Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O olhar cidadão

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ESPECIAL 3+5

PROGRAMA DE ANIVERSÁRIO
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Alberto Dines

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Você sabe como o assaltante Ronald Biggs foi levado à Inglaterra para ser preso? O tablóide sensacionalista The Sun pagou tudo: o jatinho, a entrevista e a exclusividade das matérias e fotos. Isso é jornalismo ou é comércio? Quem não gostou desta jogada marqueteira foi a Comissão de Queixas contra a Imprensa, da Grã-Bretanha, que vai argüir o jornal por comportamento antiético. Antes que você pergunte, nós respondemos: no Brasil não existe nada parecido com a Press Complaints Comission, na qual a imprensa inglesa se expõe ao controle social e ao escrutínio público.

Mas se nossos legisladores ou empresários de jornal não tiveram a lembrança de criar aqui uma comissão nestes moldes, alguns jornalistas em 1996 criaram algo parecido: este Observatório da Imprensa. Primeiro na internet e, depois na televisão, a sociedade brasileira passou a contar com uma janela para observar e discutir o desempenho da mídia. O programa de hoje comemora este duplo aniversário. Cinco mais três não é pouca coisa num país tão pouco inclinado à perseverança e à continuidade.

Mas o que leva hoje este Observatório a olhar o próprio Observatório não é o desejo da autopromoção, mas a necessidade de explicitar dois conceitos fundamentais da democracia moderna sobre os quais foi criado o Observatório. O primeiro princípio: cada poder precisa de um contrapoder, e o único contrapoder legítimo ao poder da imprensa é aquele exercido por aquela à qual a imprensa deve servir ? a cidadania. O segundo princípio: o ato de observar é uma forma de intervir. Ao observar, pensamos, ao pensar, existimos. E ao existir, atuamos. O observado sabe que está sendo observado e toma cuidado; o observador, sabendo disso, redobra a observação. Não é por acaso que o mote deste projeto é um convite à dúvida e à objeção, um estímulo ao ceticismo, ao ceticismo criador. Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito é uma convocação para transformar cada leitor, cada ouvinte e cada telespectador num agente ativo do processo informativo, essencial ao processo de enriquecimento cultural do país.

Ao dedicar este Observatório ao conceito de observar é nossa intenção estimular a criação de 10, 20, 100 observatórios. Precisamos de mais observatórios da imprensa, observatórios da política, da justiça e dos negócios. Quanto mais observação mais participação, quanto mais observação mais diversidade e quanto maior a pluralidade mais democracia. Não é por acaso que o símbolo do Observatório é um olho. Um olho aberto. Abra o seu, observe, desconfie, participe.

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