DIPLOMA EM XEQUE
Angelo de Souza (*)
É visível a que servem certos argumentos pela desregulamentação da profissão de jornalista no Brasil, argumentos como os apresentados neste Observatório [edição 201, de 4/12/2002, ver remissões abaixo], vindos de entidades supranacionais e ecléticas como a SIP ou mesmo a insuspeitíssima OEA.
É o mesmo espírito totalizante do liberalismo global, manifesto em leituras estrábicas que embaralham conceitos como liberdade de expressão e controle social do exercício profissional. Olho onipresente a espreitar a chance de fazer da figura do jornalista brasileiro algo mais banal, manipulável e descartável do que, em muitos casos, já é.
O foco da discussão permanece embaçado na condenação ou na defesa de corporativismos anacrônicos, e na proteção de um direito universal em nada arranhado por uma lei, de resto, praticamente inócua (a perder de vista o contingente de estagiários, precários & picaretas em geral, no chapliniano papel de apertadores de parafusos, a reproduzir a engrenagem indomável). Mas o que realmente importa, como diria certo personagem da TV, é a prerrogativa da sociedade de saber a quem responsabilizar ? e a quem parabenizar ? pelos acertos e erros no exercício de uma atividade importante e complexa.
Não se lê nos jornais
Jornalistas com registro, obtido após necessário investimento em específica formação universitária, não podem ser vistos como o mesmo que colaboradores eventuais ou aventureiros serviçais de interesses mesquinhos (entre os quais a própria vaidade, e as conveniências de um patronato tacanho).
Um registro, uma carteira, uma liminar, um parecer. Nada disso define ou qualifica o jornalista. Mas esses papéis e o que está rabiscado neles ajudam a enxergar o que ele não deve ser.
Cada país, cada povo tem a universidade, a imprensa e as leis que fez por merecer. Para merecer um melhor jornalismo é preciso olhar o inimigo do diploma nos olhos e entender o que ele realmente quer. É algo que não se lê nos jornais.
(*) Jornalista, Belém
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