ROLO HISTÓRICO ? V
Alberto Dines
"Suspeito conta como Dossiê Cayman foi falsificado". Sem fitas nem declarações dramatizadas, mas afinado com o clima de denúncias da temporada, O Globo publicou com esta manchete de primeira página uma extensa reportagem (3 páginas) verdadeiramente investigativa e independente. Embora revele como foi feita a falsificação, não serve de atestado de inocência para todos os acusados.
O mais importante, porém, é a revelação de que os falsificadores do dossiê esperavam ganhar um dinheirão não com a chantagem, mas com jogadas especulativas no mercado de capitais após a divulgação das denúncias.
Em outras palavras: o negócio não é só vender jornal ou revista, mas também aproveitar-se de informações privilegiadas que chegam a um grande veículo tirando partido da extrema sensibilidade do mercado financeiro.
Fica escancarado um subproduto ? nada desprezível ? do sensacionalismo jornalístico: quem comanda a divulgação de fitas ou denúncias em geral é o doador, e não o veículo. A fonte não deveria comandar o processo decisório, mas o jogo é este: o receptor compromete-se com a data e o destaque. E a turma do mercado faz o resto.
É óbvio que este tipo de jogada só pode estar associada a fitas & denúncias produzidas por doadores com os atributos de Gilberto Miranda, Paulo Maluf, Carlos Jereissati, ACM e respectivos parceiros. Mas também fica óbvio que o veículo denunciador capacita-se a tirar o mesmo partido no mercado financeiro que os patrocinadores das informações.
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