JOGO DE XADREZ
A mídia dos EUA está se mobilizando rapidamente para cobrir uma guerra que já prevê participação de diversos países. O público americano, ao mesmo tempo, está ansioso para testemunhar as hostilidades depois de a maioria ter acompanhado com os próprios olhos os ataques terroristas.
ABC, CBS, CNN, Fox News Channel, NBC/MSNBC e diversas organizações noticiosas espalhadas pelo mundo trabalham para estar mais bem posicionadas no momento exato em que a guerra estourar ? se estourar. Segundo Elizabeth Jensen e Dana Calvo [The Los Angeles Times, 23/9/01], já providenciam pedidos de vistos, reservam lugar em vôos com espaço limitado e até fretam aviões.
Durante as primeiras 12 horas após os ataques de 11 de setembro, muitas emissoras americanas compartilharam vídeos, mas esse certamente não será o caso na guerra, quando ter as melhores imagens será crucial no mercado televisivo altamente competitivo. Ainda era manhã no dia 22 de setembro quando a CNN começou a transmitir imagens nítidas de dentro do território afegão, graças a uma ferramenta de captação via satélite capaz de operar em áreas remotas. Foi um avanço para a emissora, que até então só transmitia por videofone, tecnologia nem sempre confiável.
O processo de transporte do equipamento é caro, trabalhoso e perigoso, pela proximidade do front. Os altos investimentos da CNN na região são um palpite de que a ação militar americana se concentraria em áreas controladas pelo Talibã, onde Osama bin Laden, terrorista suspeito de liderar os ataques, está baseado. "Nosso maior problema é saber quando algo vai acontecer e se o evento poderá ser filmado", disse Marcy McGinnis, vice-presidente de notícias da CBS News.
A situação de guerra faz com que as emissoras de TV percam o que lhes foi mais marcante desde os ataques terroristas: a capacidade de serem instantâneas e realistas. Nenhuma organização noticiosa sabe quais os planos das forças armadas americanas. Assim, executivos da mídia tentam mobilizar o maior número de correspondentes para os locais mais estratégicos, como se estivessem num gigantesco jogo de xadrez. Enfrentarão, ainda, outras questões de tirar o sono, como orçamento apertado e impossibilidade de definir quanto tempo durará a batalha.
Os jornais temem a interferência do governo americano na cobertura da guerra. "Sempre espero o melhor", diz Howell Raines, editor-executivo do New York Times, "mas minhas expectativas são de que esse governo será tão restritivo quanto o do outro Bush ao limitar acesso a campos de batalha e ao tentar controlar o fluxo de quaisquer informações do Pentágono". Bush pai, a que Raines se refere, era presidente dos EUA durante a Guerra do Golfo, em 1991.
Leonard Downie, editor-executivo do Washington Post, teme a possível "má vontade do governo de dar a jornalistas acesso às tropas além-mar". De acordo com David Shaw [The Los Angeles Times, 25/9/01], numa guerra contra terroristas em terras isoladas e distantes, em que alcançar o sucesso militar será mais difícil que na Guerra do Golfo, jornalistas receiam que o Pentágono fique ainda mais relutante em permitir o acesso da mídia.
Para que jornalistas e militares se sintam à vontade uns com os outros, Clark Hoyt, editor da Knight Ridder em Washington, convidou diversas organizações noticiosas para um encontro com Torie Clarke, porta-voz do Pentágono. Na reunião, será discutida a melhor forma de garantir que a mídia não seja impedida de fazer seu trabalho.
A mídia impressa dos EUA terá grandes problemas financeiros. A economia continua em queda depois dos ataques terroristas, agravando a situação de um mercado publicitário que já mancava. Até agora, a maioria dos jornais tem gastado todo o dinheiro necessário para produzir material sobre os ataques e seus desdobramentos ? publicando suplementos extras e edições mais gordas. No futuro, um pool entre os veículos será necessário para conter os gastos. Uma situação assim é problemática porque diminui a competição e a diversidade de ângulos de cobertura. Mesmo não sendo o ideal, é melhor que nada.