IMPRENSA REGIONAL
Pedro Celso Campos (*)
Em 1992, Isabel Siqueira Travancas aproveitou sua dissertação de mestrado para fazer uma pesquisa sobre o modo de vida dos jornalistas, entrevistando dezenas de profissionais no Rio de Janeiro. O resultado foi O mundo dos jornalistas (São Paulo: Summus, 1992), hoje obrigatório para todos os estudantes de Jornalismo.
Nas páginas 88/89 ela descreve que o sonho de todo jornalista dos grandes centros urbanos é "ser dono de um jornal", ou ter um bar, para "se libertar do esquema empresarial dos grandes jornais e do próprio anonimato". Uma jornalista entrevistada pela pesquisadora disse que gostaria de montar seu próprio negócio, sem patrão, no esquema de cooperativa, para fazer algo criativo e que dê dinheiro também. "Não ter patrão e possuir um negócio seu parecem palavras-chave para entender o imaginário deste grupo", diz Isabel, referindo-se aos profissionais mais jovens.
Depois de constatar que "o jornalismo é uma profissão que se aprende nas redações, na prática", apesar de se exigir o diploma universitário no Brasil desde 1979, Isabel Siqueira Travancas constata, em sua pesquisa, que "outro ponto importante a enfatizar é que a grande maioria dos órgãos de comunicação do país é de empresas privadas com fins lucrativos. São poucas as estações de rádio ou canais de televisão públicos.
Também demonstra que o jornalismo se desenvolveu com a sociedade e dentro dela, sendo o jornal um produto de consumo. Raros são os jornais de cooperativa, sem fins lucrativos ou com empregados que trabalhem principalmente por amor à arte. "O jornalismo hoje faz parte da sociedade capitalista, e o jornalista é uma peça importante dessa engrenagem que produz notícias."
São Paulo lidera
Essa transformação do jornal do século 19 – voltado para a defesa dos costumes, as virtudes morais e sociais, a publicação de novelas, extratos de história, resumo de viagens, trechos de autores clássicos e anedotas – para o jornalismo de mentalidade empresarial do século 20, começando já em torno de 1875, foi observada por outra pesquisadora, Cremilda Medina, em Notícia – um produto à venda (São Paulo: Summus, 1988). Segundo ela, "as grandes agências de notícia se encarregaram de implantar internacionalmente, após a Segunda Guerra Mundial, o modelo de consumo americano – a notícia como um produto de venda no mercado urbano e industrial".
Cremilda critica a falta de maturidade e de conhecimento histórico do jornalista brasileiro: "…assim como o brasileiro alfabetizado médio, também o produtor de informação não pesquisa a história de sua cultura, a história de seu povo, a história da sociedade em que está inserido como canal e agente de comunicação".
Aqui chegamos ao ponto da lição que dá título a este artigo: jornal do interior.
O interior do Brasil conta com mais de 1.000 jornais diários, semanais, bissemanais, tri-semanais, quinzenais e mensais. O estado que mais concentra esse tipo de jornalismo é São Paulo, com mais de 500 jornais – quase um por município. São jornais que circulam em todo tipo de comunidade, mesmo em cidades de 5 mil ou 50 mil habitantes em média, constituindo, inclusive, amplo mercado de trabalho para os estudantes de comunicação, principalmente com a legalização do estágio em Jornalismo – daí a oportunidade de olhar mais de perto para este segmento, tendo em vista a saturação dos grandes meios de comunicação voltados para políticas de enxugamento de custos que sempre resultam em dispensa de profissionais, optando-se pela terceirização (produção independente) ou pelo free-lancer, que não envolve encargos trabalhistas.
Aventureirismo empresarial
No interior de São Paulo há 436 jornais filiados à Associação dos Jornais do Interior (Adjori). Segundo essa entidade, 54% dos leitores de jornal, no interior paulista, lêem somente o jornal da sua cidade, contra 11% que só lêem jornais da capital. Entre os leitores, 35% são assinantes de jornais da capital e também do local. A Adjori informa que a tiragem média dos jornais do interior paulista é de 3.900 exemplares, e faz as seguintes contas em seu Anuário de 1998: "Considerando-se as tiragens dos jornais Folha e Estado, da capital, e dividindo-se pelos 625 municípios paulistas, a distribuição média em cada município seria de 353 e 228 exemplares, respectivamente. Porém, a maior parte da tiragem de ambos (51%) é destinada ao público da capital. Dos 49% restantes, 30% são destinados ao interior e 19% vão para outras capitais e para cidades do interior de outros estados. Assim, conclui-se que a tiragem de um jornal do interior paulista, na sua própria cidade, é 11,04 vezes maior que o da Folha e 17,10 vezes maior que a do Estado".
Esse crescimento dos pequenos jornais estaria diretamente ligado ao poder econômico do interior paulista, que tem taxas de crescimento e indicadores sociais comparados aos de países desenvolvidos. Por exemplo: 21% da produção industrial do estado; 51,6% da receita do comércio; 11,9% das famílias com renda do tipo classe A; 2,2 de cada 10 eleitores paulistas; eleitorado equivalente à soma de 10 estados brasileiros; consumo de 15% de toda a produção brasileira; oito diretorias exclusivas do maior banco particular do país etc., conforme dados publicados no citado anuário.
Em 4 de junho de 2000, a Organização Mundial de Saúde divulgou, em Genebra, uma nova forma de calcular a expectativa de vida, que considera o estado de saúde da população e os anos de incapacidade em vez de contabilizar apenas a idade da morte. Os dados mostram que o Brasil é um país nitidamente dividido entre norte e sul, com regiões como o estado de São Paulo, onde os índices se equiparam aos 20 países mais saudáveis, em que a expectativa de vida oscila de 70,5 anos (Finlândia) a 74,5 anos (Japão), contra 59,1 anos da média nacional. Levando-se em conta o contingente populacional do interior paulista em relação à Grande São Paulo, percebe-se por que tantos paulistanos procuram o interior para morar, em busca de melhor qualidade de vida.
Como é ser jornalista no interior?
Antes de mais nada é preciso conhecer de perto esse mercado ainda dominado por muito aventureirismo empresarial, o que leva alguns meios acadêmicos a se distanciarem dele ao confundirem tal atividade com pura e simples "picaretagem", isto é, um jornalismo voltado apenas para o faturamento, sem distinção entre notícia e matéria paga, resultando em baixa credibilidade diante do público, principalmente por causa das influências políticas, partidárias, econômicas, religiosas etc..
Mar de rosas
Mas as novas tecnologias estão mudando esse segmento. Pressionados pelos leitores – que estão cada vez mais exigentes à medida que podem confrontar o "jornalzinho" da cidade com outros jornais que chegam de fora e mesmo com o conteúdo noticioso da TV aberta, da TV por assinatura, do rádio e da internet – os jornais do interior estão se modernizando e se organizando. Muitos já estão filiados à Associação Nacional de Jornais que, por sua vez, é filiada à Associação Mundial de Jornais, tendo código de ética próprio e até verificação de circulação. Os pequenos fazem parte da Associação dos Jornais do Interior (com sede em cada estado ) e da Associação Brasileira de Jornais (com sede em Brasília). Há também a Associação dos Jornais de Bairro e a Associação Brasileira de Veículos de Comunicação, além do Sindicato dos Proprietários de Jornais. A maioria dessas entidades conta com sites na internet.
Os próprios jornais estão conectados à rede porque a maioria opera em off-set e fazem uso regular do computador, restando ainda alguns, mesmo no estado de São Paulo, que trabalham no antigo sistema de chumbo e linotipia.
A mesma classificação de empresas capitalistas que as pesquisadores Cremilda Medina (em 1988) e Isabel S. Travancas (em 1992) atribuem aos jornais brasileiros deve ser conferida, naturalmente, aos jornais do interior. Eles vivenciam uma experiência empresarial – com a característica de serem menores, num público menor – em que as pressões são maiores e mais diretas, tanto por parte dos leitores como dos anunciantes.
Sob este aspecto, ser dono de jornal não é o "mar de rosas" sonhado pelos repórteres dos grandes centros que Isabel Travancas entrevistou. Muitas vezes resulta em terríveis dores de cabeça, principalmente quando o jornalista-empresário pretende se manter incorruptível, sem ceder a este ou àquele grupo da comunidade, buscando servir apenas, e o mais imparcialmente possível, aos seus leitores.
Cliente principal
A primeira grande dificuldade de quem decide montar o próprio jornal, em pequenas comunidades, é separar jornalismo e publicidade. Embora difícil, este é um passo importante e decisivo para dar ao noticiário do jornal uma linha de independência a serviço da comunidade. Havendo esta separação física e clara entre uma e outra atividade, com pessoas diferentes para cada uma, será possível preservar, de algum modo, a soberania da cobertura jornalística. Para ter bom êxito, o jornal do interior precisa ter sucesso primeiro nessa divisão de trabalho, isto é, necessita de um profissional que consiga, honestamente, carrear publicidade para as páginas do jornal e de um corpo de jornalistas interessados em fazer jornalismo para atender prioritariamente à comunidade. Do contrário, o que se terá é um jornal destinado apenas a apoiar um partido, uma empresa, um grupo político, o prefeito, uma denominação religiosa etc., sendo, portanto, não um jornal para a comunidade, mas um jornal partidário ou de grupo, afinal, um jornal parcial, aí sim muito próximo da picaretagem que só degrada a profissão.
Por isso, ao buscar mercado de trabalho no interior, o estudante de Comunicação que deseja fazer uma carreira séria procura se informar sobre a base de sustentação econômica do jornal para saber até onde poderá exercer seu ofício com liberdade, pelo menos nos níveis de liberdade consentida nos jornais de expressão, já que o Código de Ética e a Lei de Imprensa valem para todos que exercem o jornalismo, independentemente da tiragem. As penas da Lei de Imprensa não são atenuadas para quem exerce o jornalismo em pequenas comunidades. Portanto, as responsabilidades são iguais.
Naturalmente, os salários são menores. O próprio Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo tem piso menor para profissionais do interior. Mas há compensações em viver no interior. O risco é trocar o salário de R$ 10 mil em São Paulo ou em Brasília pela tentação de ser dono do próprio negócio no interior sem verificar, antes, como será a sustentação econômica da empresa.
Geralmente, nas cidades com cerca de 50 mil habitantes, o principal cliente do jornal é a prefeitura. Em muitos casos essa dependência cria uma vinculação excessiva entre o jornal e o poder público municipal, de modo que o leitor vai encontrar nas páginas do jornal não o noticiário sobre a cidade, mas o noticiário sobre a administração municipal. Já há cidades no interior de São Paulo em que releases municipais da prefeitura, da Câmara e de autarquias chegam aos jornais pela internet. E o mesmo ocorre com os atos oficiais para o veículo vencedor da concorrência pública.
Modelos variados
Por isso, por comodidade e para reduzir custos, o jornal acaba dando vazão a todos os releases disponíveis no computador, em vez de pagar repórteres para irem atrás de fatos novos que, muitas vezes, interessam à comunidade mas desagradam à prefeitura. Quando há substituição do partido ou da coligação partidária no poder, o jornal muda apenas os nomes dos novos donos do poder, mas o estilo de trabalho continua o mesmo, sempre privilegiando a visão oficial e esquecendo-se da principal razão de ser de qualquer jornal digno do nome, que é o leitor, a comunidade, a coletividade.
Ficar preso à prefeitura é o pior mundo possível para um jornal que quer ter atuação comunitária, porque ao fazer acordo para publicação de atos oficiais e notícias prontas da prefeitura acaba vendendo a própria alma e perdendo a independência para tratar da vasta gama de assuntos que interessam à comunidade.
O melhor caminho para um jornal pequeno é seguir a mesma senda do grande jornal: lutar para manter e ampliar sempre sua base de assinantes, de modo a ser financiado pelo único patrão que merece ser bem servido no jornalismo ético: o leitor. Isto exige bom planejamento administrativo na estratégia de relacionamento com assinantes antigos e novos e bom produto final, porque o leitor dará preferência ao jornal bem feito, sério, isento, independente, que está a serviço da comunidade e não deste ou daquele grupo de poder.
Sob este ponto de vista, teremos jornais "de comunidade" (voltados para a comunidade) e jornais "comunitários". Neste último caso trata-se do jornal feito pelos próprios moradores do bairro ou da vila, sem fins lucrativos, como num mutirão, onde a linha editorial é discutida pelos representantes da comunidade, sendo o jornal um produto coletivo para a coletividade. No primeiro caso, trata-se de um jornal com proprietário identificado, que administra e cuida do jornal, porém aberto a todos, democraticamente, zelando pela ética, evitando prender-se a grupos, colocando-se inteiramente a serviço dos leitores e apenas deles dependendo para continuar circulando, bem como de anunciantes médios que não interfiram na linha editorial. Outro modelo é o jornal mantido por uma entidade – como uma universidade, por exemplo –, em que não há interferência editorial, sendo o objetivo maior servir à comunidade.
Jornalismo "segura, peão"
Engana-se totalmente quem imaginar que jornalismo no interior é só festa. Muitos acham que o repórter do interior não faz outra coisa senão cobrir festa de rodeio, churrasco do prefeito e inauguração de obras municipais.
Até os pequenos jornais estão se estruturando em modos profissionais e empresariais. Os antigos jornais de família, fundados por um advogado, um professor, um militar aposentado etc. vão cedendo espaço a organizações empresariais que já optam até mesmo pela terceirização, além de assinarem serviços noticiosos e de receberem colunas diárias pela internet.
Quem tem uma idéia na cabeça e um computador na mão não precisa, necessariamente, fazer um "jornal de roça". Se fizer, não terá leitores. Se tiver, perderá em pouco tempo. Se o leitor está se atualizando, movido pelos processos inerentes à globalização, não resta outra saída às empresas de comunicação senão seguir a toada. A maioria já compreende o conceito de "globalização local", isto é, de realizar na comunidade a integração que se verifica a nível global entre os países. Trata-se, pois, de valorizar os fatos locais, a história local, as pessoas do lugar, sem perder de vista o que passa pelo mundo (pleonasticamente) globalizado.
Muitos autores mostram que longe de desaparecer diante da enxurrada de notícias do mundo globalizado que chegam por todos os lados e da forma mais online (se é que se pode usar tal palavra como sinônimo de concomitante para significar "enquanto o fato está acontecendo" ou "momentos após ele ter acontecido"), os jornais de comunidade tendem a crescer de importância, pois é para ele e para os demais veículos sérios do lugar que a comunidade se volta como náufraga do mar global de notícias em busca de referência, de ponto de apoio, de reconhecimento da própria identidade. No jornal da cidade ou na emissora de rádio local, o receptor sabe que seu nome não vai sair errado e só ali ele ficará sabendo que o trânsito da rua da sua casa vai mudar de mão. Isto não seria possível no grande jornal globalizado que chega pelo correio às 10h.
Campo negligenciado
O jornal do interior como "leitura local" será sempre insubstituível como marco referencial da comunidade, cabendo aos jornais regionais ou mesmo aos jornais dos grandes centros o papel secundário de "segunda leitura", exatamente por causa da absoluta necessidade de identificação entre emissor e receptor, característica acentuada do jornal de comunidade. À medida que se colocar a serviço da comunidade para lutar pelas causas coletivas, à medida que tiver a comunidade como sua única referência e preocupação, o jornal do interior conquistará prestígio e respeito, cabendo-lhe, depois, zelar por esse patrimônio com a responsabilidade e o equilíbrio de seu noticiário.
Ao profissional desse tipo de jornal caberá reconhecer a importância social que a comunidade lhe atribui, mas, ao mesmo tempo, exercer seu trabalho com ética e humildade, sem jamais se deixar levar pela tentação de tirar proveito pessoal do seu status. Os que agem com seriedade ficam na memória histórica da cidade, os que traem a confiança da comunidade são execrados e esquecidos para sempre.
A carreira de muitos jornalistas de renome começou no pequeno jornal do interior, e isto prova que em qualquer lugar há espaço para a ética, a seriedade, a competência, o texto bem apurado, a interpretação adequada do fato. Afinal, jornalista do interior também acessa o Observatório da Imprensa na internet e está passando o tempo em que esse ofício era apenas uma atividade caricata ou folclórica no interiorzão do país.
Grande número de pequenos jornais do interior também já têm sites na internet, com atualização permanente. Os repórteres já trabalham com câmeras digitais gravando as fotos em disquete e descarregando a imagem direto no computador. Os repórteres, entre uma cobertura e outra, são acionados pelo celular. O mais curioso e inusitado é que, apesar de estarem no interior, esses jornais falam pouco ou quase nada da área rural. Quando muito noticiam o início da safra nas usinas de açúcar e álcool ou a construção de pontes nos chamados "bairros rurais". Na verdade são jornais que procuram "substituir" a "segunda leitura", isto é, tentam evitar que o assinante seja obrigado a assinar o jornal do grande centro, bem mais caro, para ficar bem-informado. Daí a publicação de páginas com assuntos nacionais e internacionais, em vez de dedicar espaço aos assuntos da zona rural.
"Jornalismo de caverna"
Outra explicação seria o acentuado processo de urbanização que tirou o homem do campo a partir das décadas de 50 e 60, conforme dados do IBGE, não havendo público para ler o jornal na zona rural – além de ser mais difícil a cobertura e a distribuição posterior do jornal. O pensamento que norteia estes veículos e que lhes dá uma tonalidade urbana, apesar de estarem no interior, é que donos de sítios e fazendas que ainda exploram atividades rurais, na verdade, vivem e moram nas pequenas cidades onde o jornal circula. Daí a preocupação em encerrar a distribuição do jornal diário antes das 7 da manhã, antes que o leitor pegue sua camioneta para ir trabalhar.
Outro fenômeno "urbano" dos jornais do interior é o sistema de impressão a cores, que está chegando rapidamente às cidades de 100 mil habitantes, provocando o surgimento de novos cadernos que, naturalmente, exigem profissionais especializados, apesar de boa parte do material, tipo "matéria fria", ser fornecida pelas agências de notícia. A maioria desses jornais estrutura suas páginas de modo semelhante à diagramação dos grandes jornais, com primeira página bem desenhada onde ficam chamadas para as páginas internas, sempre divididas com material opinativo na página 2 e material local a partir da página 3, seguindo-se o noticiário nacional e internacional, a página de lazer com roteiro de filmes, novelas, horóscopo etc., classificados e segundo caderno, num total de 24 páginas aproximadamente. Nas pequenas cidades, com cerca de 50 mil habitantes, o número de páginas é de apenas 10, em média, para os diários e um pouco mais para os semanários.
Na esteira do crescimento dos pequenos jornais estão surgindo numerosos cursos de formação universitária no interior, embora englobando, ainda, profissões assemelhadas como Jornalismo, Publicidade, Relações Públicas e até Turismo. Por sinal, o turismo e a ecologia são temas que estão ganhando espaço no interior, principalmente no interior de São Paulo, com o surgimento dos grandes lagos formados pelas hidrelétricas da Cesp no Rio Tietê e com o crescimento do turismo rural, que aproveita ambientes propícios de antigas fazendas.
Portanto, quem olha dos grandes centros para o jornalismo do interior não deve imaginar que os colegas "do campo" praticam um "jornalismo de caverna", a não ser que se trate da "caverna digital" que acaba isolando os "produtores independentes" em casa (temerosos da insegurança e do trânsito das megalópoles), como observa Ciro Marcondes Filho (Jornalismo fin-de-siècle. São Paulo: Scritta, 1993), e os jornalistas na redação "apurando" pelo telefone, como observa Alberto Dines (O papel do jornal. São Paulo: Summus, 1986).
Jornais e nação
Fazer "jornal de verdade", independentemente de o veículo circular na Avenida Paulista ou em Pirajuí, é um desafio que se impõe aos novos jornalistas que ingressam num mercado altamente desenvolvido do ponto de vista tecnológico. Mas jornal de verdade não se faz apenas usando os mesmos recursos de informática que se usam em Tóquio, Paris ou Nova Iorque, mas produzindo um jornal sério, independente, bem-escrito, bem diagramado.
Alberto Dines (1986) destaca o que significa ser "independente" para um jornal: "Um grande jornal deve comportar-se sempre como se fosse um pequeno jornal. Não apenas por uma questão de humildade, mas também em função da preservação de seus princípios. Toda vez que um dirigente de jornal, ou alguém do escalão que o represente, disser, em tom de desculpa, ‘afinal, há grandes interesses em jogo…’, significa que estamos num grande jornal que já se esqueceu dos dias em que foi pequeno".
Embora o jornal do interior vise lucro como qualquer outra empresa, ele não é uma empresa qualquer. Se tentar ser, isto é, se o seu objetivo for somente o lucro, então será uma "picaretagem" a mais, sem credibilidade, uma empresa que usa o nome de jornal mas que também poderia se chamar catálogo, folheto, lista de palavras ou qualquer coisa assim. Para ter o direito de ser chamado de "jornalzinho" (não no sentido pejorativo, mas na conotação de cálido, próximo da gente, gente de casa – como se fosse um amigo ou um irmão mais velho em quem a gente confia com segurança) o pequeno jornal do interior precisa ser grande como os maiores títulos do mundo em ética, boa apuração, bom texto, isenção e independência.
Dines também lembra que em qualquer lugar do mundo "o único compromisso de jornais e jornalistas é com a informação. Seu empenho nesta tarefa faz, de um jornal qualquer, um jornal livre, logo um grande jornal. Uma nação de grandes jornais é uma grande nação. Sem este valor intrínseco, sem este quilate que advém de um entendimento superior das suas funções, um jornal, por melhor que seja organizado e construído, será apenas um catálogo de notícias".
(*) Professor MS de Jornalismo Comunitário na Unesp/Bauru; diretor por 18 anos do Jornal Interior, de Penápolis-SP. Site: <planeta.terra.com.br/educacao/pedrocampos>