Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O povo aceita sugestões

NEOLOGISMOS

Roldão Simas Filho (*)

Mylton Severiano, em "Lei não pega na língua", na revista Caros Amigos de 5/9/03, transcrito no Observatório da Imprensa do dia 16, tece várias considerações sobre o abuso de termos ingleses no uso quotidiano. Cita Castro Lopes, que propôs inúmeros neologismos (Neologismos indispensáveis, Rio, 1889 e 1909, 2? ed.) e limita-se a mencionar os que não ?pegaram?. Conclui dizendo: "Pobre Castro Lopes, não emplacou uma. O que parece faltar a esses quixotes é compreender que só o povo manda na língua. Mas merecem todos nossa compreensão."

Na verdade, vários neologismos propostos por Castro Lopes foram incorporados ao uso corrente no Brasil. Cito alguns dos mais conhecidos: cardápio, pré-estréia, encenação, postar (cartas) e retroagir.

Absurdo diário

O povo aceita sugestões, sim. Outro exemplo foi o esforço do locutor esportivo Oduvaldo Cozzi que, no fim da década de 1940, criou todo um vocabulário brasileiro para o foot ball, quase todo adotado em substituição aos equivalentes ingleses. Eis alguns deles: escanteio (corner), zagueiro (back), médio (half), centro-avante (center forward), falta (foul), impedimento (off side). Alguns realmente não pegaram, como arqueiro (goal keeper, que virou goleiro e em Portugal é guarda-redes), finta (drible), tento (goal, que foi aportuguesado como gol), falta máxima (penalty, que se aportuguesou pênalti).

Nem sempre precisamos aportuguesar. Cria-se um neologismo. Um bom exemplo, parece que espontâneo, é o de secretária eletrônica, uma invenção brasileira.

O que precisa ser combatido é o abandono dos termos vernáculos pelos ingleses, um absurdo total que ocorre diariamente. Em vez de folheto estamos usando folder. Banner em vez de flâmula, estandarte. Freezer no lugar de congelador. Ticket em vez de bilhete, vale, passagem, entrada, nota, canhoto, talão e até do aportuguesado cupom. Cantina virou cafeteria. Estojo é kit. Um supermercado diz que tem orgulho de ser brasileiro, mas cria um serviço de delivery. E por aí vai. Como combater eficazmente? Além da ajuda, acima mencionada, todo um trabalho de aumento do amor próprio brasileiro.

(*) Jornalista

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