WOODWARD & HERSH
Desde os ataques terroristas de 11 de setembro, dois jornalistas nova-iorquinos renomados e clássicos rivais nos anos 70 voltaram a se enfrentar: Bob Woodward, repórter do Washington Post, e Seymour M. Hersh, da revista The New Yorker.
Desde o início da crise nos EUA, as informações mais chocantes e controversas têm sido publicadas sob as assinaturas de Woodward ou Hersh. Três décadas se passaram desde a famosa briga no caso Watergate, escândalo político [que resultou na renúncia do presidente Nixon] em 1972 no qual Woodward e seu colega Carl Bernstein davam furos para o Washington Post e Hersh colocava o New York Times na disputa.
A geração que perdeu o Watergate e mal sabe reconhecer Woodward e Hersh tem agora a chance de rever os dois gigantes veteranos do jornalismo americano. Felicity Barringer [The New York Times, 19/11/01] conta que Woodward é autor de meia dúzia de livros sobre bastidores dos eventos na capital do país; Hersh escreveu livros de crítica a Henry Kissinger, à CIA e a John F. Kennedy, o que lhe rendeu o penoso fardo de "intruso" no Distrito Federal.
Hersh mudou de postura em relação à CIA. Se antes a acusava de ser uma agência fora de controle que espionava ilegalmente os americanos, escreveu recentemente na New Yorker que a organização está cada vez mais burocrática e enfraquecida, desde o fim da União Soviética, em 1991. Quanto a Woodward, o "veneno" do governo Nixon tornou-se, nas palavras de Scott Armstrong, "padre confessor de muitos funcionários de elite." Um artigo de Woodward de 11 de outubro revelou que unidades paramilitares secretas da CIA estavam lutando uma "guerra escondida" no Afeganistão. As afirmações provieram do que Woodward chamou de "fontes bem localizadas".
R. James Woolsey, ex-diretor da CIA, diz que "ambos sabem que têm um lugar no cenário do Distrito Federal". "Se fossem formados em Direito, poderia dizer que Bob é o advogado corporativo e Sy o profissional independente, o litigante que assume casos menos populares", afirma. Não são rivais diretos, no entanto. São dois homens que fazem as mesmas tarefas de formas diferentes. Woodward pensa e fala em parágrafos completos, com análises coerentes notáveis em programas como Larry King Live, da CNN. Hersh, de sua parte, dialoga rapidamente e finaliza pensamentos de modo abrupto.
Hersh tende a ser o "lobo solitário", como provou ao descobrir, sozinho, o massacre de My Lai durante a Guerra do Vietnã. Woodward é um colaborador nato. Apresenta diversos artigos recentes nos quais divide a assinatura com colegas. Pergunte-se aos dois repórteres sobre seu rival e anos de admiração e irritação ecoam nas pausas que entremeiam as curtas respostas. Sobre Woodward, Hersh diz que "há algo surpreendente sobre Bob: ele sempre acerta". Afirma também, criticando o estilo "acredite em mim" de reconstruir cenas e conversações, que não entende como Woodward não apresenta fontes em seus livros.
Woodward também faz pausas ao falar sobre Hersh. "Às vezes acho-o precipitado nos casos. Às vezes concordo com o que diz. Freqüentemente digo que trabalharia o material dele de maneira diferente, e ele lidaria com o que tenho de forma distinta também", diz.
Nesta crise, nenhum dos artigos de capa de Hersh e Woodward foi motivo de questionamentos sérios. Embora Hersh e a New Yorker tenham enfrentado críticas por estarem supostamente pondo em risco fontes da inteligência, o jornalista afirma ter trabalhado com elas para garantir que os métodos do setor não fossem comprometidos.
A crítica não desacelerou Hersh. "Acabei de voltar de quatro entrevistas horríveis", disse há pouco tempo. O artigo sobre o assunto ainda está em produção. Woodward e ele abandonaram temporariamente o ritmo suntuoso de livros e revistas para retomar o frenesi da competição pelos furos de reportagem. O público só tem a ganhar nesta saudável rivalidade.