Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O terror visto de perto

CBS

Na véspera do aniversário de seis meses dos ataques ao World Trade Center a rede CBS levará ao ar especial de duas horas com imagens de dentro do complexo antes da destruição. As imagens, que provavelmente são únicas, foram gravadas pelos irmãos franceses Gedeon e Jules Naudet, que faziam um documentário sobre os bombeiros nova-iorquinos no momento do incidente, e conseguiram registrar imagens do primeiro avião que se chocou com as torres. Logo depois, correram para o WTC, dividindo-se: Jules entrou, e Gedeon ficou fazendo externas. Por um tempo, um ficou sem saber se o outro estava vivo.

A direção da CBS, que não divulga quanto pagou pelas imagens, afirma que críticos avaliarão se o conteúdo é adequado. Não se sabe se o documentário mostrará pessoas que não conseguiram escapar, o que afetaria suas famílias. Susan Zirinsky, produtora da CBS, garante que as cenas "são abomináveis, mas não são difíceis de assistir". Os irmãos Naudet disseram esperar que a transmissão seja aproveitada para levantar dinheiro para as famílias dos bombeiros mortos em 11 de setembro.

Segundo David Bauder [AP, 5/2/02], este é o segundo grande documentário sobre os ataques terroristas anunciado recentemente. A HBO exibirá no dia 26/5 vídeo sobre os atentados e suas conseqüências a partir do ponto de vista de Rudolph Giuliani, então prefeito de Nova York.

NIGÉRIA

Quantos africanos têm que morrer para que a notícia ganhe primeira página? A pergunta foi de James Warren, vice-editor administrativo do Chicago Tribune, em reunião de pauta do jornal. Warren argumentou, sozinho e sem sucesso, que a morte de centenas de pessoas em Lagos, na Nigéria, causada pela explosão de um paiol militar, deveria ser destaque na edição de 29 de janeiro. Segundo ele, o veículo publica rotineiramente chamadas sobre o Oriente Médio, mesmo quando apenas uma pessoa foi morta.

Don Wycliff, colunista do Tribune [7/2/02], discorda do colega alegando que, por ser limitada, a primeira página deve priorizar histórias que "envolvam o leitor como cidadão", com ações e decisões oficiais que o público precisa saber para exercer seus direitos e deveres. O critério também se aplicaria a notícias do Oriente Médio, "onde o controverso envolvimento dos EUA significa que qualquer ação pode ter efeitos aqui". Num dia menos "agitado", o desastre na Nigéria mereceria a primeira página, defende Wycliff.

Outros veículos da mídia americana parecem ter seguido o mesmo raciocínio. A tragédia não conseguiu "roubar" parte do extenso espaço do horário nobre dedicado ao escândalo Enron. Foi o pior desastre humano desde 11 de setembro, mas os 30 milhões de telespectadores que contam vêem os noticiários das redes ABC, CBS e NBC podem ainda não saber disso, alerta Verne Gay [New York Newsday, 6/2/02]. A catástrofe recebeu apenas menção no CBS Evening News e no World News Tonight, da ABC; o Nightly News, da NBC, ignorou a notícia. Para Gay, isto é resultado de uma década de demissões e cortes nas três maiores redes de TV abertas: elas estão "tão despreparadas para cobrir o globo que não conseguem fazer de uma vez duas grandes matérias fora do Oriente Médio".

A britânica BBC, em comparação, produziu 75 reportagens sobre o caso para seus serviços de rádio e TV desde 27 de janeiro, dia do acidente.