Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O preço da cobertura

NO FRONT

Até 28 de setembro, mais de 200 jornalistas estavam na lista de espera dos rebeldes afegãos para a viagem de helicóptero rumo ao sul, do Tajiquistão ao norte do Afeganistão, área controlada pelos rebeldes afegãos da Aliança do Norte, onde já estão mais de 60 repórteres. Um grupo de jornalistas tentou uma incursão ao leste, pela fronteira do Afeganistão com o Paquistão ? inclusive duas profissionais da BBC, usando burqas, o traje feminino local. A repórter inglesa Yvonne Ridley, 43 anos, do Sunday Express, tentando o mesmo truque, foi presa pelo Talibã [ver a próxima matéria]. Uma grande equipe da NBC perdeu quatro dos seis carros de seu comboio devido às estradas esburacadas.

Tudo indica que haverá guerra sem campo de batalha definido. Segundo Felicity Barringer e Jim Rutenberg [The New York Times, 1/10/01], tecnologias caras serão usadas para transmissão via satélite ? pagas por veículos de mídia já fragilizados pela queda da publicidade. E o pior é que os repórteres que chegam ao norte do Afeganistão encaram tempestades de areia que podem destruir suas caríssimas câmeras. Soma-se a isso a incerteza sobre a segurança, particularmente quando se concretizar a incursão americana.

O preço da cobertura desse conflito amorfo engloba vários elementos. A passagem aérea em classe econômica para o Paquistão custa US$ 3.133. A diária de quartos no Islamabad Marriott custa cerca de US$ 235. Transporte e instalação de equipamentos variam de US$ 50 mil a US$ 70 mil para cada um ? e no mínimo o mesmo valor por semana para a manutenção. As taxas de transmissão de imagens e notícias podem chegar a US$ 2 mil por 15 minutos em áreas remotas, e cada equipe necessitará de tradutores.

A publicidade já definhava antes de 11 de setembro. Na primeira semana após os ataques, as TVs americanas renunciaram a milhões de dólares em faturamento com anúncios ao cancelar comerciais para transmitir os acontecimentos. Veículos impressos fizeram especiais e edições mais gordas sem patrocínio.

Apesar disso, preocupações financeiras não são a prioridade na mídia americana. Mais de 1 mil jornalistas já estão no Oriente Médio, no sul da Ásia Central e em áreas próximas a bases militares nos EUA e na Europa. Os editores da cobertura da nova guerra temem mais a falta de independência dos repórteres do que os problemas de dinheiro.

    
    
                     

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