Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O fim de uma era

MEM?RIA


KATHARINE GRAHAM

Katharine Graham, presidente do conselho executivo da Washington Post Co., morreu no dia 17/7 em Boise, Idaho, EUA. Katharine, 84 anos, estava inconsciente desde que sofreu ferimentos na cabeça devido a uma queda, no dia 14, em Sun Valley, onde participava da conferência anual de altos executivos de mídia.

Katharine assumiu a companhia em 1963 após a morte de seu marido, Philip L. Graham. Foi presidente durante três décadas até passar o comando ao filho, Donald E. Graham, em 1993. Katharine era reconhecida por sua liderança jornalística, em especial por ter apoiado o prosseguimento da cobertura do escândalo Watergate. Sua autobiografia, Personal history, ganhou o Pulitzer em 1998 [The Washington Post, 17/7/01].

Para os analistas de Wall Street, a morte da executiva tem pouco impacto sobre o futuro da companhia, que em 2000 faturou US $ 2,4 bilhões: embora a imagem pública do Post Co. esteja firmemente ligada à de Katharine, Donald era o responsável pelas operações cotidianas desde 1991, quando se tornou publisher do jornal (cargo que não mais ocupa).

O Washington Post Co. é uma das poucas companhias midiáticas ainda dirigidas por famílias. Os Pulliam, proprietários da Central Newspapers Inc., venderam a empresa no ano passado à Gannet Co., e a família Chandler, da Times Mirror Co., vendeu suas ações em jornais como Los Angeles Times e Newsday à Tribune Co. Segundo Christopher Stern [The Washington Post, 18/7/01], os Graham têm ações preferenciais que permitem eleger 70% da diretoria, o que lhes dá o controle efetivo da companhia.


ASPAS

"Morre dona e executiva veterana do ?Washington Post?", copyright Folha de S. Paulo, 18/7/01

"Katharine Graham, dona e executiva veterana do ?The Washington Post?, que comandou o diário durante o escândalo de Watergate e transformou a empresa que publica o jornal num poderoso grupo financeiro, morreu ontem aos 84 anos.

Ela estava em estado grave desde sábado, quando bateu a cabeça ao cair durante uma caminhada em Sun Valley, em Idaho, onde participava de uma conferência de negócios.
Katharine Graham é considerada uma das lendas e símbolo de independência editorial do jornalismo norte-americano. Foi levada à direção do grupo que edita o ?Washington Post? em 1963, depois do suicídio de seu marido, Philip Graham, e presidiu o conselho executivo do jornal de 1973 a 1993, quando passou o comando para o filho Donald Graham. O jornal pertence a sua família desde 1933, quando seu pai, Eugene Meyer, comprou-o de uma empresa que estava em falência.

Em 1971, ela autorizou Benjamin Bradley, editor do ?Post?, a publicar um relatório militar secreto sobre o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã, conhecido como ?Documentos do Pentágono?. A Casa Branca queria suspender a publicação sob o argumento de que ela traria danos irreparáveis à capacidade de o Estado proteger-se de ameaças externas.

A decisão de Graham deu início a uma batalha judicial que acabou sendo ganha pelo ?Post? na Suprema Corte, em Washington, numa decisão judicial que colocou a liberdade de imprensa e o direito à informação acima de apelos oficiais relacionados com a segurança nacional.

Watergate

Entre 1973 e 1974, durante o escândalo de Watergate, mesmo sob pressões e ameaças da Casa Branca, Graham deu o sinal verde e a sustentação corporativa necessária para que a equipe do ?Post? avançasse a investigação que levou o presidente Richard Nixon à renúncia.

Quando completou 80 anos, Graham ganhou um prêmio Pulitzer por sua autobiografia ?Uma História Pessoal? (publicada no Brasil pela editora DBA), na qual descreveu a si própria como uma mulher insegura e solitária que, embora educada nas melhores escolas, não havia sido criada para assumir a direção do jornal.

Segundo relato de Graham, ao justificar a transferência do comando do jornal ao genro, descartando a hipótese de passar o cargo a ela, seu pai teria dito: ?Nenhum homem deve ser colocado na situação de trabalhar para sua própria mulher?.

Em 1963, quando assumiu a direção do ?Post?, Graham tinha pouca experiência em jornalismo (havia trabalhado como repórter na Califórnia, cobrindo relações sindicais) e nunca havia administrado uma empresa.

?Eu tinha medo de fazer perguntas idiotas e, na primeira festa de Natal da companhia depois de assumir o comando, passei um bom tempo no espelho ensaiando a frase ?Feliz Natal?, disse ela numa entrevista em 1998. ?Minha estratégia foi contratar as pessoas certas e defender o interesse dos nossos leitores, não os interesses privados.?

Referência

À frente do ?Post?, Graham expandiu o grupo, que também publica a revista ?Newsweek?, para o setor de TV e colocou ações da companhia à venda na Bolsa de Nova York, transformando-se também numa referência feminina no mundo dos negócios.

Foi a primeira mulher a comandar uma empresa incluída na lista das 500 principais companhias da revista ?Fortune? e a primeira a sentar-se à mesa da Associação de Editores de Jornais Americanos.

Até sua morte, Graham foi personagem ativa na vida social de Washington, cidade sobre a qual publicaria um livro em breve. Em janeiro, promoveu um jantar para apresentar o presidente George W. Bush a personalidades importantes da capital norte-americana. Já hospedou em sua casa os ex-presidentes Ronald Reagan e Bill Clinton.

?Presidentes vão e vêm, e Katharine Graham conheceu todos?, disse ontem Bush por meio de uma nota. ?Ela transformou-se numa lenda ainda em vida.?

Apesar dos conflitos do ?Post? com o Partido Republicano na primeira metade da década de 70 e de sua amizade íntima com a família do presidente democrata John Kennedy, Graham manteve uma relação de amizade com Henry Kissinger, que foi secretário de Estado de Nixon, e com a família Reagan. ?Apesar de termos nos encontrado várias vezes em campos opostos, sempre fomos amigos, e ela nunca usou a relação para me fazer qualquer pedido?, disse Kissinger.

Bradley, editor do ?Post? durante o escândalo de Watergate, disse ontem que, com sua objetividade e simplicidade, Katharine Graham ajudou a moldar o jornalismo norte-americano.

?Ela assumiu o jornal depois de um episódio trágico [o suicídio de seu marido? e sob a sombra dos homens da família [do marido e do pai?. Fez um trabalho extraordinário.?

Até sua morte, Katharine Graham ocupava o cargo de presidente do conselho da companhia que controla o grupo -a Washington Post Co."

"A morte da Sra.Graham (E nós com isso?)", copyright Em Tempo Real (www.emtemporeal.com.br), 17/7/01

"A dona do The Washington Post – o jornal que herdou duas vezes, do pai, que o comprou, e do marido Philiph Graham que o tornara influente e moderno – era o paradigma de um tipo de americano que foge ao padrão convencional: não olhava só para o umbigo (que caracteriza a tendência poradoxal dos Estados Unidos ao isolacionismo ou ao expansionismo imediatista) e sua visão estratégica fazia-a preocupar-se, por exemplo, com o Brasil.

Quando esteve em Brasilia em 1985 e chamou-me para um jantar (por recomendação do meu amigo Benjamim Bradlee) perguntei-lhe se havia na sua carteira de ações, empresas com investimentos no Brasil. Ela riu e disse que não.

Estava em Brasília (eram os dias da posse frustrada de Tancredo) porque se tornara impossível fazer avaliações sobre a conjuntura mundial sem considerar as condições econômicas e políticas do Brasil. ?Posso lhe garantir que isso é verdade, porque com alguma frequência sou colocada contra parede nas reuniões editoriais do Post, e também da Newsweek, para assumirmos análises sobre fatos que envolvem o Brasil e que são do profundo interesse dos nossos leitores. Por exemplo, agora mesmo, quero ter uma
idéia razoável dos riscos, que muitos defendem, da saída dos militares afastarem o Brasil dos pactos ocidentais.? E a partir daí, fez perguntas pertinentes sobre pessoas, grupos, corporações econômicas, temas dominantes, alianças que os asilados do regime militar podiam ter estabelecido no exterior – dizia que essas alianças tinham definido os regimes asiáticos nos últimos 20 anos – e sobre a cultura brasileira. Um questionário de repórter,
superficial do ponto de vista acadêmico, mas suficiente para estabelecer um flagrante da realidade.

Eu a conheci, rapidamente, no seu escritório, em Washingtom, numa tarde de outubro de 1974. Um aperto de mão, um gole de chá e o testemunho de um diálogo com Bradlee, a quem acompanhava. E então, ela não me fez perguntas sobre o Brasil. Seu tema 24 horas era o caso Watergate que se desenvolvia. Mas foi tão forte a impressão que me causou que passei a me interessar a tudo que se publicava sobre ela.

Judia, nasceu rica, a mãe era uma ativista cultural, o pai um financista influente (foi o organizador e primeiro presidente do Banco Mundial), mas foi o marido, um jovem advogado de origem pobre, da Florida, que lhe deu asas e a quem ela também ofereceu uma pista de lançamento para tornar-se influente. Suportou-o na sua insanidade – primeiro, trocando-a por uma amante, depois regressando deprimido e infeliz – até ouvir o tiro com que ele se matou. Francamente democrata, os pais foram amigos de Franklin D.
Roosevelt, ela e o marido freqüentaram Eisenhower, Kennedy e Johnson, a Sra. Katherine Graham tinha consciência do poder do seu jornal, usufruía-o intensamente (viajava pelo mundo com a consciência de uma protagonista da História) e sabia escolher amigos. Exemplo: o pensador inglês Isahia Berlin. Quando, para provocá-la, citei-o no nosso jantar, ela depositou elegantemente os talheres sobre o prato e me disse: ?Com ele, aprendia-se a
pensar. Suas obras são muito lidas no Brasil??. Berlin morou em Washington durante a guerra e ela e Philiph Graham sempre o recebiam em casa.

Ao morrer, aos 94 anos, ela já não influía como há 20, 30 anos, mas pode-se aprender muito com a memória da sua visão estratégica de editora de jornais e revistas. Inclusive no Brasil."

 

"Morre Katharine, a dama da imprensa", copyright O Estado de S. Paulo, 18/7/01

"Aos 84 anos, a dona do Washington Post não resistiu à lesão na cabeça

"Considerada a grande dama da imprensa norte-americana, por seu prestígio e influência, Katharine Graham, de 84 anos, morreu ontem, em um hospital em Boise, no Estado de Idaho, após complicações causadas por uma lesão na cabeça.

Presidente do comitê executivo da Washington Post Company, que engloba o jornal Washington Post, ela sofreu uma queda, no sábado à tarde, depois de participar de uma conferência de negócios em Sun Valley.

Katharine estava inconsciente desde o momento posterior à queda, em um caminho de concreto. Ela foi levada de helicóptero para o hospital, onde se submeteu a uma cirurgia.

Repentinamente, após o suicídio do marido, Philip Graham, Katharine assumiu o império das comunicações, em 1963, quando chegou à posição de editora do Washington Post. Desempenhou a função de presidente do conselho até 1993, quando entregou as rédeas para o filho, Donald Graham. Mesmo assim continuou como presidente do comitê executivo da empresa, que inclui ainda a revista Newsweek e várias TVs.

Sob seu comando, os desconhecidos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein mudaram os rumos da história norte-americana. O Washington Post revelou as manobras do presidente americano Richard Nixon, no caso Watergate. O fato foi determinante para a renúncia de Nixon. Ela também teve participação na publicação de documentos do Pentágono, que mostravam as ?mentiras? do governo americano sobre a Guerra do Vietnã.

Desde que deixou o dia-a-dia da empresa, Katharine dedicou-se a escrever sua biografia. E não fez por menos. A autobiografia Katharine Graham – Uma História Pessoal, publicada em 1997, venceu o Prêmio Pulitzer no ano seguinte."

 

"Para Bush, vida de empresária era exemplo", copyright O Estado de S. Paulo, 18/7/01

"O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, lamentou ontem a morte da empresária Katharine Graham. Em um comunicado, ele disse que a vida da proprietária do jornal Washington Post é um grande exemplo para nossa geração e também para as futuras.

?A senhora Graham era uma lenda do nosso tempo, porque foi uma líder honesta e uma dama honesta; dura, mas tímida; poderosa, mas humilde; conhecida por sua integridade e sempre generosa com os demais?, disse o presidente.

Bush definiu Katharine como uma influente editora, humanista, que não fazia ostentação de sua generosidade. ?Uma mulher de negócios de grande eficácia e uma ganhadora de Prêmio Pulitzer.?

O presidente fez questão de lembrar da ocasião em que foi recebido pela ?anfitriã de Washington?. ?Os presidentes vão e vêm, mas Katharine Graham conhecia a todos. Quando a primera-dama Laura Bush e eu nos mudamos para Washington, foi ela a primeira a saudar o novo presidente com um jantar em sua casa?, recordou Bush."

    
    
              
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