A VOZ DOS OUVIDORES
THE WASHINGTON POST
Em sua coluna do dia 13 de maio o ombudsman do Washington Post, Michael Getler, comentou um artigo do jornal publicado na seção "Estilo", no domingo anterior, que lhe pareceu desleal ao leitor. No artigo, a repórter Patrice Gaines parecia reabrir, de forma jornalística, um dos crimes mais horríveis e chocantes ocorridos em Washington: o assassinato de Catherine Fuller, de 48 anos, faxineira e mãe de seis filhos, em outubro de 1984. A polícia concluiu que a vítima havia sido espancada até a morte por integrantes de uma gangue. Patrice dava detalhes, ressaltando a crueldade do crime.
Dez acusados, todos entre 16 e 25 anos, foram para julgamento. Oito foram condenados, dois absolvidos e outros três receberam um relaxamento em suas possíveis punições por colaborar com a resolução do caso.
Depois de narrar os fatos, a repórter falou de como o caso havia consumido a comunidade e ela própria, particularmente, que havia crescido naqueles arredores; a cobertura da história foi uma de suas primeiras tarefas no Post. Isso para ilustrar que sua dose de teimosia e comprometimento com a matéria não seria a mesma de um repórter qualquer. Passou então seis anos investigando o caso. "Eu estava obcecada em provar que eles eram inocentes", escreveu no artigo da semana passada. Ainda hoje, 16 anos depois do acontecido, Patrice se diz afetada pelo fato dos acusados terem sido declarados culpados.
E por quê a obsessão? Quando tinha 21 anos, já mãe, a repórter se tornou usuária de drogas, ladra, e chegou a ficar presa por um tempo; identificava-se com aqueles jovens. No entanto, seu artigo não era sobre sua própria história ou perseguição do caso, mas sim uma nova avaliação em defesa dos acusados. Contudo, após duas páginas ocupadas, sua conclusão dos últimos dois parágrafos é a de que o detector de mentiras levou o examinador à confirmação de que a suposta gangue "tinha algum envolvimento na morte de Catherine Fuller".
O editor da seção, Tom Shroder, disse a Getler que, "embora fosse claramente uma matéria que não prova a inocência de ninguém, foi considerada pouco comum e válida por mostrar a ambigüidade muitas vezes presente em casos criminais", e por revelar a problemática relação entre a paixão e a objetividade de um repórter comprometido com sua reportagem.
Contudo, concluiu Getler, quem leu toda a matéria esperando encontrar ali uma prova da injustiça no sistema criminal do país, sentiu-se traído ao chegar no final e perceber que não havia nenhuma evidente contradição no caso.
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