MÍDIA & GOVERNO
Chico Bruno (*)
Nestes primeiros sete meses as relações entre jornalistas e o governo Lula não foram nada amistosas. Houve muitas trocas de acusações, o governo contrariado com o tratamento recebido pela mídia, a grande maioria dos jornalistas irritada porque o governo privilegia uns poucos.
A situação vem se deteriorando desde as entrevistas exclusivas concedidas à Rede Globo de Televisão após a eleição, e se acirraram com as constantes entrevistas de ministros a programas da emissora.
A grande audiência da Globo sempre foi utilizada pelos governantes. No domingo, 17 de agosto, mais uma vez a fórmula de conveniência foi empregada. O primeiro casal abriu as portas do Planalto, do Alvorada e da Granja do Torto para que os repórteres Pedro Bial e Glória Maria, do Fantástico, mostrassem ao país como convivem no poder Lula e Marisa.
Ambos desfrutaram, num fim de semana, do convívio com o casal. A intimidade presidencial foi exposta ao grande público em detalhes. Nada muito diferente do que já foi feito com outros presidentes desse período pós-ditadura.
A investida presidencial na mídia começou na quinta-feira passada, com um pronunciamento do presidente Lula, em cadeia nacional, com 10 minutos de duração, seguido de entrevista exclusiva à Veja, a revista semanal de maior circulação paga do país, culminando no dominical Fantástico.
Enquanto isso, os demais veículos de comunicação do país vêem a banda passar. Nada contra o direito de escolha do Planalto. Mas seria mais democrático praticar a igualdade de tratamento. Em artigo anterior tratamos desse assunto. Na época, defendemos a regularidade das entrevistas coletivas do presidente à imprensa.
Infelizmente, nada mudou nesse aspecto. Quem sabe, com o correr do tempo, a comunicação social da presidência, premida por uma nova necessidade de se comunicar com a população, adote esse modelo mais democrático de relacionamento com a mídia. Por enquanto, vão se aproveitando dos altos índices de aprovação da imagem de Lula para tocar à moda antiga o relacionamento.
Vale a pena lembrar aos responsáveis pela comunicação presidencial que todos os que se utilizaram dessa estratégia terminaram os seus mandatos presidenciais com baixa popularidade. O único que deixou o Planalto com altos índices de popularidade foi Itamar Franco, coincidentemente o que dispensou tratamento igualitário à imprensa do primeiro ao último minuto do mandato. Não custa nada, de vez em quando, recorrer ao passado para dele tirar lições.
(*) Jornalista