FÓRUM DE SERGIPE
Paulo Lima (*)
Em sua terceira edição, o Fórum Anual de Jornalismo da Universidade Tiradentes, em Sergipe, encerrado no dia 30 de maio, franqueou aos alunos de Jornalismo da instituição alguns momentos de reflexão, por conta dos debates em torno dos horizontes dessa profissão que claudica ante a mais colossal crise dos mídia no Brasil. Sobram dívidas, faltam propostas criativas que permitam aos conglomerados estimular receitas. Resultado: downsizing nas redações, achatamento de salários e sobrecarga de trabalho para os que ficam.
Acresçam-se a esse cenário nada estimulante os próprios descaminhos seguidos pelo jornalismo no Brasil nas últimas duas décadas. A velha e boa informação tornou-se produto raro no menu dos consumidores da notícia. Produzida diariamente aos borbotões por jornais, emissoras de rádio e TV, a informação interessa mais a quem a produz, o jornalista, e menos àquele a quem deveria de fato interessar, o consumidor da notícia.
O fenômeno não é privilégio da nossa Pindorama. No mundo inteiro, o telejornalismo, por exemplo, há muito se apropriou da linguagem do cinema. A conseqüência é que a informação se reveste cada vez mais do espetacularismo da ficção, e menos do seu caráter de formadora de uma certa opinião pública. Em seu papel clássico, caberia à imprensa atuar como esfera em que as discussões dos interesses públicos teria lugar. Pelo menos é o que acreditava o filósofo alemão Jürgen Habermas. Como a história é marcada por descontinuidades, o que se vê é essa esfera pública sendo crescentemente preenchida por uma esfera privada, pelo glamour e pela intimidade de famosos e poderosos. Guy Debord, teórico francês, já havia chamado a atenção para o fenômeno, em 1970, em seu clássico A sociedade do espetáculo.
Universo anárquico
A sociedade hoje não é somente do espetáculo, mas totalmente midiatizada. Não há vida fora da mídia. A chancela midiática é o que possibilita um assunto ou tema existir ou não para a sociedade, seja a eleição de um presidente, seja o drama de um tratorista que se nega a cumprir determinação judicial.
Nesse quadro dominado pela tecnocultura, qualquer um pode ser alçado à condição de comunicador ou jornalista. Com os mais inusitados recursos midiáticos ao alcance de um simples clique de um mouse de computador, qualquer um se torna um autor, com um pequeno grande detalhe: sem o selo de autor, uma vez que, no desmesurado processo de geração de informação sem controle, que é a internet, é impossível determinar a autoria do que quer que seja. Emblemático dessa nova condição de "espectador-autor" pode ser o episódio que culminou na demissão de Jayson Blair, o jornalista do monolítico New York Times, por sua ação bucaneira em matérias alheias e invenção de outras tantas.
É por esse universo anárquico, de quebra de paradigmas, de total incerteza quanto ao futuro das comunicações, que deverão transitar os jornalistas do futuro. Fóruns como o da Universidade Tiradentes facultam aos estudantes a possibilidade de relativizar pontos de vista e empreender um saudável exercício crítico, tão indispensável ao jornalismo.