DANIEL PEARL
Em matéria para o Washington Post (5/4/02), David Ignatius comenta a propagação de um boato, a partir da morte do repórter Daniel Pearl: antes de seu desaparecimento, funcionários do governo teriam recebido a informação de que a organização terrorista al-Qaida queria seqüestrar e matar um jornalista, atraindo-o com a promessa de uma entrevista e gravando sua morte em fita, a ser distribuída à mídia.
O rumor descreve o que ocorreu com Pearl, correspondente do Wall Street Journal. A partir daí, Ignatius pergunta: o que um governo deveria fazer se recebesse uma informação como esta? Deveria informar editores dos principais veículos? E o que estes deveriam fazer, tirar repórteres de zonas de guerra, deixar a decisão por conta deles? No caso de Daniel, explica, aparentemente nenhum alto funcionário do governo sabia da ameaça ? ou ao menos não avisou a ninguém.
Ignatius reconhece que são questões éticas difíceis de serem resolvidas, e que parte do trabalho de correspondente estrangeiro é aceitar o perigo. "Mas uma coisa é tomar a corajosa decisão de ficar e cobrir a história, outra é não estar ciente dos riscos." O jornalista defende que se agências governamentais descobrirem que profissionais da imprensa estão em perigo, deveriam avisá-los ? como fez a Inglaterra em novembro passado, ao descobrir a ameaça de seqüestro de repórteres em áreas afegãs controladas pelo Talibã. Os EUA nunca enviaram um aviso semelhante.
"Os jornalistas prezam a distância que mantém do governo, e nenhum editor americano aceitaria o tipo de acordo íntimo e confidencial típico entre o governo britânico e a imprensa local", afirma Ignatius; parte deste acordo, inevitavelmente, é que o governo não divulga tudo o que sabe. Mas as mortes de Pearl e outros oito jornalistas na guerra do Afeganistão deveriam fazer os veículos noticiosos reconsiderar as regras do jogo.
KIRCH E A COPA
Dois novos diretores assumiram o comando do grupo Kirch, a megacorporação alemã de mídia que declarou falência às vésperas da Copa do Mundo ? de cujos jogos detém os caríssimos direitos de transmissão. Seu balanço não foi divulgado, por se tratar de empresa privada, mas a dívida do grupo é estimada em 6,5 bilhões de euros (R$ 13,7 bilhões). É a maior bancarrota da história alemã desde a Segunda Guerra Mundial, e 9.500 trabalhadores estão ameaçados de perder o emprego.
A corporação tem diversas subsidiárias, e com manobras administrativas lhes repassou seus empreendimentos lucrativos, como o tablóide Bild e a cobertura televisiva da Fórmula 1 e das copas de 2002 e 2006.
Os bancos estudam soluções para o problema. Edmund Stoiber, governador da Baviera, sede da Kirch, tem grande interesse em ajudar, pois a empresa desempenha papel importante na economia do estado. Stoiber, conservador, usa a prosperidade econômica bávara para alavancar sua candidatura ao cargo de chanceler, atualmente ocupado pelo rival social-democrata Gerhard Schroeder. Este seria o motivo pelo qual o banco do estado emprestou 2 bilhões de euros à Kirch. "Falência não significa destruição da companhia, mas oportunidade e novos donos", ameniza o político.
As pesadas dívidas se devem principalmente à compra de direitos de filmes a preços exorbitantes e ao lançamento mal planejado de um canal pay per view (o Premiere, único da Alemanha, que provavelmente deixará de existir), reporta a BBC [8/4/02].