JORNALISTAS NO IRAQUE
O novo livro de Harold Evan, War Stories: Reporting in the Time of Conflict From Crimea to Iraq (“Histórias de Guerra: Reportando em tempos de conflito da Criméia ao Iraque”, tradução literal não-oficial), procura não apenas elogiar aqueles que caíram no campo de batalha com uma caneta ou uma câmera na mão, mas também documentar uma história viva de um correspondente de guerra, segundo Seth Porges [Editor & Publisher, 18/9].
Evans, ex-editor do Times of London e ex-presidente e publisher da Random House, explora o que faz do jornalismo de guerra uma profissão singular e o que poderia levar alguém a arriscar a própria vida por uma boa notícia.
“Se suas fotos não estão boas o suficiente, você não está próximo o suficiente” diz o fotógrafo Robert Capa no livro. Talvez seja essa a chave, potencialmente fatal, para o sucesso e reconhecimento de boas reportagens.
Pelo menos uma dúzia de jornalistas morreu cobrindo a guerra no Iraque este ano. “Considerando o número de mortos em relação ao número de correspondentes presentes, ser um jornalista no Iraque é bem mais perigoso que ser parte do Exército”, escreveu Evan.
O zelo romântico desses jornalistas é, talvez, o ponto mais interessante do livro de Evans, mas não o único, segundo Seth Porges. Cada capítulo analisa o dualismo que caracteriza repórteres de guerra.
Trata-se do primeiro livro publicado pela Newseum.
Mais um livro sobre a guerra no Iraque está chegando ao público. Naked in Baghdad (“Nua em Bagdá”, tradução literal não-oficial), de Anne Garrels, considerada uma das melhores repórteres da National Public Radio (NPR), rádio pública americana, leva o título de uma situação vivida pela jornalista. Quando cobria o conflito, em Bagdá, usou certa noite a estratégia de fazer suas transmissões nua, de seu quarto de hotel, através de um telefone via satélite que ela não deveria usar; assim, se funcionários do governo iraquianos batessem em sua porta, dariam alguns momentos para que se vestisse, permitindo que escondesse o telefone.
Em seu livro, Anne compara correspondentes de TV com de jornais: “O pessoal de televisão tem muito mais dinheiro, equipes relativamente maiores e pés pesados, o que significa que fazem bastante barulho onde quer que vão”. Como “mera correspondente de rádio” ela fica “em algum ponto entre jornal e TV.”
Abençoado sejam os pés leves como os de Anne, disse Bob Minzesheimer [USA Today, 18/9]. A repórter de 52 anos foi a única representante de emissora a continuar transmitindo notícias entre os 16 jornalistas que continuaram em Bagdá durante os bombardeios.
Em Naked in Baghdad, um diário instrutivo e engajado, segundo Minzesheimer, Anne descreve seu trabalho como “uma tentativa de entender como os iraquianos vêem a si mesmos, a seu governo e ao mundo a sua volta”.
Colegas, pero no mucho
Anne é dura na crítica a outros repórteres. Para ela, Geraldo Rivera, da Fox News, em sua cobertura do Afeganistão, “estava protegido demais por um cortejo serviçal”. “Estava também cercado por um contingente de guardas armados que contratara”. Ao que tudo indicava, ele estava disposto a avançar sobre a tênue linha que separava jornalistas de combatentes.
Ela também não viu sinais de heroísmo na cobertura da CNN, que trocou favores com autoridades iraquianas na tentativa de continuar ali. Criticou, também, o queridinho Dan Rather, da CBS, cuja entrevista com Saddam Hussein, segundo Anne, parecia “uma entrevista com o primeiro-ministro da Bélgica, não com um tirano que prendeu e matou milhares e milhares de seu próprio povo”.
A jornalista não tirou conclusões quanto à guerra no Iraque. Segundo Minzesheimer, ela é “repórter demais para isso”.