Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O futuro da TV aberta

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QUALIDADE NA TV

NOVAS TECNOLOGIAS

Antonio Brasil (*)

Qual será o futuro da televisão aberta no Brasil? Após meros 50 anos e tendo alcançado os lares de 95% dos brasileiros, a tecnologia responsável pelo mais universal meio de comunicação de massa já é considerada ultrapassada e obsoleta. Neste cenário determinista, a televisão aberta possui até mesmo seus herdeiros anunciados: as novas tecnologias.

Entre o advento da televisão digital, o crescimento das TVs a cabo e as promessas messiânicas da internet, a televisão aberta, o meio de comunicação a que todos nós adoramos assistir e criticar, parece relegada a uma programação que mais parece uma "condenação pública". Afinal, é disso que o povo gosta, é isso que dá audiência e esta mesma audiência, num argumento circular, justifica tudo.

As críticas recorrentes confirmam a "baixaria" da programação popular na TV. Num movimento contínuo, já encontramos até mesmo os culpados: "os novos pobres" do Plano Real, aqueles heróis-beneficiários da estabilização que adquiriram suas primeiras TVs com o fim da inflação (sic) e se incorporaram com um aporte de novos valores, transformando o universo do público médio telespectador no país.

Por outro lado, a implantação da TV a cabo no Brasil e a popularização da tecnologia caseira do vídeotape justificam a migração dos telespectadores considerados "de qualidade" para as nova tecnologias.

A mesma televisão aberta que poderia ter sido responsável por grandes projetos educacionais e culturais, promessas constantes quando da sua instalação no país, está hoje presente em quase todos os lares brasileiros.

Mas para quê? Uma capacidade instalada invejável para qualquer meio de comunicação. Contudo, o seu conteúdo parece estar limitado aos programas de entretenimento, como novelas, shows de auditório e qualquer idéia que agrade ao público e ao patrocinador.

Tentativas de controle de qualidade são anunciadas como um retorno à censura, e soluções de autogestão das emissoras parecem ser as únicas aceitáveis. Uma indicação clara de que "nós sabemos do que o público quer e gosta".

Em contrapartida, no maravilhoso mundo das novas tecnologias como a internet, as soluções são sempre messiânicas e universais. A promessa da internet, além de uma convergência de todos os outros meios, é oferecer tudo que a TV aberta jamais conseguiu. De uma interatividade automática a uma opção radical de conteúdos segmentados, individualizados, para todos os gostos. O público internauta, ao contrário do telespectador comum, decide o que e quando assistir ao conteúdo que desejar. Tudo será melhor na internet. Uma visão rápida do início da televisão, no Brasil e no mundo, comprovaria algumas destas mesmas promessas.

Novas promessas

Dominque Wolton, um dos mais renomados pensadores midiáticos franceses, em sua obra "Penser la Communication" alerta sobre os perigos dos excessos da segmentação nas televisões a cabo e o risco de perdermos nosso último elo democrático de comunicação comum. Assim como um dia abrimos mão dos conselhos tribais em volta das fogueiras, onde discutíamos os nossos problemas comunitários, agora podemos perder as nossas últimas referências sociais universais. Apesar de todos os erros e problemas, a TV aberta ainda é um meio com grande importância para a democratização da informação e para a socialização de uma programação universal. Para existir democracia, precisamos de objetivos políticos comuns, mas também precisamos de assuntos comuns para uma integração de experiências. Em outras palavras, precisamos nos manter em contato para uma formação de identidade pelos meios de comunicação de massa como a TV.

A expansão da internet, suas promessas de convergência de todos os meios e garantias de interatividade total, ainda demandam grandes investimentos por parte dos governos de países como o Brasil. Uma promessa dispendiosa para o futuro. Mas aceitar a inevitável degradação das TVs públicas e o fim prematuro de uma experiência tão promissora da rede de TVs públicas em nosso país, é limitar o nosso próprio potencial de crescimento instalado. A televisão aberta, pública ou privada, também pode ser um instrumento fundamental nas políticas culturais e educacionais brasileiras. Televisão comum não precisa ser sinônimo de baixaria, vulgaridade ou consumismo, assim como computador e internet não significam, necessariamente, cultura e informação. Segundo dados alarmantes, os sites mais vistos e mais lucrativos da rede ainda são os sites pornográficos, a baixara na internet.

Assim como a televisão prometeu ser uma "janela para o mundo", a internet, hoje, promete a cibercultura e seus benefícios. Mais uma vez, acreditamos nas promessas da tecnologia e esquecemos as realidades humanas. Mais uma vez, menosprezamos o presente e apostamos inocentemente no futuro.

(*) Professor de telejornalismo na Uerj

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