Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O tatu saiu da toca

MÍDIA GAÚCHA

Agnaldo Charoy Dias (*)

Fiquei muito feliz por encontrar neste OI os textos de Alceu Garcia, Percival Puggina e Paulo Barreto, tentando explicar sua posição em relação à condenação dos jornalistas (sic!) José Barrionuevo e Marcelo Rech, de Zero Hora. Feliz porque a direita dificilmente se expõe da maneira como eles o fizeram naqueles textos, em especial o Sr. Alceu Garcia.

Em primeiro lugar, gostaria de me referir a uma suposta incoerência deste OI (ou de seus freqüentadores) em denunciar uma certa "censura" no caso Garotinho versus Carta Capital e aplaudir a condenação de Barrionuevo e Rech.

Sobre o caso Garotinho/Carta Capital, faço minhas as palavras do Sr. Evandro Ximenes. Considero legítimo que a Justiça resguarde os interesses das pessoas que possam, eventualmente, ser prejudicadas por matéria a ser publicada. Lembro de um caso de um casal proprietário de uma creche que havia sido denunciado por abuso sexual contra as crianças. Mais tarde, soube-se que eram denúncias vazias de um desafeto daquelas pessoas, mas a matéria foi veiculada e os acusados foram obrigados a mudar de cidade, temendo linchamento. Não há dinheiro que repare tal dano. Outros exemplos podem ser enumerados. Lembram de quando a RBS acusou José Paulo Bisol, então vice de Lula, de ter tomado empréstimos irregulares para a compra de uma fazenda? Pois é, a RBS foi condenada a pagar indenização milionária a Bisol, mas o dinheiro não repõe aquela oportunidade ímpar que José Paulo teve em sua vida.

Mas Alceu Garcia vai mais longe. Diz ele que "a propriedade privada é condição de possibilidade do jornalismo". É verdade, mas o seu jornalismo não é o mesmo nosso. É engraçado, para não dizer ridículo, ele afirmar que o OI é parcial. Gostaria de saber se os senhores Barrionuevo e Marcelo Rech permitem na Zero Hora uma discussão política no mesmo nível que a proporcionada pelo OI.

E ele vai aind mais longe: acusa o PT de querer politizar "absolutamente toda a realidade". Essa meu deu uma convulsão cerebral. Há, há, há! Como assim? Não interessa politizar a sociedade? Estes senhores querem que passemos nossos dias falando de culinária, futebol e outras baboseiras? Imagino que ele tenha razão: "Numa sociedade totalmente politizada não há espaço para a liberdade, nem para a propriedade e ipso facto muito menos para o jornalismo". De fato, principalmente para a propriedade privada dos meios de produção, para a liberdade modelo Tio Sam e para o jornalismo marrom e fuxiqueiro.

Tatu que sai da toca quer chumbo, diz o ditado.

(*) Jornalista

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