Palestinos não entenderam por quê, no dia 15 de junho, a coluna regular de Maher Alami não foi publicada no jornal Al-Istiqlal. Em seu lugar estava a foto do colunista com barras de prisão superpostas a seu rosto, com uma nota explicativa: “O jornalista Maher Alami desculpa-se por não escrever sua coluna ‘Considerações finais’ nesta semana. Aparentemente, ela começou a incomodar algumas pessoas”.
Ao ser preso, na semana anterior, Alami foi informado de que Yasser Arafat ordenou pessoalmente sua detenção, aparentemente porque chamou atenção a corrupções do governo, criticando o fechamento de emissoras de TV e alardeando a greve de professores que já dura meses.
De acordo com matéria de Lee Hockstader [The Washington Post, 16/6/00], o jornalista não foi acusado de um crime, mas, como outros críticos palestinos proeminentes, foi persistente demais, sabendo as regras de Arafat.
A repressão a que jornalistas e comentaristas palestinos vêm sendo submetidos coincide com o impulso final para se chegar a um acordo de paz com Israel. “Se as vozes da repressão ficarem cada vez mais altas, haverá dificuldades para assinar um acordo final”, disse Bassem Eid, diretor de um grupo de Direitos Humanos palestino baseado em Jerusalém.
Essa prática, cujo objetivo é fazer com que jornalistas se auto-censurem, é comum sob o domínio de Arafat – de acordo com analistas e ativistas palestinos dos direitos humanos. Prendendo apenas alguns críticos, silencia-se os outros. Ultimamente, contudo, autoridades têm sido menos seletivas: apesar de a lei garantir liberdade de expressão e independência da imprensa, policiais palestinos invadiram e fecharam uma emissora de TV e uma de rádio, ambas privadas, há cerca de três semanas. No dia seguinte, a polícia fechou outra emissora de TV privada, Al-Mahed, prendendo seu dono, Samir Qumsiyya, líder da associação de emissoras privadas palestinas. Na mesma época, a polícia deteve Fathi Barqawi, diretor de outra rádio palestina.
“Basicamente, não aceitam críticas”, afirmou Mohammed Najib, jornalista palestino que dirige um grupo independente de mídia chamado Free Voice. “Pagamos por nossas liberdades com rios de sangue nos últimos 30 anos. Não nos sacrificamos pela polícia federal. Queremos uma democracia tão dinâmica quanto a de nosso vizinho, Israel”, disse Khaled Amayreh, jornalista palestino.
Oficiais palestinos tendem a não comentar as detenções, particularmente quando as acusações não têm fundamento. Recentemente, o general Abdul Fattah Jaidy, chefe de segurança pública, deixou claro que não hesitará em punir críticos incômodos. “Sempre que a mídia tentar criar algum tipo de ansiedade e depois transmiti-la ao público, tentaremos precavê-la”, disse. “Se ultrapasssar o limite, pararemos o veículo”. Segundo ele, raramente o fechamento de uma emissora de TV é permanente. “Queremos apenas supervisioná-la, guiá-la”, afirmou.