DIRETÓRIO ACADÊMICO
SELOS E RANKINGS
Victor Gentilli
No final de janeiro, a Ordem dos Advogados do Brasil divulgou uma relação com os cursos de Direito brasileiros que contam com o aval da entidade. A OAB ofereceu o selo de qualidade a 52 de 420 cursos de Direito no Brasil. O fato foi amplamente noticiado nos jornais do dia 30. Vale o registro: O Estado de S. Paulo deu, disparado, a melhor cobertura.
Não se trata de ranking. Trata-se de uma relação de cursos que a OAB recomenda àqueles que desejam estudar para seguir a carreira jurídica. A lista foi feita exclusivamente com cursos com mais de dez anos de funcionamento e usa basicamente dois instrumentos de medida: os resultados dos estudantes no Exame da Ordem e o Provão. Do cruzamento destes critérios, produz-se a relação dos cursos que merecem o selo de qualidade.
A experiência é exemplar, sob todos os aspectos. A sociedade hoje quer e precisa de informações sobre o ensino superior que lhe é oferecido. Estudantes, pais, clientes, empregadores, todos querem uma referência dos cursos universitários. No Brasil apenas 12% dos jovens têm acesso ao ensino superior. A meta do governo é alcançar 30% dos jovens. Assim, quanto mais instrumentos a sociedade dispor para avaliar a qualidade do ensino superior, tanto melhor.
O ensino de Jornalismo no Brasil, a depender do empenho e preocupação daqueles que com ele se preocupam, poderia contar, já, com algo melhor e mais completo. Não conta porque questões políticas prejudicam.
No que se refere ao ensino de Jornalismo, temos o seguinte quadro:
- A Federação Nacional dos Jornalistas conta com um departamento de ensino e debate com seriedade o assunto. Já realizou até Congresso específico sobre o tema e tem vários documentos norteadores de suas posições.
- Os estudantes são – indiscutivelmente – os mais mobilizados e preocupados com a qualidade de ensino. A experiência dos estudantes com o Fiscalize sua Escola, movimento que marcou os meados da década passada, migrou para um Avaliação para valer, que faz mais barulho do que mostra resultados. Agora, lamentavelmente, o esforço dos estudantes está praticamente todo dirigido ao boicote ao Provão. Uma pena.
- Há um grupo expressivo de docentes, interessados na qualidade de ensino e preocupados com iniciativas visando sua melhora. A participação de professores nas atividades e eventos de ensino é crescente e exigente. A experiência do Seminário do Provão, no ano passado, é bastante interessante. Como já observado. Os professores mostraram bastante disposição, mostraram certo desconforto com as dificuldades de participação, mas uma coisa ficou clara: querem ser ouvidos.
- MEC escolheu o Jornalismo como uma áreas a ser avaliada, tendo já realizado três provões e uma Avaliação das Condições de Oferta. Os resultados estão aí, para ser estudados, analisados, avaliados, criticados, contestados…
- As entidades da área acadêmica – Abecom, Compós, Intercom – preocupam-se e participam de iniciativas visando a melhoria da qualidade de ensino. Elas não tomam a iniciativa, mas se acionadas, tudo indica que não negam apoio a atividades de avaliação. A Abecom foi parceira no INEP na promoção do Seminário do Provão.
Todas essas circunstâncias não conseguem transformar-se em iniciativas concretas devido a divergências internas. O mais grave é que há interesse de todos em iniciativas comuns. Mas penso que as iniciativas isoladas, no momento, talvez fizessem com que tivéssemos alternativas plurais de avaliação, que se somassem às já existentes.
Não devemos esquecer que, além do MEC, temos iniciativas privadas de avaliação; aliás, jornalísticas – portanto merecedoras do olhar crítico deste Observatório. O ranking da Playboy e o Guia do Estudante, ambos da Editora Abril, são referência incontestável por mais contestáveis que sejam os seus critérios.
Mas – vou repetir este argumento à exaustão – o esforço em boicotar o Provão tem paralisado todas as demais iniciativas. Assim, ficamos sem um instrumento conjunto e com o único instrumento oficial, prejudicado pelo boicote.
Diretório Acadêmico – próximo texto