Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O país de um poeta só

Oscar Araripe (*)

Gilberto Mendonça Teles. Todo mundo já ouviu falar. Mas, ouviu o que ele fala? Bem, eu tive a honra de recebê-lo em minha casa em Tiradentes, e ganhei autografado seu belíssimo livro de poemas, Álibis, que ele acabou de lançar pela Sucesso Pocket. Ele é muito bom. Todo mundo sabe disto. Sua cultura é refinada e sensual, suas idéias libertárias são poemas muito verdadeiros. Ele consegue ser másculo num tempo de flebizados, ser atual sem ser moderno nem pós, tem um vanguardismo clássico, uma beleza reveladora e eterna.

Pois bem, li seu pequeno grande livro de um fôlego só, abraçado pela noite linda de Tiradentes e fiquei ali restado de incontáveis impressões impressas para toda a vida. Seus poemas franceses vivíssimos e acurados, seu erótico limpíssimo, seu humor quase terror e tantas outras impressões inesquecíveis.

Mas, uma coisa chamou minha atenção em especial. Lá pelas tantas ele fala de uma imprensa que fez do Brasil um país de um só poeta. Ou de um poeta só, se preferirem. Um país de um só poeta, de um só escritor, de um só arquiteto, de um só jogador de futebol e, no momento, de um só tenista. É como se o sublinhado, uma vez sublinhado, não pudesse mais deixar de ser sublinhado. Um paradoxo, portanto, já que a notícia é nova por definição.

É claro que vão dizer que não é bem assim, que existe o poeta tal e o tal poeta, mas o que vai ficar é isto. Uma imprensa que fez um país pobre de um só poeta.

Imediatamente, tais mazelas são acreditadas como produto de lobbismos, corrupção, influências traficadas etc. O que é verdade.

Contudo, a internet, este maná que caiu dos céus para o artista independente, vem mostrando claramente, também, como era curta e enrugada a Grande e Pequena Imprensa. Hoje, uma simples submission a um bom site de busca, em muitos sentidos, vale mais como registro que uma citação na bibliografia do Aurélio. Quem diria!

De modo que eis aí uma saída para a imprensa. Isto é, se deixar de ser imprensa. Tarefa, aliás, nem tão difícil, já que há muito a imprensa deixou de ser imprensa.

Um seminário, pois, sobre a imprensa de um só poeta!

Ouçamos os poetas!

(*) Sítio: <www.oscarararipe.cjb.net>