MÍDIA-MÃE
Osvaldo Martins (*)
As eleições deste ano são um exemplo a mais a reforçar a tese de que os jornais diários e as revistas semanais constituem-se no campo de observação mais seguro dos pesquisadores interessados em aferir o impacto da informação na opinião pública. A revista Época que circulou dia 7 de outubro, exibe parte da pesquisa do Instituto Brasileiro de Estudos de Comunicação (IBEC) nos dez veículos impressos mais influentes do país, ressaltando a equanimidade de cada um deles em relação aos candidatos a presidente. Mas há outros itens nesse trabalho que não foram revelados.
Durante 273 dias, desde o início de janeiro até às vésperas da eleição, o IBEC analisou todas as matérias dos jornais e revistas sobre as quatro principais candidaturas, aferindo os impactos positivos e negativos causados por seus conteúdos. Ao longo do período, as curvas ascendentes e descendentes resultantes desse estudo antecipam com enorme precisão a variação dos percentuais de intenções de voto divulgados dias depois pelos institutos de pesquisas, comprovando o poder da mídia impressa como formadora de opinião.
A primeira curva a despencar no índice IBEC foi a da candidatura de Roseana Sarney, nos dois dias seguintes à ação da Polícia Federal na empresa da ex-governadora e seu marido. Já se sabia, então, que as pretensões eleitorais de Roseana começavam a virar pó. Uma semana depois, Ibope e Datafolha confirmavam a dèbacle.
Assim ocorreu também durante o período de ascensão de Ciro Gomes e, posteriormente, quando sua candidatura começou a descer a ladeira. Os índices IBEC atestavam esses movimentos, sempre corroborados dias após pelos institutos de pesquisas.
Na semana final, quando Garotinho ameaçava conquistar o segundo lugar, e os institutos não arriscavam um prognóstico seguro, mais uma vez o IBEC, com base em seus estudos de conteúdos da mídia impressa, bancou a presença de Serra no segundo turno, disputando com Lula. Todas essas informações estavam disponíveis, durante meses, nos sítios do Observatório da Imprensa, da Transparência Brasil e do próprio IBEC ? e continuam no ar, agora com os movimentos do segundo turno.
Informação e credibilidade
Desde o final do século 19, muitos jornais brasileiros nasceram para trombetear ideais políticos, na condição de porta-vozes de movimentos como o Abolicionismo e a República ou, no caso do Jornal do Brasil, a Monarquia. Ao longo do século 20, os jornais constituíram-se na mídia política por excelência ? e o advento do rádio e da televisão, e agora da internet, não tirou do papel impresso essa primazia.
A razão dessa supremacia não se deve atribuir apenas à volatilidade dos meios eletrônicos. Há outras, como por exemplo a maior diversidade de abordagens que o meio impresso oferece aos seus leitores. No jornal pode-se encontrar foto, legenda, título, subtítulo, notícia, comentário, artigo, editorial, coluna política, charge, ilustrações, gráficos, pequenas notas ? e até mesmo ler ocultas intenções nas entrelinhas. Em caso de dúvida, lê-se outra vez, e outra mais, e até se deixa de lado para ler mais, depois. O mesmo vale para a revista.
E o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, não é ele o mais poderoso instrumento a influir na decisão de escolha de um candidato? Sim e não. A televisão, principalmente, permite um impacto emocional instantâneo, mas não necessariamente duradouro. Na televisão os programas são gravados, o que, no inconsciente do espectador, os remete ao campo da ficção, semelhante ao da publicidade.
A concorrer com a perfeição técnica ficcional dos programas eleitorais na TV estão os fatos do cotidiano ? e aí a mídia impressa nada de braçada. O jornalismo dos jornais e revistas é mais competente, mais volumoso, mais variado e mais confiável. Esse jornalismo pauta mais o telejornalismo e o radiojornalismo do que por eles é pautado. E, sem dúvida, revelações e denúncias eventualmente veiculadas no horário gratuito só tomam corpo quando amplificadas pelo meio impresso.
O “quem pauta quem” nem é muito importante hoje em dia. A pauta gira 24 horas por dia, os meios e veículos se alimentam uns nos outros e em geral fica diluída a importância da precedência da informação. No dia-a-dia da cobertura política, o furo tomado pode ser dissimulado minutos depois ? e até mesmo no dia seguinte, agregando informações novas.
Conclusão: toda a massa de informações veiculada por todos os meios e veículos nasce na mídia impressa ou converge naturalmente para ela, e só então é devidamente “credibilizada”, passando, aí sim, a formar opiniões. A correção das análises do IBEC, atestadas posteriormente pelos institutos de pesquisas, confirma plenamente o que sempre se soube ? que a mídia impressa é a mãe de todas as mídias.
(*) Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos de Comunicação (IBEC)
Leia também