QUALIDADE NA TV
TV INTELIGENTE
"O poder de ‘pensar a TV’", copyright O Estado de S. Paulo, 12/11/00
"Notícia alvissareira partiu da imperial Petrópolis, na serra fluminense, onde por instantes o brilho do passado cedeu espaço às telas luminosas do presente. Durante evento organizado por cientistas sociais no fim de outubro, a propósito dos 50 anos da televisão brasileira, o País foi informado de que um grupo de atores, diretores e roteiristas de grande expressão vem se reunindo regularmente para discutir a TV aberta e a qualidade de sua programação. Regina Casé, Marcelo Tas, Hermano Vianna, Pedro Cardoso, Guel Arraes, João Moreira Salles, Jorge Furtado e Cacá Diegues são alguns desses nomes, todos com inquestionável contribuição às artes e à cultura. Estão em busca de uma programação ‘mais inteligente’ para a TV, que consiga ser tão atraente quanto as atrações popularescas apelativas.
‘Atualmente, pensar a TV como um todo é mais importante do que fazer’, disse Regina Casé, ao ler um texto sobre o papel da mídia que foi classificado por ela mesma como um manifesto do grupo. A frase, sensata, revela que os realizadores mais conscientes da televisão não estão assistindo impassíveis ao que alguns embaladores de lixo têm levado ao ar. Mas melhor do que o conceito é o gesto do grupo, de apresentar-se ao debate público com a autoridade de quem produz o melhor audiovisual brasileiro. Sua intervenção ainda é tímida, mas augura-se que ele supere as amarras do corporativismo e da disciplina funcional, expressando com clareza as divergências com aqueles colegas e patrões que apostam nos lucros da mediocridade, ou, pior ainda, da vulgaridade e da baixeza.
Estava mesmo faltando a palavra crítica dos artistas na polêmica nacional sobre o nível da TV. Era estranho e incômodo o seu silêncio coletivo, a despeito de um ou outro comentário pessoal, isolado. Sobretudo para os espectadores mais experientes, que testemunharam a forte presença da classe em tantos momentos importantes do país, como os anos pré-golpe de 1964, os combates político-culturais de 1968 e a luta contra o regime militar. Até então, falavam em favor de mais qualidade no vídeo os próprios telespectadores, nas mais variadas manifestações de protesto; jornalistas, professores e críticos, de suas tribunas na mídia; e grupos de pressão, como o TVer e outras ONGs. Mesmo no Parlamento, tão dócil diante do poder da televisão, ouviam-se mais restrições ao que se passa na telinha do que da voz dos artistas. Agora, isso parece que vai mudar.
A importância dessa adesão está no fato de que só a pressão da opinião pública pode mudar a TV – e ninguém é capaz de mobilizá-la melhor que os artistas, aos quais ela se devota com tanta paixão. Em entrevista recente à série TV 50, da TV Cultura, o dono da Rede Bandeirantes, Johnny Saad indicou o que o telespectador deve fazer quando não gostar de um programa: ‘Proteste. Escreva ao patrocinador. Reclame com ele, diga que não vai mais comprar o produto dele. A televisão comercial não pode contrariar o público e o patrocinador’. A bola está com a sociedade. É bom saber que os nossos melhores artistas também estão no jogo. (Gabriel Priolli é jornalista, professor universitário e diretor da TV PUC)"
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