M.F. DO NASCIMENTO BRITO
Alberto Dines
Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Quando você assistiu a esse programa em abril de 2001, comemoravam-se os 110 anos de fundação do Jornal do Brasil. Um dos entrevistados faleceu no sábado passado. Mas esta reprise do programa é dedicada a ele: Manoel Francisco do Nascimento Brito acionou a renovação do Jornal do Brasil, nos anos 50, uma reforma editorial que marcou profundamente não apenas o aspecto mas a qualidade dos jornais brasileiros.
A reforma do JB não foi um episódio isolado mas faz parte de um ciclo que hoje, meio século depois, podemos denominar de "anos de ouro" da imprensa brasileira. Entre 1949 e 1956 tivemos o lançamento da Tribuna da Imprensa", da Última Hora, a revolução no texto iniciada no Diário Carioca, o lançamento de Manchete, Visão e, finalmente, a reforma do Jornal do Brasil.
Foi um processo de renovação iniciado na antiga capital federal que, por óbvias razões, era a mais importante do país, e estendeu-se aos jornais e revistas do país inteiro.
O dedo de Nascimento Brito não se resumiu à responsabilidade de mudar de forma radical a feição e o caráter de um jornal que àquela altura já tinha meio século de existência, mas estendeu-se a uma nova compreensão da natureza da indústria de comunicação. Não mudou apenas o veículo, modernizou-se a fábrica que o produzia. Mudaram as relações do jornal com o mercado, estabeleceu-se um padrão mínimo de credibilidade empresarial indispensável a um negócio que goza de privilégios constitucionais e, por isso, tem compromissos de transparência perante a sociedade.
Se o passado pode nos ensinar alguma coisa, o legado de Nascimento Brito contém lições e advertências que não devem ser esquecidas. Sobretudo agora quando toda a imprensa e também a mídia passam por uma dramática crise. A reforma do JB fez parte de um processo, pode-se dizer que culminou um processo. Não foi uma ação individual, voluntarista, mas resultou de um conjunto de condições de natureza política e econômica. A mídia deve atender as necessidades da sociedade, modificar-se cada vez que ela se movimenta.
Os anos de ouro da imprensa carioca aconteceram cinco anos depois do fim da 2? Guerra Mundial, da democratização do país e coincidiram com o início do processo de industrialização do segundo governo Vargas.
Este Observatório da Imprensa, projeto da sociedade civil sem fins lucrativos e transmitido por duas redes de interesse público, a TVE e a TV Cultura, no momento em que desaparece um dos modernizadores da indústria da informação no Brasil aproveita para lembrar aos herdeiros e sucessores que o cidadão merece o melhor da sua imprensa, o melhor sob todos os aspectos. Quando o leitor recebe qualidade recompensa com fidelidade.
(*) Editorial do programa Observatório da Imprensa na TV, exibido em 11/2/03
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