OLDEMÁRIO TOUGUINHÓ (1934-2003)
(*)
Alberto Dines
Não são muitos: Oldemário foi um dos poucos que incorporou o jornalismo à alma e ao corpo. Seus nervos eram de um jornalista, assim seus olhos, ouvidos, faro e coração. Muito mais do que profissão, muito mais do que ocupação, muito mais do que emprego, o jornalismo foi para Oldemário Touguinho uma questão orgânica e vital. Estado de espírito, forma de ser e de existir.
Não era um jornalista esportivo, mas um jornalista que especializou-se na cobertura de esportes. Isso faz uma enorme diferença. Interessava-se por tudo, atento a todos. Não estava segmentado em cadernos, temas, especialidades, turnos e funções. O jornal era um só, integral, o jornal inteiro estava dentro dele. E jornal para Oldemário era identificado por duas iniciais: JB.
O Jornal do Brasil foi para ele pai, mãe, mulher, filhos. Mimado por Dona Oldema e “seu” Mário, este filho único transferia a todos sua enorme capacidade de gostar. Juntava todos numa enorme família, entregava-se generoso a todas as tarefas e desafios. Formador de equipes, professor por osmose, treinador de talentos, entregavam-lhe um “foca” e dele fazia gente.
Dono de um relógio biológico especial, fechava suas páginas rigorosamente no horário mas só ia para casa alta madrugada, com o jornal impresso debaixo do braço. Devidamente lido e eventualmente anotado. O dia só acabava quando começava a barulheira da rotativa.
E, como se não bastasse, era dono de um texto forte, contundente. Futebol não era só placar, era também drama, emoção que ele passava para o papel com a palavra certa, a frase suficiente. Modesto, dizia que escrevia de ouvido. Errado: escrevia com o coração.
Não foi um homem de jornal mas um jornal com feitio humano.