JORNAL NACIONAL
Cláudio Cordovil (*)
Como espectador e cidadão, me senti absolutamente ultrajado pela matéria veiculada no Jornal Nacional (segunda, 8/9) sobre a prova de testes físicos para vagas não-existentes de gari da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), no Rio. A lei da selva neoliberal está espelhada em todo esse épico grotesco da busca de um emprego miserável em que se transformou a novela da pré-seleção da Comlurb.
As vagas sequer existem e pais de família guindados à exclusão têm de manifestar qualificações de atleta para um mísero salário. Uma série de perguntas vêm à mente.
1. Desde quando estes testes são exigidos no Rio de Janeiro para uma não-vaga de gari (é só para compor um banco de dados)?
2. Cabe ação de cidadãos indignados junto ao Ministério Público sobre tamanha humilhação a que são submetidos sedentários excluídos? De que forma proceder?
Não bastasse amargar um desemprego obsceno, os brasileiros agora têm de comprovar capacidades para disputa de Jogos Pan-Americanos se quiserem sustentar miseravelmente suas famílias.
É submeter pessoas vivendo por algum milagre e conservando alguma auto-estima no limite de sua dignidade a mais um opróbrio humilhante, para deleite dos que ainda conservam um emprego de fome.
Onde estão os políticos democratas nesta hora? Fazendo proselitismo contra a pemba que rola no presídio, porque isso dá voto. Censurar a conduta de uma empresa de limpeza urbana que humilha brasileiros é pouco interessante como marketing eleitoral.
Vergonhoso, indecente, escabroso. A matéria do Jornal Nacional, como denúncia, cumpre seu papel; mas poderia avançar nessas questões fascistas-neoliberais. Na Alemanha nazista, o culto ao corpo gerou excrescências semelhantes. Michael Moore adoraria fazer uma visita à Comlurb.
(*) Jornalista