Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2002

“Espetáculo farsesco”, Editorial, copyright O Estado de S. Paulo, 13/08/02

“Pobre do eleitor em cujos Estados magotes de candidatos querem o seu voto para governador. Porque – se ele depender exclusivamente da televisão para fazer a sua escolha, como a grande maioria – o excesso de joio, ocupando a cena, não lhe permitirá ter uma idéia minimamente razoável das qualidades e defeitos das variedades de trigo entre as quais será chamado a se decidir. O democratismo da legislação, como se sabe, obriga as emissoras que promovem debates eleitorais a neles incluir todos os candidatos cujas coligações ou siglas, por insignificantes que sejam, tenham representante na Câmara dos Deputados – são 16 os partidos com assento na Casa.

Uma vez imposta a sua presença, eles competem, naturalmente em igualdade de condições com os demais, pela atenção dos espectadores que já não tiverem mudado de canal ou sucumbido ao sono. Além disso, como o formato dos debates é negociado com todos os participantes, os ?nanicos? ajudam a entravar o programa – o que também afugenta o eleitor. Eles ainda farão aparições fugazes, no horário de propaganda gratuita que começa de hoje a uma semana.

Terão, assim, parafraseando Andy Warhol, os 15 segundos de fama que almejam, quase sempre a fim de acumular capital para outras jogadas.

Isso, sem falar naqueles que não estão disputando nada, no sentido real do termo, e ocupam exclusivamente as nesgas de tempo de que são donatários para, a serviço de um candidato, atacar outro. Às vezes, nem eles, nem os seus financiadores se preocupam em disfarçar a fraude eleitoral. No último pleito municipal em São Paulo, por exemplo, dois desses prepostos, que só faziam atacar o então vice-governador Geraldo Alckmin, candidato a prefeito, usavam nos seus ?comerciais? do horário político – a palavra não poderia ser mais apropriada – as mesmas imagens e o mesmo locutor. Embora acionada, a Justiça Eleitoral não deteve a tempo a impostura.

Nos debates televisivos, a obsessão pela igualdade formal de oportunidades eleitorais, a que a legislação atrela as emissoras, ao transformar numa farsa de mau gosto o desejável confronto de propostas e de capacitação para os governos estaduais, acaba funcionando em prejuízo das melhores idéias e dos candidatos mais bem preparados. Nesse sentido, o deprimente espetáculo que se viu domingo, no interminável programa da TV Bandeirantes, com nove dos dez candidatos legalmente habilitados a participar da sucessão em São Paulo – o canal também realizou debates em mais 12 Estados – pode ter sido tudo menos uma surpresa.

Para começar, o congestionamento de convidados foi um presente para o candidato Paulo Maluf, dando-lhe um pretexto para deixar de comparecer.

Líder nas pesquisas eleitorais e portador de uma biografia que o torna alvo fácil de sérias acusações, tanto no plano da competência administrativa como no da moralidade pública, é evidente que a sua estratégia mais segura é a de se expor o mínimo possível ao enfrentamento com os adversários, para não colocar em risco as suas chances de alcançar o segundo turno. (Outro candidato que figura em primeiro lugar nas sondagens, o tucano Aécio Neves, em Minas Gerais, também alegou excesso de participantes – nove, com ele – para evitar o debate.) Ausente Maluf, a ?bola da vez? foi Geraldo Alckmin, segundo nas pesquisas, fustigado à esquerda e à direita. Exceto pelas críticas gerais à ausência do pepebista, o programa foi uma sucessão de ataques ao governador, quase sempre enfadonhos e, em uma ocasião, de baixo nível. O quercista Fernando Morais (com 1% das intenções de voto e que aparece como figurante nos outdoors da candidatura ao Senado de seu patrono) tratou de se destacar do soporífero desfile de platitudes, sugerindo haver corrupção nas obras do Rodoanel. Alckmin obteve direito de resposta para dizer que não admite insinuações, ?ainda mais vindo de quem vem?. E explicou: ?Corrupção é no quintal de outras pessoas. Ele (Morais) deveria procurar corrupção no seu quintal.? O peemedebista fingiu não entender a quem o governador aludia.

Desfigurados pelo acúmulo de nulidades, siglas fantasmagóricas e candidaturas de faz-de-conta, os debates acabam tendo o efeito perverso de distanciar ainda mais o eleitor dos pleitos estaduais já sufocados pela sucessão presidencial. Se o horário gratuito não tem conserto, pelo menos as TVs que organizam esses debates deveriam ter a liberdade de prestar, também nos Estados, o serviço de utilidade pública de que se têm mostrado capazes no plano nacional.”

 

“Que será, Serra?”, copyright Folha de S. Paulo / The Economist, 16/08/02

“Até dois meses atrás, parecia provável que a eleição presidencial de outubro seria ganha por José Serra, aliado e amigo próximo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde então, cada pesquisa traz más notícias a ele.

Assim começa notícia publicada no site da revista ontem e que sairá na sua versão impressa neste fim de semana. O título original é mesmo em português, mas sem acento no ?será?.

A publicação classifica a candidatura Serra como do governo e dos mercados e especula se ela está condenada.

Diz que Serra, talvez, seja simplesmente o candidato errado. Argumenta que Tasso Jereissati tinha mais apoio entre a coligação que elegeu FHC. Em segundo lugar, diz que Serra pode ter errado ao sugerir que ele seria o único a evitar que o Brasil seguisse a Argentina no caos financeiro. Pesquisas mostram que eleitores identificam Serra com um governo que eles culpam pela crise. Também não ajudou a hesitação em posar como um candidato de mudança, quando ele representa a continuidade. Por outro lado, diz que Ciro Gomes tem tudo o que falta a Serra: carisma, habilidade na TV e uma parceira atraente em Patrícia Pillar.

A revista diz que Serra tem duas esperanças: usar bem seu tempo de TV e esperar que as constantes contradições e discussões com repórteres de Ciro o atrapalhem.”

“Eleições”, copyright Folha de S. Paulo

18/08/02- Pesquisas

?A propósito da nota ?O imparcial?, publicada na seção ?Painel? em 16/8 (Brasil, pág. A4), nós, do Doxa/Iuperj, estranhamos o teor e a conotação implícita de ?colaboração? estreita do Iuperj com a sigla PT, oferecendo ao leitor a inferência de que o Iuperj estaria assessorando, ainda que indiretamente, uma campanha eleitoral.

A nota não corresponde aos fatos. A nossa pesquisa sobre a cobertura jornalística é inteiramente financiada por dotações públicas, por agências de fomento, nos programas de apoio à pesquisa básica e científica.

Assessores da campanha do PT, assim como de outras campanhas, colegas acadêmicos e jornalistas, até mesmo de editorias políticas, nos procuraram todos com a mesma intenção: a de inteirar-se de forma mais aprofundada sobre a qualidade metodológica de nosso trabalho tão logo colocamos no ar os primeiros resultados.

A todos abrimos os nossos arquivos e a todos oferecemos colaboração para que seus trabalhos, semelhantes ao nosso, não fossem vítimas de nenhum tipo de viés.

Temos colaborado com todos os que nos procuram com seriedade, sem preferências políticas e dentro do espírito apartidário e republicano que sempre norteou o Iuperj.

Por essas razões, solicitamos a retificação da nossa suposta vinculação com a campanha do PT.? Marcus Figueiredo, coordenador do projeto Eleições 2002, Doxa/Iuperj (Rio de Janeiro, RJ)

Resposta de Rogério Gentile, editor do ?Painel? – A coluna não fez juízo de valor. Apenas registrou que o Iuperj colabora com o comitê de Lula.

16/08/02 – Debate

?Assisti a dois debates promovidos pela Folha com os presidenciáveis. No primeiro, com Lula, os jornalistas que fizeram perguntas foram muito cordatos e suaves nas suas intervenções. No debate com Ciro Gomes, lançaram-se para ?massacrar? o candidato, cujo som do microfone estava muito baixo, diferentemente do som do microfone de Clóvis Rossi, que, com sua voz tonitruante, parecia querer contestar de modo ácido o entrevistado. Apresentei, nas duas oportunidades, uma pergunta fundamental -que incluo no final desta mensagem- que não mereceu a atenção dos organizadores, que preferiram selecionar perguntas inexpressivas como as que o jornal publicou na edição de 14/8. No debate com Lula, o som foi colocado em bom volume para que os convidados pudessem ouvi-lo. Mas, com Ciro Gomes, o som estava baixo e só foi corrigido ao final da sessão. Certamente, os perguntadores que procuraram ?massacrar? Ciro não tinham a intenção de fazê-lo, mas pareceu a todos os presentes que a intenção não era esclarecer, mas, sim, contraditar, deixando a dúvida no ar. A pergunta que gostaria de ter feito é: ?O senhor está de acordo em receber US$ 30 bilhões do FMI??.? Tito Livio Fleury Martins (São Paulo, SP)

15/08/02 – PT

?A Folha editorializou a cobertura do debate com o nosso candidato, Luiz Ináaacute;cio Lula da Silva, usando uma linguagem de estranhamento e dando ênfase ao que ele não disse. Chamada de Primeira Página em 13/8 diz que ?Lula evitou o confronto?. Eu pergunto: confronto com quem? Lula foi à Folha, a convite, para ser entrevistado por jornalistas e para responder a perguntas do público -o que foi feito-, e não para confrontar outros candidatos -que serão também entrevistados. O título de reportagem interna diz: ?Evasivo, Lula poupa bancos, mídia e FHC?. A ênfase é em algo que ele não fez, e não no que ele falou. E, se Lula foi de fato evasivo, caberia aos jornalistas, todos da Folha, insistir nas questões -no momento e na hora da entrevista. O relato dos debates deveria ter sido substantivo, cabendo ao leitor fazer os seus julgamentos, sem a indução de manchetes valorativas ou depreciativas. Foi assim que o debate foi relatado pelos demais jornais. Por ser a promotora do debate, mais ainda a Folha deveria ater-se à transcrição ampla e direta -com apenas alguns recursos de titulação e outros que facilitem a leitura. Para o seu próprio julgamento do debate, a Folha poderia ter usado seus espaços editoriais. Além disso, os jornalistas da Folha que participaram do debate, assim como outros que não estiveram no encontro, possuem colunas assinadas, nas quais poderiam expressar as suas opiniões sobre o desempenho de Lula -como fez Marcelo Coelho na mesma edição.? Bernardo Kucinski, Comitê Lula Presidente (São Paulo, SP)

Dia 13 – Prefeitos do PL

?O repórter Fausto Siqueira, na reportagem ?Prefeitos do PL rejeitam apoio à candidatura Lula? (Brasil, pág. A4, 12/8), omitiu, deliberadamente, a existência e a opinião do prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, no tocante à sucessão presidencial. Provavelmente ameaçado pela possibilidade de ver a sua reportagem ?derrubada? (extinta), o repórter em questão escondeu dos qualificados leitores da Folha o fato de que o prefeito Alfredo Nascimento existe, foi eleito pelo PL e destacou-se como a grande força política do Norte brasileiro a se engajar na candidatura de Lula. Sendo assim, a reportagem, que pretendeu ?informar? que os prefeitos do PL rejeitariam Lula, ?esqueceu-se? de mencionar a posição do prefeito, que, com sucesso e ampla aprovação, dirige a maior cidade administrada pelo Partido Liberal. O repórter, que não respeitou os fatos, debilitou a informação para construir uma ?tese de conveniência?. Também negligenciou importante mandamento do jornalismo ao publicar números incorretos sobre as prefeituras administradas pelo PL.? Valdemar Costa Neto, presidente nacional do Partido Liberal (Brasília, DF)

Resposta do jornalista Fausto Siqueira -Alfredo Nascimento não foi eleito em coligação com o PT em 2000. E apenas prefeitos nessa condição foram objeto da reportagem.

Pesquisas

?Em sua coluna do dia 6/8 (?Vox Ciro?), o colunista Nelson de Sá, nas vezes em que pretende somente ofender-me (gratuitamente, como ao aspear a expressão ?analista? a mim aplicada, coisa apenas infantil, considerando a minha experiência como profissional), pode ficar à vontade. É totalmente diversa a situação quando esse senhor expende suas opiniões e atinge uma empresa como o Vox Populi no que há de mais essencial a um instituto de pesquisa. Dar o nome de ?Ciro Vox? à coluna é tão verdadeiro nas eleições deste ano quanto poderia ser ?Lula Vox?, ?Serra Vox?, ?Garotinho Vox? ou ainda ?Itamar Vox? e ?Roseana Vox?, entre outros. Diferentemente do que pensa o sr. Sá, este instituto presta ou já prestou os seus serviços a todos esses candidatos. De algum lugar ignorado, o sr. Sá tirou a certeza de que José Serra ?não está tão atrás de Ciro Gomes quanto anunciava (…) o Vox Populi?. À luz dos resultados mais recentes de outro instituto -o Ibope-, a diferença entre os dois candidatos está, ao que parece, muito perto da que apontávamos. De alguma origem que desconheço, o sr. Sá permite tornar suspeito (?ninguém trabalhou mais para o debate que Marcos Coimbra?) um fato tão corriqueiro que só ele pode estranhar: que um profissional de pesquisa faça seu trabalho, apresentando resultados de pesquisa a quem interessavam. Já fiz isso centenas de vezes para clientes de todos os tipos e espero continuar a fazê-lo. Sua aparente preocupação com a data da divulgação de nossa última pesquisa é cômica. O que imagina? Que eu sabia que o ?Jornal Nacional? ?mais exporia? alguma coisa e daí ?fechei? a pesquisa? Que eu e a Rede Globo estamos juntos em uma conspiração pró-Ciro? No último parágrafo, o jornalista diz: ?Para fechar uma semana tão exaustiva, Coimbra espalhou que uma pesquisa qualitativa de seu Vox Populi mostrou que o debate não vai alterar quase nada a intenção de voto?. É apenas uma mentira.? Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Nelson de Sá – A pesquisa de Marcos Coimbra citada na coluna de 6/8 era conflitante com a da CNT/Sensus. O trabalho de Coimbra naquela semana havia sido partidário (convenceu José Carlos Martinez a se demitir), daí o estranhamento de ser tratado como um isento ?analista?. Quanto à ?falsa? pesquisa qualitativa do debate, ela foi divulgada pelo próprio Coimbra em ?O Estado de S.Paulo? no dia 5/8.”