Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que a mídia quer mostrar

IRAQUE PÓS-GUERRA

Quem acompanha a guerra no Iraque e seus desdobramentos pela mídia americana não consegue entender o que se passa realmente por lá. As opiniões e reportagens vindas de Bagdá divergem tanto que muitos jornalistas nem parecem estar no mesmo local. Alguns dão entonação de recuperação, com o Exército americano progredindo em restabelecer as estruturas do país. Outros descrevem um cenário bem mais degradado, em que bombardeios, emboscadas e roubos são regra, não exceção.

Pelo menos, de acordo com Peter Johnson [USA Today, 23/9/03], em uma coisa os jornalistas concordam: más notícias vendem, ao contrário das boas. "É a natureza de nosso negócio", disse Brian Bennett, da Time. "O que dá manchete é o soldado que foi baleado, não os americanos que estão reconstruindo uma escola."

Mas Bennett também vê uma cidade onde restaurantes estão reabrindo diariamente, mulheres se sentem cada vez mais seguras saindo para fazer compras e ações policiais não são tão hostis. "Meus vizinhos são legais", afirmou. "Minha rua é muito calma."

Algumas semanas atrás, Bennett visitou os EUA e constatou que o Iraque em que vive não é o mesmo que imaginam os americanos, munidos de informações dadas pela mídia. Por isso Bennett resolveu escrever sobre a melhora no cenário iraquiano.

Nic Robertson, correspondente da CNN, discorda. Para ele, o quadro está bem pior que o reportado pela coalizão e há grande resistência aos EUA e seus aliados. Alissa Rubin, do Los Angeles Times, afirma que os jornalistas tendem a "fazer reportagens em áreas mais problemáticas, porque o meio noticioso quase exige isso". "Mas as matérias não refletem toda a história", disse.

Há que se considerar que o Iraque é um país pós-guerra. Qualquer um nessa situação "fica em estado caótico por um ou dois anos", afirmou Bob Arnot, da MSNBC. "Contrasto o entusiasmo contagioso que vejo aqui com as notícias na TV e me pergunto se estamos no mesmo país."