, Chirac deveria considerar seu escrutínio como ?inevitável?.

Chirac (centro-direita) vive um inferno político no país, acusado de uma série de atos de corrupção e sob a ameaça de ter de depor na Suprema Corte, fato inédito para um presidente francês.

O mais recente desses escândalos é a suspeita de que teria gasto 2,4 milhões de francos (cerca de R$ 800 mil) dos ?fundos secretos? do país para pagamento, em espécie, de viagens luxuosas de férias. Os fundos especiais, ou ?secretos?, são utilizados nos serviços de segurança do Estado e também distribuídos entre membros do governo. Não necessitam de comprovação de gastos.

Até agora, Chirac tem conseguido evitar a convocação da Justiça, fazendo uso da imunidade presidencial garantida pela Constituição do país.

A chamada de capa da ?Economist? se refere ao mote da Revolução Francesa (liberdade, igualdade, fraternidade) e é uma provocação ao presidente, que em entrevista em rede nacional no último dia 14 (Dia da Bastilha), declarou que se recusaria a comparecer à Justiça por não se considerar, na condição de presidente, um cidadão como os outros.

Mas a ?The Economist? pergunta: ?Cerca de 340 anos -e uma revolução- ocorreram desde que Luís 14, comparando a si mesmo com o Estado, declarou ?L?état c?est moi? (o Estado sou eu), então por que o presidente francês, Jacques Chirac, ainda se coloca acima das leis que atingem os cidadãos comuns??.

O diagnóstico da influente revista é que a posição de Chirac enfraquece as instituições ?republicanas? (democráticas). ?O fato de que um cidadão esteja acima da lei, enquanto outros não, corrói a confiança popular na igualdade democrática?, diz o editorial.

A relutância do presidente também impede de ver que ?a França está mudando mais rápido que seus políticos?.

?As regulações da União Européia e também os investidores estrangeiros querem franqueza, não segredo?, escreve a ?Economist?. A revista pede o fim dos ?fundos secretos? no país, comparando-o com um negócio de ?república de bananas?.

O editorial também provocou ontem a imprensa francesa, levando-a a fazer um auto-questionamento.

A excelente revista ?Courrier International?, que compila artigos publicados em todo o mundo, foi a primeira a se manifestar sobre o assunto. Em artigo on-line de apresentação ao editorial da ?Economist? afirmou que, ?por hábito ou por reflexo, as grandes mídias francesas amaciam frequentemente suas palavras para falar dos poderosos, enquanto os jornalistas anglo-saxões se mostram mais corajosos?.

O autor do artigo, Marco Schütz, redator-chefe de internet da revista, declarou à Folha que os jornalistas ingleses e americanos têm ?uma total independência em relação ao poder político, princípio que nem sempre existe na França?.

Na sua opinião, a condescendência da mídia com os governantes aparece sobretudo nas coberturas de TV. ?A entrevista de Chirac no 14 de Julho (feita por três jornalistas das redes nacionais) foi antológica neste sentido.?

O redator-chefe adjunto do ?Le Monde?, Gérard Courtois, considera que a diferença entre anglo-saxões e franceses é sobretudo de tom. ?Os anglo-saxões são mais diretos, os franceses, mais respeitosos. Na França não se tem a mesma liberdade de tom que nos Estados Unidos, mas no trabalho de investigação não vejo diferença. No resultado, somos iguais?, disse ele. Para Courtois, na mesma entrevista de Chirac na TV, um jornalista americano teria apresentado ao presidente a lista de viagens a ele atribuídas e perguntado: ?Quem pagou por isso??.

O ataque da ?Economist? a Chirac é o segundo em menos de quatro meses feito pela revista a uma grande liderança de direita do continente. Em abril, a revista afirmou, em editorial semelhante, às vésperas das eleições na Itália, que Silvio Berlusconi não tinha condições de governar o país. Ele ameaçou processar a revista e a qualificou de ?esquerda?. ?The Economist?, editada na Inglaterra desde 1843, é notoriamente uma revista liberal, uma das mais conceituadas sobre economia do mundo. Em maio, Berlusconi venceria as eleições para primeiro-ministro.

Chirac é provável candidato pela RPR (Reunião pela República) para as eleições presidenciais na França em 2002.

Nas pesquisas de opinião, Chirac tem uma popularidade ligeiramente superior à do primeiro-ministro, Lionel Jospin (socialista), que também deve se candidatar."

    
    

                  

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