RIO vs. SÃO PAULO
Alberto Dines
As autoridades municipais envolvidas na disputa para sediar a Olimpíada de 2012 “desceram o sarrafo”. Ajudados pelos consortes-governadores do Estado do Rio, que não perdem um bate-boca. Como argumentação, usou-se a violência e o clima de insegurança nas respectivas metrópoles com as indefectíveis alusões à belezura carioca e à grana paulista.
A mídia, nas arquibancadas, adorou. Briga, mesmo entre comadres, é com ela. Prato cheio para os grandes e pequenos colunistas, serviu para mostrar que, em matéria de eqüidistância e objetividade, temos muito a aprender. Serviu, sobretudo, para confirmar uma antiga impressão: não temos uma imprensa verdadeiramente nacional. Folha, Estado e Globo são jornais eminentemente locais com alguma penetração no plano-piloto em Brasília e em algumas regiões metropolitanas.
O engajamento da mídia evidenciou-se não antes da disputa, mas no day after, o dia seguinte: nas edições de 8 de julho, o Globo e JB vibraram com a goleada de 23 a 10 nas primeiras páginas e esparramaram-se com farto noticiário nas internas: o Globo deu um show com um caderno especial e mesmo o combalido JB saiu-se airosamente.
A mídia da paulicéia perdeu a esportiva: magoados, Estadão e Folhão fizeram questão de chutar o evento para escanteio e o colocaram nas distantes páginas esportivas (que às terças-feiras são um sub-caderno). A foto na capa da Folha estava bem destacada mas a do Estadão, no pé da página, borrão irreconhecível, dá uma idéia do estado d?alma dos quatrocentões.
Olimpíada é evento esportivo, mas a disputa entre as duas cidades foi política e econômica, com claras implicações nas eleições de 2004. O deslocamento da cobertura dos jornalões para as páginas desportivas na melhor das hipóteses pode ser vista como opção burocrática e, na pior, como ressentimento bairrista. De uma forma ou de outra, revela a apatia que comanda o processo decisório em nossas redações.
Cidade-candidata escolhida, começa agora outro teste: como se comportará a grande imprensa diante da merecida onda de auto-estima que começa a dominar a quase-ex-Cidade-Maravilhosa? Os editores cariocas vão esconder a violência debaixo do tapete? O propinoduto e as relações do Secretário de Esportes com os traficantes sairão das primeiras páginas? E os editores paulistas, deverão vingar-se dramatizando ainda mais a já dramática situação do Rio?
Aguardem os próximos capítulos: a mídia como telenovela é certamente mais interessante do que como nota de falecimento.