Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

ROBERTO MARINHO (1904-2003)

"Roberto Irineu Marinho assume cargo do pai", copyright O Estado de S. Paulo, 9/08/03

"Os irmãos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho divulgaram ontem nota sobre as modificações que as Organizações Globo sofrerão com a morte do seu fundador, Roberto Marinho. ?Nós, filhos de Roberto Marinho, ainda emocionados pela perda de nosso pai, comunicamos as medidas organizacionais necessárias para que sua obra prossiga na trajetória de sucesso que ele imprimiu, e imbuída dos valores que tanto lhe foram caros.

Desde 1998, compúnhamos o Conselho de Gestão das Organizações Globo, por ele presidido. Agora, Roberto Irineu Marinho passa a ocupar o cargo de presidente das Organizações Globo, a ele subordinando-se diretamente nossos diversos negócios. João Roberto Marinho continuará ocupando a vice-presidência de Relações Institucionais, presidindo o Conselho Editorial das Organizações Globo e as relações com os diferentes segmentos da sociedade. José Roberto Marinho, como vice-presidente de Responsabilidade Social, prosseguirá liderando projetos de ação comunitária e a Fundação Roberto Marinho.

Nosso compromisso, em conjunto com nossos companheiros de trabalho, é ampliar a obra de Roberto Marinho, voltada para informar, entreter e educar a população brasileira. Assim o fazemos pela importância em si desse objetivo para toda nossa sociedade, mas também porque, dessa forma, manteremos viva a sua presença. Rio de Janeiro, 8 de agosto de 2003"

 


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"?NYTimes? elogia Roberto Marinho", copyright O Estado de S. Paulo, 9/08/03

"A morte do jornalista e empresário Roberto Marinho, fundador das Organizações Globo, foi registrada até pela imprensa americana e continuou a repercutir.

* The New York Times: ?Apesar de ser, indubitavelmente, o maior empresário da mídia brasileira, Roberto Marinho sempre fez questão de ser considerado, acima de tudo, um jornalista. Ele nunca pretendeu esconder suas posições políticas – apoiou o golpe militar de 1964 que retirou do poder o presidente João Goulart e cortejou abertamente seus políticos favoritos -, mas sempre se definia como um patriota. Assegurou a independência do jornal O Globo e construiu o seu império com um misto de pragmatismo e obstinação.?

* Ruy Mesquita, diretor do ?Estado?, que enviou carta à família Marinho: ?Reiterando a homenagem que rendi à memória do grande jornalista Roberto Marinho em entrevista à TV Globo, venho agora me solidarizar com vocês neste momento de dor, certo de que as Organizações Globo seguirão em sua rota vitoriosa.?

* Senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA): ?É um dos homens mais empreendedores que o País já teve em todos os tempos. Um amigo que eu tinha havia 44 anos, que me aconselhava. Perco um irmão mais velho e o Brasil perde um dos melhores homens. Apesar de ser tão forte e tão poderoso, era sempre humilde e bondoso.?

* Gilberto Gil, ministro da Cultura: ?Se não fosse o império que acabou sendo a Globo, talvez hoje nós não fôssemos um país com o conteúdo nacional tão grande. E ele fazia questão de ser humilde, especialmente na relação com os mais humildes. As Organizações Globo só têm um destino possível: crescer.?

* Aloízio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado: ?Roberto Marinho foi um jornalista que acompanhou a vida pública por mais de meio século e teve papel fundamental em todos os momentos. É uma referência no debate do papel dos meios de comunicação na história recente do País.?

* José Serra (PSDB-SP), ex-ministro e ex-senador: ?Teve uma importância imensa para o Brasil, não apenas pelo passado, mas pelo futuro. Tinha grande espírito empreendedor e muita coragem.?"

"Roberto Marinho", Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 8/08/03

"A morte de Roberto Marinho encerra uma existência longa e fecunda que se entrelaça com toda uma era da vida nacional.

Ainda muito jovem, quando recebeu, em 1925, o encargo de conduzir um jornal então recém-fundado por seu pai, Roberto Marinho desempenhou influência crescente conforme sua atividade de empresário das comunicações se estendia para o rádio, nos anos 40 do século passado, até culminar com o amplo predomínio que a Rede Globo passou a exercer a partir do início da década de 70.

Sua contribuição mais decisiva terá sido esta, a criação de um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo e o estabelecimento de um modelo de indústria do entretenimento que ajudou a moldar a cultura de massas e a imaginação popular no Brasil dos últimos decênios.

Pode-se questionar se o crescimento exponencial da Rede Globo não sufoca outras possibilidades de expressão no país ou se não resultou em alguma medida da simbiose entre a emissora e o regime militar, do qual foi considerada porta-voz oficiosa em certo período. Mas é inegável que, graças ao tirocínio e ao trabalho pertinaz de Roberto Marinho e de sua equipe, a televisão brasileira alcançou elevado padrão técnico e se converteu na mais poderosa alavanca da integração cultural do Brasil.

O patriarca deixa sua marca também na escola de jornalismo representada pelo jornal ?O Globo?, um dos mais influentes do país, notável sobretudo pela tradição da informação exata e pela ênfase na interação com a comunidade, para não mencionar um amplo leque de produtos e serviços que alcança todas as modalidades de comunicação: revista, livro, TV por assinatura, internet.

Em termos pessoais, Roberto Marinho era homem de interesses ecléticos, que iam do esporte às artes plásticas, compondo uma personalidade multifacetada que lhe valeu o reconhecimento expresso em sua eleição para a Academia Brasileira de Letras. Apesar do poder que exerceu, era pessoa de hábitos simples e trato generoso.

Do jornalismo boêmio dos anos 20 à exportação de telenovelas, Roberto Marinho foi um dos protagonistas da evolução que fez da indústria de comunicações brasileira uma realidade pujante, diversificada e em compasso com o desenvolvimento da sociedade. Que essa indústria atravesse hoje um período de severas dificuldades é motivo a mais para que seu exemplo de trabalho devotado inspire nossa determinação de enfrentar obstáculos e investir no progresso do Brasil."

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"Roberto Irineu é novo presidente de conselho das Organizações Globo", copyright Folha de S. Paulo, 9/08/03

"Roberto Irineu Marinho, 55, filho mais velho de Roberto Marinho, assumiu a presidência do Conselho de Gestão das Organizações Globo. O cargo ficou vago com a morte do empresário, aos 98 anos, na quarta-feira.

A mudança foi anunciada pela família Marinho em nota divulgada ontem à noite. Roberto Irineu ficará responsável pelos negócios do grupo. Os outros dois filhos de Roberto Marinho, João Roberto, 49, e José Roberto, 47, permanecerão como vice-presidentes do Conselho de Gestão.

João Roberto continuará na presidência do conselho editorial das Organizações Globo e responsável pelas relações institucionais do grupo. José Roberto prosseguirá à frente dos projetos de ação comunitária e da Fundação Roberto Marinho. A nota com a nova composição foi assinada pelos três irmãos.

A estrutura de comando das Organizações Globo foi definida em novembro de 1998. Com a criação do Conselho de Gestão, os herdeiros Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho deixaram as funções executivas e passaram a se dedicar às ações estratégicas.

O grande desafio da família Marinho será reverter o quadro de endividamento da Globopar, principal holding das Organizações Globo. No final do ano passado, a empresa suspendeu o pagamento de sua dívida (equivalente a US$ 1,3 bilhão) com credores internos e internacionais e fechou o balanço anual com prejuízo de R$ 5 bilhões.

A expectativa é de que o processo de renegociação com os credores se prolongue pelo menos até o final do ano."

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"Morre Roberto Marinho, criador da Globo", copyright Folha de S. Paulo, 7/08/03

O empresário e jornalista Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, morreu ontem à noite, aos 98 anos, no Rio de Janeiro.

Marinho, que iniciou seu império de comunicação ao assumir o jornal ?O Globo?, fundado em 1925 por seu pai, Irineu Marinho, sofreu um edema pulmonar por volta de 9h30 da manhã de ontem, em sua casa, e foi internado na unidade de terapia intensiva do hospital Samaritano (Botafogo, zona sul). Os médicos iniciaram uma cirurgia para tentar dissolver o coágulo por volta das 21h30, mas o empresário não resistiu.

A morte de Marinho foi anunciada pela TV Globo por volta das 22h45. Pouco antes, a Central Globo de Comunicação havia divulgado uma nota informando sobre a internação do empresário, que era membro da Academia Brasileira de Letras.

Roberto Marinho deixa viúva, Lili Marinho, e três filhos, Roberto Irineu, 55, João Roberto, 49, e José Roberto Marinho, 47, todos do primeiro casamento, com Stella de Campos Goulart. Tinha 11 netos e cinco bisnetos.

Luto oficial

O corpo será velado hoje, a partir das 10h, em sua casa, no Cosme Velho (zona sul). O enterro será às 16h no mausoléu da família Marinho, no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a governadora Rosinha Matheus, do Rio, decretaram três dias de luto oficial no país e no Estado, respectivamente.

A última aparição pública de Marinho foi no dia 29 de julho, quando participou da missa em comemoração aos 78 anos de ?O Globo?. Nota divulgada pela Central Globo de Comunicação diz que o empresário deu ?prova de coragem e confiança no Brasil? ao fundar aos 60 anos a TV Globo, que viria a se tornar na virada dos anos 60 para os 70 a maior rede de televisão do país. Foi a partir dessa época, com a consolidação da hegemonia da Globo entre os meios de comunicação, que Marinho amplificou seu poder de influência econômica e política.

As Organizações Globo reúnem hoje, além da rede de TV, emissoras de rádio, jornais no Rio e em São Paulo, a editora Globo, empresa de TV por assinatura e a Fundação Roberto Marinho. A morte do empresário ocorre no momento em que as empresas vivem a maior crise financeira de sua história.

Os filhos de Roberto Marinho divulgaram uma mensagem na qual se dizem ?consternados? com a morte do pai e afirmam que seguirão o caminho do empresário, que teve uma ?vida reta, dedicada ao trabalho e, fundamentalmente, ao desenvolvimento do Brasil?.

Segundo a mensagem, o empresário tinha ?fibra em busca da verdade?, ?determinação na busca de realizar sonhos? e uma posição ?obstinada? em defesa da cultura nacional. ?Este é o único caminho que um conjunto de empresas como as Organizações Globo pode seguir?, concluiu a nota, na qual os filhos de Roberto Marinho reafirmam confiança ?no futuro de nosso Brasil?.

Estiveram ontem à noite no hospital Samaritano dois dos filhos do empresário, João Roberto e Roberto Irineu, que não deram entrevista, além do seu irmão, Rogério Marinho. ?É uma tristeza muito grande. Perdi mais do que um irmão. Perdi um segundo pai?, disse Rogério Marinho.

Com a morte de Roberto Marinho, ficará vaga a cadeira número 39 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 1993, substituindo o jornalista Otto Lara Resende. O empresário publicou, em 1992, um livro que recebeu o título de ?Uma trajetória liberal?, reunindo textos em que relatava sua convivência com personalidades históricas como Carlos Lacerda, Tancredo Neves e Luís Carlos Prestes."

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"Repercussão", copyright Folha de S. Paulo, 7/08/03

"ROBERTO CIVITA, presidente do Grupo Abril:

?Roberto Marinho entra na história com o peso de ter feito, em todas as frentes da comunicação, uma obra importantíssima. Foi uma grande figura. Vai ser difícil encontrar outro?.

JOÃO CARLOS SAAD, presidente do Grupo Bandeirantes:

?Roberto Marinho foi o empresário do setor de comunicações que maior sucesso alcançou. Sua trajetória de êxito ficará registrada na história da comunicação brasileira?.

JOSÉ BONIFÁCIO DE OLIVEIRA SOBRINHO, O BONI, ex-vice-presidente das Organizações Globo:

?A morte do doutor Roberto [Marinho] é como se tivesse perdido um pai. Raras pessoas no mundo conseguiram realizar todos os sonhos, ter tanta competência para contornar todos os problemas. Ele começou a criar a TV Globo aos 60 anos?.

FERNANDO MITRE, diretor de jornalismo da Bandeirantes:

?É uma história de competência, de realização. [O Roberto Marinho] Teve uma vida absolutamente plena de frutos e construiu uma história. Por isso, faz parte da história do Brasil?.

CID MOREIRA, apresentador:

?Ele sempre foi um exemplo de trabalho. Sempre pautei minha vida no trabalho dele, em sua abnegação?.

J.B. DE OLIVEIRA, Boninho, diretor da TV Globo:

?O Roberto Marinho era um empreendedor fantástico, um homem corajoso que, aos 60 anos de idade, acreditou num sonho impossível. Por isso, aos 98 anos, ainda era um jovem?.

MANOEL CARLOS, autor da Globo:

?Lamento muito. Tinha grande admiração por sua competência e liderança. Era um homem de extraordinária iniciativa?.

BENEDITO RUY BARBOSA, autor da Globo:

?Ele foi um exemplo de vida, de jornalista, de empresário e de patrão. Sempre me senti muito à vontade para trabalhar, sem medo de sofrer nenhum tipo de censura. Sua morte soa muito mais dolorida para nós que trabalhávamos na Globo. Seu mérito sempre foi saber escolher as pessoas e delegar poder. Por isso a Globo se tornou a potência que é?.

LIMA DUARTE, ator:

?Trabalho há 32 anos na TV Globo. [O Roberto Marinho] Era o homem que mais investia na produção cultural nacional, goste ou não de suas novelas. Lembro-me quando fomos à inauguração da nova iluminação do Cristo Redentor e tínhamos de subir aqueles 200 degraus, e ele pediu: ?Posso pegar no seu braço??. Chegando lá em cima, eu disse para ele: ?Você está bem melhor do que eu?. E ele respondeu: ?O senhor é mesmo um bom ator?. Ele era um amigo e um patrão como poucos?.

EVA WILMA, atriz:

?Comandou uma grande rede de comunicações com justiça e de modo democrático. Nunca perseguiu ninguém e sempre foi pela liberdade de expressão. Sua importância nas comunicações foi ainda maior por ter levado a teledramaturgia nacional para o exterior de forma heróica?.

SERGINHO GROISMAN, apresentador da Globo:

?Aos 60 e poucos anos, ele criou uma rede como a Globo, que sempre se diferenciou pela teledramaturgia e pelo jornalismo. Como um homem que dedicou sua vida às comunicações e veio do jornalismo impresso, ele sacou a importância do jornalismo na televisão antes do que as outras emissoras de sua época, como a Tupi e a Excelsior?.

VERA HOLTZ, atriz:

?Ele era como uma entidade pra gente, um ser superior a tudo. É estranho receber essa notícia, pois era como se fosse da família. As pessoas perguntam, comentam sobre isso, como se fosse um familiar. Eu sinto muito?.

ZIRALDO, cartunista e escritor:

?Quando gostava de um funcionário, ninguém ?tascava? com ele. Essas pessoas vão sentir falta dele. Ele foi um homem que construiu um império e eu o respeito por isso?.

LUIZ GONZAGA BELLUZO, economista:

?Ele foi um homem importante para a mídia brasileira, construiu um complexo de informação midiática. Do ponto de vista político, tenho minhas dúvidas se fez bem para o Brasil. O tempo vai dizer isso, vai dizer qual foi o efeito sobre a cultura, a qualidade na divulgação de informação?."

 

"Roberto Marinho", copyright Folha de S. Paulo

"8/08/03

?Um país precisa de empreendedores para se desenvolver. O povo necessita de homens audaciosos, que tenham coragem e vontade de criar postos de trabalho, de movimentar a economia, de gerar riquezas e, consequentemente, de ajudar na construção de uma grande nação. Roberto Marinho foi sinônimo de poder, de respeito e de admiração. Do rico ao pobre, todos o viam como um homem capaz de mudar os rumos da história do país. O Brasil carece de outros Roberto Marinho. Ele saiu da vida para entrar na história.? Flávio Romero Ferreira Soares (Brasília, DF)

?Gostaria de dar meus pêsames aos familiares do jornalista Roberto Marinho, que não podem ser responsabilizados pelos desmandos do patriarca. Mas é importante lembrar, neste país sem memória, a sua participação no DIP, na ditadura Vargas, censurando jornais, a sua campanha contra a criação da Petrobras e o seu engajamento no apoio ao regime militar, do qual participou ativamente e do qual beneficiou-se tremendamente (caso Globo-Time Life). Hoje, já morto, é visto como grande democrata, mas é bom lembrar que fez o que pôde para solapar a campanha das ?Diretas-Já? e fez de seu canal a rampa que levou Collor ao poder. Sem dúvida, foi um grande empresário, mas nunca um grande brasileiro.? Federico Erdocia (Jundiaí, SP)

 

11/08/03

?A TV Globo se sente gratificada pelo reconhecimento da Folha, até em editorial, do papel da Globo como ?um modelo de indústria do entretenimento que ajudou a moldar a cultura de massas e a imaginação popular no Brasil dos últimos decênios? e da importância do nosso jornalismo, entre outras qualidades ressaltadas na cobertura da morte do jornalista Roberto Marinho. Mas são necessários os seguintes esclarecimentos: 1) a TV Globo jamais foi porta-voz dos militares, que tinham os seus próprios funcionários e a possibilidade de convocar cadeia nacional de rádio e televisão (em 65, quando foi fundada, a Globo até mesmo irritou os militares ao, inadvertidamente, não participar de uma delas). Se, em 64, Roberto Marinho apoiou o movimento militar, a Folha e outros jornais também o fizeram; 2) a Folha diz que a TV Globo cresceu no regime autoritário, mas se esquece de informar que foi por méritos próprios. Sua audiência cresceu em razão da qualidade de sua programação, reconhecida até por seus adversários mais severos. E sua receita publicitária acompanhou a audiência, como é natural. Roberto Marinho jamais recebeu concessão nenhuma de TV dos militares (no período, as que obteve, adquiriu-as comprando de particulares). Foram os seus concorrentes que receberam, de graça, dos militares, concessões que, no conjunto, formaram duas redes de TV; 3) ainda sobre o regime militar, a Folha diz que ?as empresas do grupo se adaptaram às regras impostas pelos governantes? em relação ao noticiário político e econômico. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que, no período, toda a imprensa brasileira sofreu draconiana censura prévia. A TV Globo não somente não foi exceção como foi a que mais sofreu, já que, desde então, é o veículo com maior audiência e maior alcance nacional; 4) a Folha afirma também que, ?no primeiro semestre de 84, a Rede Globo ignorou completamente as manifestações populares em favor das eleições diretas para a Presidência da República? e que foi somente a partir do comício da Candelária que a TV transmitiu reportagem completa. Isso não é fato. Durante todo o ano de 83, a TV Globo noticiou todos os passos da movimentação política da emenda Dante de Oliveira em seus telejornais, com entrevistas com líderes da oposição, desde que a emenda começou a tramitar. E todos os comícios das diretas, repetimos, todos, foram objeto de reportagens em nossos telejornais, incluindo o da Sé, numa edição do ?Jornal Nacional? que, depois de mostrar a multidão, de dizer que ela não arredava o pé dali nem com a chuva, de mostrar o palanque repleto de políticos e artistas, se encerrava com trecho do discurso de Franco Montoro. O então governador de São Paulo afirmava que, após conquistar a anistia ampla, geral e irrestrita e o direito de eleger os governadores, os brasileiros precisavam conquistar o direito de votar para presidente. Nosso Centro de Documentação está aberto para que a Folha assista a todas as reportagens aqui citadas; 5) a Folha diz também que ?Collor e Marinho se entenderam até agosto de 92, quando a campanha pela destituição do presidente já tinha sido encampada por toda a sociedade?. Sobre isso, a TV Globo também convida a Folha a uma visita ao seu Centro de Documentação para que veja que a cobertura do impeachment começou, com intensidade, desde o momento em que as denúncias de Pedro Collor eclodiram e seguiram até o julgamento do presidente pelo Senado, em 28 de dezembro daquele ano.?

Luis Erlanger, Central Globo de Comunicação (Rio de Janeiro, RJ)"