Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O jornal nosso de cada dia

Pois que então o jornalismo enfim chegou ao sacerdócio? Já desconfiava, diria um velho jornalista, para o qual esse sempre fora um sacerdócio. Um perigoso sacerdócio, sempre. Mas qual sacerdócio? Que perigo?

Jornalismo e religião vêm sendo atachado ao dinheiro, às armas, à justiça e à política do sacerdócio do poder político, os pais e as mães deste mundo horrível, onde somos atores à força, via cruz de adagas terríveis, cuspindo fogo nos restaurantes, tudo sendo e não sendo.

Desinformados na essência e na superfície, estamos todos virando soldados da religião, de idades bárbaras, cegos e carbonários, que a tudo destroem com seus dedos de clicks. Onde estamos, onde estávamos? E quousque tandem? E onde está a tevê que não me vê? Estaria eu, sábio velho Don Quixote, mudo e surdo e sem visão, ali naquela Roma Imperial, aos funerais do papa das religiões? O papa dos Estados Unidos, o papa de todos? O papa do jornalismo, da WWW Brasil, o papa do Brasil e do mundo? O papa do México e do Muro do México? O Pai. O nosso e de todos os dias.

Simples caixão

Grande pai, belo pai, porém, que trazia algo de arte e paralelismo do fundo de sua intuição polonesa, algo muito pessoal, étnico, secreto, místico – um imenso paradoxo de universos universais, abismal. Talvez Cristo estivesse querendo dizer por seu pontífice máximo que os homens já não precisariam das religiões, doravante, ou dessas religiões, e que devessem apenas ser coisas do passado. Exceto a pessoal, que ele, o último papa, tinha nata e naturalmente. Último papa? Papa rebelde. Seria ele então o primeiro?

Grande papa do paradoxo, hamletiano ator, renascerá certamente em glória, no sétimo dia, reabrindo a Teologia da Libertação, de páginas tão belas e inadiáveis, libertando a pessoa para suas decisões pessoais e intransferíveis, fraterno e verão amor, capaz de nos acessar à célula-mater, intimamente, à íntima religião, ao íntimo amor. Qualquer amor. Um antipapa? Clássico papa.

A arte parece criar a vida e esta as cores, apagando as rudes tintas e fazendo da vida cor. Tudo vida. Por certo que a arte popular é a arte dos pobres, embora a arte contemporânea, ainda que seja para os ricos, não é a arte dos ricos. Paradoxos paradoxais. Amar a si e ao próximo. Tortas linhas tão sábias. Fora da arte não há salvação. Ela, que a tudo redime e dá direção. Caminhos impensáveis, maquinações naturais, tudo movendo a arte do mundo.

Pobre mundo sem arte, onde arte e cultura ainda permanecem fora do Primeiro Caderno, abrindo caminho para o valoroso Caderno do Espetáculo. Paulo Coelho. Nobre cruz, papa da arte, estranho cálice, o que fazer senão morrer? Morrer para espetacular, em caixão simples, simples caixão para uma cripta de santos. Script e espontaneidade. Ordeiro povo sofrido de poloneses, geração de idos, como nós, inocentados homens das cavernas, mulheres barradas no baile, tudo passa sobre a Terra, que a tudo engole. Impecável o povo.

Ou estaria eu mais uma vez enganado?

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Pintor e escritor