Tuesday, 14 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1320

O vício da velocidade

ACIDENTES JORNALÍSTICOS

Rodrigo Correia Barbosa (*)

Tenho como hobby escrever uma pequena homepage; todos os dias leio os principais jornais da internet e comento as notícias lá. Não raras vezes, ao assistir aos jornais da noite me deparo com notícias que desde a manhã já faziam parte do meu mundo e já estavam em destaque em minha humilde página. Fica a estranha sensação: será que o sujeito que lê a minha homepage está mais bem informado do que o que assiste ao Jornal Nacional?

Não muito tempo atrás era normal pegar o jornal matutino e encontrar um mundo de novidades. Era normal ler o que havia acontecido no dia anterior e sair de casa completamente inteirado das mudanças do ontem. Hoje os jornais impressos têm mais o papel de analisar as notícias do que informar em primeira mão. É muito raro encontrar novidades.

O avanço da tecnologia nos lançou num mundo em que a velocidade de informação vem em primeiro lugar. É a cultura do instantâneo. Muitas vezes não importa a qualidade da informação, e sim a velocidade. Não importa o veículo; pode ser pela internet ou pelo cabo.

Atrás de consistência

Todo veículo que tem capacidade de dar notícia em tempo real o faz. Metade da TV aberta aderiu aos programas "jornalísticos" que ficam a tarde toda de ouvido grudado no "rádio da polícia" para nos trazer ao vivo, direto do helicóptero alugado, imagens do local do acidente. E quando eu digo "acidente" não me refiro aos intermináveis acidentes de trânsito que ocorrem em nossas cidades, mas sim do acidente jornalístico, da falta de escrúpulos e de respeito ao meu senso crítico. De que me interessa saber se a Avenida Paulista está bloqueada por um galho que caiu?

Eu não moro em São Paulo, mas o ibope é medido lá. De que adianta mudar de canal se o medidor de audiência não está em minha TV e o patrocinador nunca saberá que eu prefiro nada assistir a assistir porcaria? De que adianta? A televisão continuará a exibir esse vômito e a única coisa que eu posso fazer é lamentar.

Lembro-me perfeitamente do dia do atentado ao World Trade Center. Todas as redes de televisão que tiveram a oportunidade de mostrar as imagens ao vivo o fizeram, mas ninguém sabia dar a menor pista do que havia realmente acontecido. Imagens de todos os ângulos, vários repórteres narrando o óbvio, mas ninguém se preocupava em procurar saber o que significava tudo aquilo. Todos estavam apenas interessados em conseguir o melhor foco e torcer para que mais um avião batesse num prédio ali, afinal, haveria mais imagens incríveis.

Os meios noticiosos, ultimamente, têm esquecido de um pressuposto básico de toda boa notícia: ir além dos fatos.

A velocidade de informação é muito importante, mas a consistência da notícia é fundamental. Por isso é que eu realmente não acho que o sujeito que acessa minha homepage está mais bem-informado do que o outro que assiste aos jornais da noite. E é por isso que eu continuo comprando jornal impresso, mesmo que seja para ver as mesmas manchetes que eu já vira no dia anterior na internet.

(*) Estudante da UFMG, editor do sítio <www.cintium.hpg.com.br>