ANTI-SEMITISMO NA ITÁLIA
Foi só um jornalista judeu ser escolhido para a presidência da RAI, centro de TV e rádio estatal italiana, para os muros do prédio da emissora, em Milão, amanhecerem com pichações anti-semitas.
Paolo Mieli, ex-editor-chefe do prestigioso diário italiano Corriere della Sera e do La Stampa, de Turim, foi escolhido presidente no dia 7/3 por uma comissão de diretores. As pichações foram encontradas dois dias depois, segundo informações da AP (9/3/03).
Um dos escritos, próximo a uma Estrela de David e uma suástica, dizia: "Fora Mieli, saia". O outro dizia "RAI para italianos. Não para judeus. Fora, Mieli", e estava perto do emblema de um grupo neofascista.
Políticos da esquerda e da direita denunciaram imediatamente o ato. Mieli disse que se tratava de "um péssimo sinal", de acordo com a emissora de notícias TG5.
Líderes políticos também manifestaram sua angústia em um editorial de primeira página no jornal romano de direita Il Tiempo, no dia 9/3. O editorial afirmava que a televisão italiana estava sendo dominada pela "cultura não-católica e pela sensibilidade", referência direta a Mieli e outros dois jornalistas judeus.
"Todo o sistema de televisão está atualmente dominado por profissionais de excelente qualidade, mas de cultura não-católica e de sensibilidade, como o novo presidente da RAI e os diretores dos dois principais programas noticiosos", afirmava o editorial.
Apesar de crítica, a situação da Itália é ainda melhor que a da França, onde diversos atos anti-semitas têm ganhado as ruas nos últimos meses. No entanto, a extrema direita e a extrema esquerda italianas têm cada vez mais expressado sentimentos antijudeus, particularmente em relação a Israel.
Pressão insustentável
Alguns dias após o artigo da AP sobre a nova presidência, Mieli recusou o cargo. Ao que consta, a retirada foi motivada por ataques da imprensa de direita. Conta Frances D?Emilio [AP, 13/3/03] que jornais como Il Tempo, autor do editorial ultraconservador comentado acima, criticaram intensamente sua nomeação. Em seu lugar, assumiu Lucia Annunziata, ex-diretora de uma das emissoras da rede pública italiana, escolha aplaudida pela coalizão conservadora de Silvio Berlusconi.