Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O relatório do Comitê Siegal

THE NEW YORK TIMES

Vinte e oito cabeças do próprio jornal e três outsiders trabalharam incessantemente por 11 semanas até entregarem três relatórios, num total de 90 páginas, que devem dar uma guinada nas práticas de administração da redação do New York Times. O comitê de Al Siegal, editor-adjunto, deu especial atenção, no relatório principal [ver link da íntegra abaixo], à criação de três novos cargos na alta cúpula da redação: um editor público (ou ombudsman), um editor de padrões (envolvido na produção diária do jornal) e um editor de equipe (uma espécie de jornalista de RH na redação).

** O editor público terá papel duplo, interno e externo: ouvirá o leitor e criticará o material produzido pela redação, podendo, se quiser, publicar seus comentários nas páginas do jornal.

** O editor de padrões (standards editor, em inglês), além de zelar pela linha editorial do jornal e pela qualidade das reportagens, será um “guardião interno”, a quem a redação poderá recorrer para “se informar sobre o jornalismo atual e planejado” do Times. Além disso, o editor de padrões coordenará programas de treinamento a partir da linha editorial do jornal, abarcando tópicos como precisão, ética e integridade. Deverá, também, garantir o funcionamento do sistema de “rastreamento de erros”.

** O editor de equipe e desenvolvimento de carreiras deverá assegurar um sistema transparente e consistente de recrutamento, contratação e treinamento. Também será um conselheiro profissional interno e garantirá a manutenção da diversidade na redação.

Não houve acanhamento em reconhecer os graves problemas de administração que assolaram a redação do Times. O relatório fala disso sem pudores, ressaltando a necessidade de o jornal “ser conspicuamente responsável perante leitores e público.”

Um dos informes foi escrito por três jornalistas de fora do Times ? os outsiders Louis D. Boccardi, ex-presidente da Associated Press; Joann Byrd, ex-editora de editoriais do Seattle Post-Intelligencer; e Roger Wilkins, professor de História e Cultura Americana na George Mason University e ex-colunista do Times ? foi duro na crítica à cultura e à administração da redação. “Não há uma única pessoa, um erro ou uma política responsável pelo dano causado pelo plágio e pela ficção que marcou o jornalismo do New York Times“, escreveram os três, a partir de entrevistas com muitas pessoas que supervisionaram a carreira de Jayson Blair. “Uma série de desastres da administração tornou possível a um repórter júnior de 20 e poucos anos passar a perna na rede de editores de jornal mais capaz e sofisticada do mundo.”

“Por trás da história de Blair”, escreveram, “jaz um padrão errôneo de supervisão acirrada e perdão leniente que levaram a sua permanência e até a sua promoção, quando em muitos pontos ele demonstrava não estar preparado para entrar na equipe do New York Times.”

A adoção de um ombudsman rompe com a tradição de 151 anos da old grey lady de se autopoliciar sem os palpites do público. Apesar de o cargo existir em cerca de 40 jornais americanos, o Times “resistiu tradicionalmente” à sugestão que agora acata, escreveu Keller em seu memorando interno.

O relatório do comitê também lembra que de nada adianta uma ótima administração se não se tem uma ótima comunicação interna. “É uma lição que tiramos de toda essa história”, afirma o relatório. Todas as propostas implicam gastos, mas o comitê acha que, na verdade, trata-se de um “investimento de rápido retorno”.

Uma das recomendações propostas foi a criação (ou delimitação mais clara) de um posto dedicado à comunicação interna, tanto vertical (entre diferentes níveis de poder na redação) quanto horizontal (entre colegas de mesmo nível). Pessoas em cargos de chefia devem ter seu papel bem claro e autoridade real. A comunicação deve ser fortemente estimulada; se houver dificuldades de comunicação, deve haver um treinamento para eliminar o problema.

O comitê submeteu suas conclusões a Bill Keller no fim da semana retrasada, e o novo editor, além de aprovar a maioria das sugestões, decidiu divulgar ao público a íntegra do relatório na quarta-feira.

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Íntegra do relatório do Comitê Siegal em formato PDF [em inglês]